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Esse é o homem que pode ser eleito presidente em quinze dias?

Joe Biden é tudo menos um enigma, embora tenha feito uma campanha baseado simplesmente na ideia de que não é Donald Trump

Por Vilma Gryzinski 19 out 2020, 08h30

É Joe Biden um homem bom?

“Bom”, “decente” e “humano” foram alguns dos adjetivos usados para ressaltar qualidades simples que inspiram os eleitores do candidato democrata, mesmo que não empregados habitualmente para qualificar políticos.

A imagem de um simpático avô – com quase 78 anos, não dá mais está para encarnar o tradicional arquétipo paternal – que irá consertar os estragos do “outro”, o Trump do mal que habita a imaginação dos que abominam o presidente, é poderosa.

Ou pelo menos tem funcionado em todas as pesquisas que o dão por vencedor. Por elas, Biden já está eleito presidente e pode ser até de lavada.

Se isso acontecer – e a surpresa de 2016 exige um “Se” com S maiúsculo -, as qualidades, e também os defeitos, de Biden serão magnificadas pela posição única do ocupante da Casa Branca.

Com quase cinquenta anos de política nas costas, Biden tem plena consciência de que vai ter que administrar um saco de gatos dentro de seu próprio partido, onde diferentes alas se uniram para derrotar Trump, acatando, em muitos casos de má vontade, a escolha centrista dos eleitores das primárias.

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Mas a caneta azul vai ser dele e Joe Biden sabe muito bem disso. 

E a melhor coisa a ser dita sobre o dono potencial da caneta é que é um pragmático, um conhecedor da diferença entre promessas e realidade, um homem da máquina – ou do “pântano”, como dizem os trumpistas – que não quer desmontar o sistema ou “mudar fundamentalmente a América”, como seu antigo cabeça de chapa, Barack Obama.

Esse pragmatismo tem causado a grande migração de dinheiro dos contribuintes ricos para os cofres já lotados da campanha democrata.

O mundo das altas finanças já precificou os aumentos de impostos para empresas e pessoas físicas de alta renda, sem contar mais regulamentação.

Desfazer as bases da economia trumpiana, com seus resultados notáveis antes do advento do coronavírus, vai começar no dia zero de um governo Biden.

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Uma vantagem de Biden é que, como encarnação do establishment, chegará à presidência com listas e mais listas prontinhas de candidatos para os cargos-chave, ao contrário de Trump, o outsider que ganhou no susto em 2016.

Muitos nomes do governo Obama voltarão à cena. Entre eles, Michele Flournoy, possível secretária da Defesa; Susan Rice, cogitada para o Departamento de Estado ou outra pasta igualmente importante; e Sally Yates, para a Justiça.

Para o Tesouro, mais vital do que nunca no mundo pós-vírus, especula-se sobre Janet Yellen, ex-Fed; Lael Brainard, e Sarah Bloom Raskin.

Se Biden não colocar na boca do cofre a senadora Elizabeth Warren, sua ex-rival nas primárias, já será comemorado em Wall Street.

Outro nome forte, possivelmente como chefe de gabinete, o dono do acesso: Steve Ricchetti, o assessor mais próximo de Biden, o tipo de lobista e criatura do sistema que a ala progressista dos democratas quer bem longe do governo.

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Para dar uma ideia da importância dele: em junho, a mulher de Biden, Jill comandou um almoço a 500 dólares por cabeça em benefício da campanha do marido. Quem quisesse bancar um briefing dado por Ricchetti, tinha que desembolsar mais 5 000.

Biden tem que marcar as diferenças em relação a Trump e é isso que vai fazer. Entre o discurso e a prática, a distância pode ser enorme.

Volta ao acordo climático de Paris é uma coisa. Mas vai tirar a embaixada americana de Jerusalém? Sabotar a aproximação de Israel com países árabes do Golfo? Voltar ao acordo nuclear com o Irã? 

Seriam erros monumentais.

Voltando à questão inicial: tem Biden uma boa bússola moral para navegar por assuntos tão vitais, sem incorrer na tentação de desfazer o que foi feito por Trump só por pirraça?

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“A verdade mais reveladora sobre Joe Biden é que ele é exatamente o que parece”, diz Ronald Klain, seu ex-chefe de gabinete na época da vice-presidência.

“É verdadeiramente avuncular. Conecta-se com as pessoas”.

As tragédias pessoais de Biden são um canal para essa conexão, especialmente com pessoas que sofreram grandes perdas familiares, diz Klain, obviamente um fã do ex-chefe.

Talvez até exageradamente, ele sempre faz referências ao trama de perder a mulher e a filhinha num acidente de automóvel, em 1972. A morte do filho Beau Biden, aos 46 anos, com câncer no cérebro, também sempre aparece em seus discursos.

Joe Biden é um político à moda antiga, do tipo que se lembra de nomes e detalhes sobre todo mundo, estabelece intimidade imediata, gosta de fazer um populismo básico e aperta quantas mãos aparecerem na sua frente.

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Até um passado recente, também se mostrava excessivamente tátil com mulheres interessantes a ponto de, em alguns casos, revelar um perturbador hábito de cheirar cabeleiras  femininas.

Isso tudo sumiu do mapa quando o vírus coincidiu com a campanha ascendente e ele passou meses trancafiado no porão de sua mansão, dando poucas entrevistas a jornalistas amigáveis.

A mais recente, talvez desesperada, tentativa da campanha de Trump é detonar o adversário via os obviamente suspeitos negócios que seu filho Hunter fez quando o pai era vice-presidente.

Fora inflamar os ânimos nos comícios de Trump, a coisa não está colando – independentemente de ser verdade ou armação.

A reação de Biden tem sido de se recusar a falar sobre a “calúnia”.

Faltam apenas quinze dias para a eleição e ele tem o vento a favor.

“As pessoas talvez não saibam como ele se interessa pelos detalhes de tudo”, elogia o entusiasmado Klain, hoje na confortável posição de “bidenlogista” – amanhã talvez num futuro governo Biden.

“Ele se interessa por todos os fatos, mesmo os que não batem com suas ideias preconcebidas”. 

“Sempre procura opiniões bem informadas sobre o que funciona e o que não funciona, e o que precisa ser mudado”.

É claro que, para os adversários, é um político vazio de ideias, viciado em lugares comuns, dado a rompantes, sem carisma, explorador das tragédias familiares em benefício próprio, condescendente ou cúmplice das negociatas do filho e com decadência cognitiva tão evidente que será um mero fantoche na Casa Branca.

Muito americanos acham que, com tudo isso, ainda é melhor do que Trump. Outros continuam convencidos de que trará uma conduta elevada e respeitosa para uma presidência onde tais qualidades desapareceram.

Aos 78 anos, Joe Biden vê a grande chance tão perto de ser alcançada, culminando uma carreira que começou precocemente, tendo sido eleito senador com apenas 29 anos. 

Terá a energia, o dinamismo, a capacidade de liderança e também a ousadia que o cargo exige?

Ser apenas um bom sujeito não bastará.

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