Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

É realista “abolir a prostituição”, como pretende governo espanhol?

Primeiro-ministro Pedro Suárez fez uma promessa arriscada, que divide a esquerda e não tem resultados comprovados

Por Vilma Gryzinski 19 out 2021, 07h35

Entusiasmado pelo ambiente de conciliação interna no último congresso do Partido Socialista Operário Espanhol, o primeiro-ministro Pedro Suárez assumiu dois compromissos: acabar com a flexibilização das leis trabalhistas aprovada durante o governo anterior, de centro-direita, e “abolir a prostituição que escraviza mulheres em nosso país”.

São duas promessas complicadas. Sobre a primeira, a esquerda tem consenso – mas a economia  reclama o direito de divergir. O desemprego na Espanha, um dos mais altos da Europa – quase 16% -, não vai melhorar com o novo engessamento.

A respeito da segunda, não existe consenso. Correntes de esquerda e tendências feministas discordam sobre a melhor maneira de enfrentar uma questão eterna: reconhecer que as mulheres têm autonomia sobre seus corpos, inclusive para vendê-los da forma que quiserem, mesmo quando se expõem a uma profissão de risco, ou criminalizar todo o entorno da atividade, de clientes a intermediários, na tentativa de sufocar o comércio do sexo (esta linha é chamada de neo-abolicionista).

Em outras palavras: prostitutas são agentes dotadas de livre arbítrio ou vítimas de circunstâncias que as tornam objeto de exploração, principalmente quando envolvem jovens e menores traficadas entre países?

Continua após a publicidade

Como as duas coisas podem acontecer, inclusive simultaneamente, não existem respostas fáceis.

A França, por exemplo, optou pelo abolicionismo. Em 2016, a Assembleia Nacional aprovou uma lei que estabelece uma multa de 1 500 euros para clientes que comprem serviços sexuais (3 750 em caso de reincidência). O projeto também abriu caminho para que prostitutas estrangeiras – cerca de 85% das profissionais do sexo – regularizassem sua situação migratória se aderissem a um programa para deixar a atividade, com retreinamento profissional.

Os resultados não foram muito animadores. As quebradas do Bois de Boulogne, o parque que ferve de mulheres e homens se prostituindo, continuam movimentadas e muitas profissionais reclamam que os clientes passaram a exigir preços mais baixos e práticas mais arriscadas para “compensar” o risco de serem multados.

Continua após a publicidade

As multas – cerca de cinco mil – foram poucas, considerando-se o movimento. E apenas 564 pessoas se candidataram ao programa de recapacitação profissional. Só 161 completaram o processo, segundo levantamento da Deutsche Welle.

A legislação francesa seguiu o chamado modelo sueco, o primeiro a criminalizar a compra mas não a venda de serviços sexuais. Na Suécia, a prostituição de rua diminuiu radicalmente – o que não quer dizer que o comércio sexual, transposto para ambientes fechados e alimentado pelas comunicações digitais, tenha sido alterado.

Legislar sobre comportamento obviamente é uma tarefa gigantesca, quando não inútil. Na Espanha onde o primeiro-ministro pretende abolir a prostituição, 39% dos homens em algum momento usaram serviços sexuais pagos.

Continua após a publicidade

A proporção só é maior na Alemanha, onde a atividade não tem restrições, tal como na Dinamarca e na Holanda, onde o famoso, ou infame, bairro da luz vermelha de Amsterdã, com prostitutas expostas em vitrines, será fechado e transferido para um “centro erótico”, num sinal dos tempos.

Os principais partidos políticos concordaram que não querem o tipo de turismo que as mulheres nas vitrines atraem (também não querem os que visitam a cidade para fumar maconha legalmente nas cafés do fumacê, mas isso ainda está em discussão).

Coibir ou liberar a prostituição são princípios que envolvem padrões morais, arranjos sociais e o natural impulso humano a, simultaneamente, admitir as fraquezas da carne e querer proteger os mais fracos, principalmente quando envolvem tantas adolescentes e até crianças exploradas sexualmente de forma vil e brutal.

Continua após a publicidade

A forma pela qual países economicamente mais fracos se transformam em fornecedores de mão de obra para o comércio sexual também expõe desigualdades gritantes. A Espanha é o principal mercado para prostitutas brasileiras, que já chegam devendo até sete mil euros aos aliciadores – o equivalente a dois anos de trabalho, com até vinte “programas” por dia.

Se a realidade econômica do Brasil produzi prostitutas e a da Espanha, entre outros países europeus, fornece clientes para seus serviços, o governo tem como interferir eficientemente nesse mercado?

A respostas continuam em aberto.

Continua após a publicidade

A prostituição é ilegal tanto na Tailândia quanto nos Estados Unidos, com exceção de alguns municípios do estado de Nevada. A Tailândia é o paraíso do sexo pago. Também não é nada impossível comprar “companhia” nos Estados Unidos. Onde a exploração de vulneráveis é maior?

“A prostituição não é a livre expressão da liberdade sexual de uma mulher”, diz uma associação, a APRAMP, que combate a exploração sexual na Espanha. “Está quase sempre ligada a violência, marginalização, dificuldades econômicas e uma cultural patriarcal sexista”.

Se existem leis que podem combater isso, a Espanha será um campo de teste.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.