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Por Vilma Gryzinski
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Fala sério, Putin: o real e o delírio no discurso das novas armas

Será que o líder russo virou uma versão ampliada do homenzinho-foguete da Coreia do Norte? Ameaçar os Estados Unidos não costuma ser uma boa política

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h33 - Publicado em 2 mar 2018, 14h01

Imaginem se Donald Trump falasse uma mínima porcentagem do que Vladimir Putin disse no extraordinariamente agressivo discurso que o todo-poderoso russo fez como uma espécie de evento máximo da campanha pela reeleição.

Seria chamado de louco perigoso, belicoso delirante, uma ameaça ao planeta que precisa ser imediatamente afastada do botão nuclear, o metafórico desencadeador do fim do mundo.

O fato de que Trump já seja tratado assim por uma enorme parcela do establishment americano só acrescenta novas dimensões às ameaças diretas que Putin fez com armas que provavelmente nem existem, pelo menos por enquanto.

Teve até vídeo com um míssil movido a energia nuclear enganando todos os sistemas de defesa para explodir bem na Flórida. Tudo animação, mas altamente preocupante pelo histórico.

Da última vez em que armas nucleares russas ameaçaram diretamente a Flórida foi na Crise dos Mísseis Cubanos, em 1962. Embora Fidel Castro quisesse levar o mundo a uma guerra nuclear, Nikita Krushchev acabou recuando e tirando os mísseis instalando às escondidas na ilha, a menos de 150 quilômetros do território americano.

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Fazer bravatas nucleares combina mais com o perfil de Kim Jong-Un, o garoto problema da Coreia do Norte.

Como Putin não sofre de tensão pré-eleitoral, uma vez que a vitória na reeleição já está antecipadamente garantida, o discurso parece um evento bizarro em sua carreira de grão-mestre das artes da propaganda e do controle absoluto da imagem.

Algumas questões suscitadas pelas três novas classes de armas estratégicas anunciadas por Putin são de derrubar o queixo, num misto de perplexidade e incredulidade.

Míssil movido a energia nuclear tem que ter um reator bem pequenininho? Pois Putin afirmou que o reator miniaturizado com “um centésimo” do tamanho dos aparatos que movem os submarinos nucleares foi testado com sucesso no ano passado.

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A última experiência conhecida do tipo foi no anos 60, com o Tupolev 119, chamado de “Laboratório Nuclear Voador”. Os Estados Unidos haviam abandonado uma década antes os testes com um avião movido a energia nuclear que nunca chegou a levantar voo.

E “um centésimo” do peso e do tamanho de um reator usado em submarinos ainda é um trambolho monumental para ser instalado num míssil que tem que carregar as ogivas termonucleares.

O míssil duplamente nuclear anunciado por Putin é de cruzeiro, o tipo que voa a baixa altitude com tecnologia para enganar os sistemas de detecção. Os foguetes do tipo em operação usam motor a jato.

Com bombas convencionais, são amplamente usados desde a primeira guerra no Iraque. A Rússia estreou os seus na Síria, contra o Estado Islâmico e outros jihadistas em guerra contra o regime aliado protegido dos russos.

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Putin também anunciou um míssil hipersônico com o mesmo objetivo de enganar as defesas americanas. Tudo, disse ele, em resposta à decisão americana de sair do Tratado de Mísseis Antibalísticos, um acordo que limitava os respectivos sistemas de defesa das superpotências nucleares.

Detalhe vital: os Estados Unidos saíram do acordo em 2002. “Ninguém nos ouviu”, reclamou Putin. “Agora vão ouvir.”

A reclamação pode contar pontos para o público interno, uma vez que restaurar a posição da Rússia pós-soviética como potência de respeito é um dos maiores apelos de Putin. Mas dizer que as novas classes de armamentos são “invencíveis”, no presente ou no futuro, soa delirante.

Com todos seus extraordinários conhecimentos em tecnologia bélica e aeroespacial, a Rússia nunca produziu nada que não fosse copiado dos Estados Unidos ou superado pela indústria bélica americana.

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A tecnologia russa também não “extravasa”, não sai da esfera da guerra para o mundo civil, como, num exemplo banal, o GPS, o sistema de orientação por satélite criado justamente para corrigir o percurso de mísseis que hoje guia cada um dos nossos passos.

Os Estados Unidos não aumentaram o tom em termos de ameaças à Rússia – ao contrário, uma boa parte dos americanos acredita, em outros delírio contemporâneo alimentado pelas elites, que Donald Trump é um sabujo de Moscou.

O que incomoda os russos são os sistemas antimísseis instalados em terra e mar nas “franjas do império”, países muito perto da Rússia e muito longe de Deus, como a Polônia.

Depois de invadir a Geórgia, desestabilizar a Ucrânia e anexar a Crimeia, Putin estaria numa posição não muito favorável para reclamar disso.

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O discurso de Putin, equivalente ao do Estado da Nação feito uma vez por ano pelos presidentes americanos, foi transferido do habitual auditório no Kremlin para a antiga escola de equitação de Moscou, construída no começo do século 19.

Com um pé direito de 45 metros, ela acomodou os telões que deram o toque Grande Irmão ao discurso agressivo de Putin.

Somado ao anúncio de que Xi Jingping vai ficar mais um tempo no poder e à sustentação furtiva de ambos os regimes, o russo e o chinês, ao maior de todos os malucos contemporâneos, o homenzinho-foguete da Coreia do Norte, o grito de guerra de Putin deixou o mundo mais perigoso.

Além de abrir duas possibilidades igualmente inquietantes. Se for verdade que a Rússia deu esse salto tecnológico, cria-se um grave desequilíbrio estratégico. Se for mentira. Putin acha que pode ganhar no gogó.

“Isso não é um blefe”, disse ele, antecipando a incredulidade que despertaria.

Todos os que se sentem ameaçados ainda precisam decidir se é bom ou é ruim que um ex-dono de cassino esteja na Casa Branca para reagir a essa jogada.

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