Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Enfim uma boa notícia no Oriente Médio, mas tem quem reclame

Tudo de bom: acordo entre Israel e Emirados Árabes Unidos abre uma fase promissora e “tira da pauta” a anexação de territórios palestinos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 14 ago 2020, 09h56 - Publicado em 14 ago 2020, 08h27

“Mensagem de amor de Telavive”. Assim a prefeitura da cidade ilustrou a fachada de luzes nas cores de Israel e dos Emirados Árabes Unidos – os Emirados, para simplificar.

Uma semana antes, a iluminação em forma da bandeira do Líbano, em solidariedade aos mortos na grande explosão do porto de Beirute, provocou reações furiosas.

Israelenses de direita consideraram um ato de traição, uma vez que o Líbano continua a não aceitar um tratado de paz com Israel, e libaneses muito mais extremistas reagiram: “Vamos iluminar Telavive com nossos mísseis”.

O clima completamente diferente que cerca a aproximação oficial entre Israel e os Emirados é um dos raros momentos em que o Oriente Médio produz uma notícia boa.

A aproximação é produto de um longo processo de acerto entre interesses comuns.

Israel não precisou pagar com a devolução de territórios, como aconteceu com o Sinai reintegrado ao Egito, em 1979.

Continua após a publicidade

O retorno de Yasser Arafat e a transferência de territórios à Autoridade Palestina, em 1994, também envolveu essa “troca de paz por terra”.

Foi uma experiência infeliz, fracassada ou condenada na opinião de muitos israelenses, decepcionados com a militarização e os atentados terroristas provocados pelos novos “aliados”.

A maioria dos palestinos também se decepcionou por não conseguir o Estado independente que deveria estar na continuidade dos acordos.

Romper o tabu e se acertar com Israel sem ter o interesse premente de uma troca territorial é um passo muito importante não apenas pelo resultado presente como também pelo que antecipa como futuro: a aceitação de Israel como um país “normal”, não uma entidade odiada a ser varrida do mapa ou, na falta de capacidade para fazer isso, hostilizada e rejeitada.

Por que o entendimento foi recebido com tanta má vontade em vários setores?

Continua após a publicidade

ASSINE VEJA

A encruzilhada econômica de Bolsonaro Na edição da semana: os riscos da estratégia de gastar muito para impulsionar a economia. E mais: pesquisa exclusiva revela que o brasileiro é, sim, racista ()
Clique e Assine

Primeiro, porque é uma conquista de dois governantes abominados, Donald Trump e Benjamin Netanyahu.

O terceiro integrante do acordo, o príncipe Mohammed Bin Zayed, herdeiro de Abu Dabi e líder do pequeno e rico colar de emirados que foram uma entidade comum às margens do Golfo Pérsico, tampouco é uma flor da democracia e das liberdades fundamentais – ninguém é nessa região do mundo.

Segundo, porque nada é capaz de satisfazer as expectativas dos palestinos e de seus simpatizantes.

O primeiro-ministro de Israel estava a poucos dias de anunciar a anexação das faixas de território palestino que, na prática, já são anexadas pela presença de enclaves residenciais habitados por judeus.

Como bom negociador, Bibi mais do que insinuou que anexaria também todo o lado ocidental do vale do rio Jordão.

Continua após a publicidade

Uma cartada que saiu rapidamente da mesa.

Sobre a anexação das áreas sob controle total de Israel, Bibi sustenta que não foi eliminada – ele tem que acalmar sua própria direita.

Nas palavras de Donald Trump, porém, ela está “mais do que fora da pauta”.

O acordo entre Israel e os Emirados é uma das raras situações em que o adjetivo “histórico” pode ser usado sem exagero.

Os mais céticos, enxergam nisso, com razão, um desdobramento da aliança não declarada de Israel e dos países árabes sunitas que têm pavor dos avanços do Irã.

Continua após a publicidade

Os Emirados foram os primeiros a assumir publicamente esse esforço conjunto devido à ousadia do príncipe Bin Zayed – conhecido pelas iniciais, MBZ.

Seu colega mais rico e mais poderoso, o saudita Mohammed Bin Salman, também conhecido pelas iniciais, tem mais dificuldades para “vender” internamente um acordo oficial com Israel e ainda está na geladeira pelo inacreditavelmente bárbaro assassinato Jamal Khashoggi.

Eventualmente, outros principados do Golfo seguirão os passos de MBZ e não é impossível ver a Arábia Saudita eventualmente formalizando um reconhecimento que já existe na prática.

Além da ameaça iraniana, que ficou maior ainda com a sobrevivência paga em muito sangue do regime de Bashar Assad na Síria, os países do golfo temem o islamismo sunita representado pela Irmandade Muçulmana.

MBZ é um operador hábil, entende perfeitamente que depende da aliança com os Estados Unidos, mas também tem uma relação descrita como “amizade” com Vladimir Putin.

Continua após a publicidade

A fragilidade dos emirados que representa como uma espécie de presidente do conselho é estrutural: falta de população nativa e excesso de trabalhadores estrangeiros que fazem o trabalho para os habitantes cevados a petrodólares.

Abu Dhabi, o emirado de MBZ, tem 1,4 milhão de habitantes e mais de sete milhões de trabalhadores estrangeiros.

Num sinal de suprema magnanimidade, o príncipe permitiu igrejas católicas e tempos hinduístas para atender filipinos e indianos que trabalham no país.

Nos vizinhos, isso continua proibido.

MBZ controla um fundo soberano de 1,3 trilhão de dólares e gosta de gastar com o que de melhor existe no mercado em matéria de equipamentos bélicos.

As forças especiais de Abu Dhabi foram criadas por ninguém menos do que Eric Prince, o legendário dono da Blackwater, a empresa de segurança militar, atividade também conhecida como forças militares, que atuou no Iraque.

Prince e o príncipe também tentaram uma aproximação do governo Trump com a Rússia, no que viam como uma espécie de não-santa aliança contra o islamismo representado, no extremo, pelo ISIS.

Não deu certo e rendeu argumentos para os inimigos de Trump alegarem ter sido isso mais um exemplo do jamais comprovado conluio com a Rússia.

Trump enfrenta agora uma reeleição difícil – ou impossível, segundo as pesquisas – e Netanyahu está sendo processado por corrupção, com manifestações quase diárias de protesto.

Fora o coronavírus que grassa nos Estados Unidos e voltou a atormentar Israel.

Qualquer coisa que favoreça os dois é recebida como um reforço abominável por ser adversários.

Daí a má vontade com o acordo envolvendo os Emirados, importante por si mesmo e arrepiante pelo potencial que encerra.

Melhor comemorar do que fazer bico. São raras as vezes em que coisas boas, para todos os lados, acontecem na região.

Nas palavras realistas do príncipe Bin Zayed, “o Oriente Médio não é a Califórnia”.

Não é mesmo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.