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Por Vilma Gryzinski
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Eleições na Argentina: drama, virada, surpresa e mortes

Cristina Kirchner quer voltar e ser milhões para atormentar Macri, mas o presidente consegue o impossível: recuperar prestígio e até votos

Por Da Redação Atualizado em 30 out 2017, 22h39 - Publicado em 22 out 2017, 08h24

Dois mortos pairam sobre a eleição de hoje na Argentina. De alguma maneira, eles também vão votar. Como o paradoxo é uma situação permanente na Argentina, pode ser que ambos saiam ganhando.

Vamos explicar. A eleição renova uma parte do Congresso e não é absurdo que o presidente Mauricio Macri, depois de ser dado por finado e enterrado politicamente, consiga o impossível: ganhar a maioria para sua coalizão, chamada Mudemos.

No começo do ano, com menos dois anos de governo, iniciado com cortes, contenção e aumento do desemprego, entre outros remédios amargos, Macri estava no chão. Empresas em nome dele apareceram na “lista do Panamá” e até a classe média que o apoiava parecia ter desistido.

Seria mais um da lista de presidentes argentinos fracassados. Uma lista longa e dramática, na qual se inclui o caso dos “cinco presidentes em onze dias”, a sequência de sucessores que pegavam e largavam correndo a batata fervente deixada em 21 de dezembro de 2001 por Fernando De la Rúa, quando saiu de helicóptero da Casa Rosada. A Argentina tornava-se o retrato acabado de país falido, em todos os sentidos.

Com esse histórico, a recuperação da popularidade de Macri é nada menos que um milagre. Hoje ele tem mais de 50% de aprovação, um espanto que as verbas públicas generosas não explica, ou explica apenas em parte.

Segundo resumiu o jornal espanhol El País, é como se a Argentina tivesse entrado numa nova fase na qual todos os níveis do poder “o político, o empresarial, o sindical e o regional concluíram que quem manda é Macri e assim será por um longo tempo”.

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O morto no caminho de Macri, que a oposição tenta jogar no colo do governo, veio à tona apenas dois dias antes da eleição de hoje. O caso de Santiago Maldonado se tornou uma causa célebre, uma versão mil vezes ampliada do “Onde está Amarildo?”, um episódio de brutalidade policial que ganha dimensão política.

Maldonado era o que se chamaria de hippie. Vivia de fazer artesanato e tatuagens num lugar belo e afastado do interior. Aparentemente, envolveu-se numa manifestação de índios mapuche. A Gendarmeria, que funciona como polícia nacional, foi fazer uma desocupação de estrada no dia 1 de agosto.

Desde então, Maldonado não foi mais visto. Num país como a Argentina, marcado pelo “desaparecimento” de pelo menos dez mil pessoas durante a ditadura militar, o caso ganhou enorme dimensão, com incidentes policiais, jurídicos e, evidentemente, políticos.

A comprovação de um crime policial prejudicaria Macri, apesar das constantes promessas de punição exemplar. Para complicar, o corpo tirado do rio Chubut não tinha marcas de agressões. Qual será a influência do caso na eleição de hoje?

O outro morto que “vota”  é Alberto Nisman, o juiz cujo suicídio, em 18 de janeiro de 2015, já foi contestado, investigado e reinvestigado, sem nenhuma conclusão definitiva. A acusação por trás de todo o episódio: Nisman iria comprometer gravemente o governo de Cristina Kirchner, que era a presidente, por conluio com o Irã. Um acordo comercial por cima do pano e dinheiro por baixo dele encerrariam o caso da AMIA, o atentado terrorista contra uma organização judaica em Buenos Aires.

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A Argentina definitivamente não é para amadores, mas dá para perceber que o caso, reaberto, tem o potencial constante de explodir no colo de Cristina Kirchner. A ex-presidente é candidata a senadora e atormentadora-mor de Macri.

Com uma popularidade indestrutível no cinturão peronista da Grande Buenos Aires, ele teve dificuldades para passar pela fase das eleições primárias. Mesmo sendo eleita, se ficar em segundo lugar em quantidade de votos, atrás do quase desconhecido e pouco desenvolto candidato de Macri, Estebán Bullrich, será considerada derrotada.

Se passar à frente dele, poderá proclamar, como Eva Perón: “Voltarei e serei milhões”. Sem contar o alívio nos processos por enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro.

Como não existe espaço, mesmo na imensidão dos pampas argentinos, para um Mauricio Macri forte, com desempenho econômico bom, e uma Cristina Kirchner poderosa, a eleição de hoje pode abrir caminho a outro paradoxo de dar inveja a seus equivalentes brasileiros. Uma ex-presidente encrencada que volta à cena. Um presidente em exercício que faz as reformas necessárias, recupera a popularidade. e consegue maioria no Congresso. Um espanto.

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