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Em quem acreditar, na AstraZeneca ou nos países que a suspenderam?

Suspensão na aplicação da vacina na Alemanha, França e Itália, para investigar relação com doenças causadas por coágulos, cria angústia

Por Vilma Gryzinski 16 mar 2021, 07h02

É um dilema terrível numa hora péssima. Importantes países europeus suspenderam a vacinação com o imunizante da AstraZeneca exatamente num momento em que, em meio a um ritmo bem longe de acelerado das campanhas, aparecem sinais de hesitação entre a opinião pública.

Depois que países menores, como Noruega, Dinamarca, Irlanda e Holanda, interromperam a aplicação, europeus com mais peso, como Itália, França e Alemanha, aderiram à suspensão e aumentaram o clima de ansiedade que já existia em relação à vacina.

A Áustria já havia isolado um lote da vacina, pelo mesmo motivo que os outros: um caso de morte por trombose dez dias depois da vacinação e outro de hospitalização pelo mesmo problema.

Coágulos que se desprendem e andam pela corrente sanguínea podem causar doenças graves, potencialmente fatais, como embolia pulmonar, trombose venosa profunda e trombocitopenia.

Como um simples cidadão na fila da vacina pode tomar decisões quando as informações são tão conflitantes?

Não existem respostas fáceis.

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A Agência Europeia de Medicamentos e a Organização Mundial de Saúde disseram que não existem evidências de relação entre a vacina da farmacêutica anglo-sueca, desenvolvida em parceria com Oxford, e a ocorrência de coágulos.

A agência regulatória do Reino Unido, onde a vacina foi desenvolvida e é motivo de muito orgulho nacional, também está revisando as informações, mas “devido à frequência com que os coágulos podem acontecer naturalmente, a evidência disponível não sugere que a vacina seja a causa”.

A AstraZeneca, que assumiu o compromisso de não lucrar com a vacina enquanto durar a epidemia, fora, evidentemente, o enorme benefício para sua imagem, tem o máximo interesse em defender seu produto com base em evidências.

No domingo, apenas um dia antes da nova onda de suspensões, divulgou um estudo de grandes proporções, com mais de 17 milhões de pessoas vacinadas em países da União Europeia e no Reino Unido.

“Uma revisão cuidadosa de todos os dados de segurança não mostrou nenhuma evidência de aumento do risco de embolia pulmonar, trombose venosa profunda ou trombocitopenia, em qualquer faixa etária, gênero e lote, ou em qualquer país em particular”, diz a análise.

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“Na verdade, o número observado desse tipo de evento é significativamente mais baixo entre os vacinados do que o que seria esperado entre a população em geral”.

Os benefícios da vacina da AstraZeneca para pessoas com mais de 65 anos já haviam sido contestados pela Alemanha e pela França, via seu presidente, Emmanuel Macron, mas depois houve um recuo.

O vai-e-vem de informações evidentemente é muito ruim do ponto de vista da saúde pública, embora não seja imprevisível.

Só na vida real, com a vacinação na casa de dezenas ou centenas de milhões de vacinados, podem ser confirmados os resultados dos testes, feitos, no máximo, com dezenas de milhares de voluntários. A necessidade da aprovação emergencial da vacina é autoexplicativa.

Dos dezessete milhões de vacinados na Europa, houve quinze casos de trombose venosa profunda e 22 de embolia pulmonar. Ou seja, um total de 37 eventos.

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Obviamente, pessoas mais velhas – a população que está tendo precedência na vacinação – são mais propensas a sofrer distúrbios de coagulação.

Existe a seguinte conta: como uma em cada mil pessoas sofrem anualmente de doenças provocadas por coágulos sanguíneos, 17 mil entre os os 17 milhões de vacinados sofrerão o problema no prazo de um ano. Por semana, a conta é de 320 casos.

Deveriam as pessoas que ainda esperam sua dose ficar tranquilas em países que não suspenderam a vacinação? 

A resposta dos especialistas é sim. Os benefícios da vacinação em massa são evidentes no Reino Unido, onde 38% da população já foi imunizada, o que se reflete na queda contínua e acentuada de casos de Covid-19, hospitalizações e mortes.

Do ápice de 1.823 mortes em 21 de janeiro passado, um número proporcionalmente mais dramático do que os registrados nos últimos dias no Brasil, que tem população três vezes maior, o país caiu para 64 óbitos no domingo passado, uma queda nada menos que fenomenal.

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“Se houver uma evidência clara de efeitos colaterais graves, isso terá consequências importantes”, disse ao Telegraph o professor Adam Finn, membro do comitê de vacinação do reino.

“No entanto, enquanto não houver, é altamente indesejável interromper um programa complexo e urgente cada vez que alguém desenvolve doenças depois de receber uma vacina, o que pode ser coincidência sem relação causal”.

Outro especialista, Peter English, foi mais longe. “É lamentável que países tenham interrompido a vacinação com base no princípio da precaução: arriscam prejudicar seriamente a meta de vacinar uma quantidade suficiente de pessoas para desacelerar a propagação do vírus e acabar com a pandemia”.

Outra hipótese instigante: como os coágulos são frequentes em pessoas com Covid-19, os casos ocorridos depois da vacinação podem incluir pessoas que já estavam contagiadas, sem saber.

“Espero sinceramente que, dentro de uma semana, sejamos acusados de ter sido cautelosos demais”, disse Ronan Glynn, da cúpula da saúde na Irlanda.

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Problema: tanto o excesso de cautela quanto a falta dela, no caso de uma doença como a Covid-19, redundam em perda de vidas.

O jornalista Stanley Pignal, da Economist, fez a seguinte conta: “Se você vacina 100 mil pessoas com mais de 50 anos hoje e não amanhã, salva quinze vidas, segundo uma análise francesa. A Alemanha tem agora 1,7 milhão de doses de vacinas da AstraZeneca que não estão sendo aplicadas. Se houver um atraso de uma semana, a conta é de 1.785 mortes”.

Seja qual for o resultado dos estudos feitos pelos países onde a Oxford/AstraZeneca está suspensa, vai aumentar a rejeição da população e as consequências serão muito piores do que se houvesse tolerância para um número baixo de efeitos colaterais negativos.

As decisões individuais, claro, pertencem a cada um e seria positivo se não fossem tomadas num clima de medo ou desconfiança. Infelizmente, isso está ficando mais difícil.

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