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Direita avança nos EUA e Joe Biden vai ser eleito presidente

Sim, vocês leram certo: é assim que o pré-candidato mais cotado está sendo tratado pelos companheiros democratas; dá para manter isso aí?

Por Vilma Gryzinski 11 jun 2019, 08h53

Pelas pesquisas, Donald Trump vai perder para Joe Biden até no Texas (de 44% contra 48%).

Dá para ouvir as risadas desde Dallas até Bronwsville. Não porque o maior estado americano continue a ser o mítico centro do capitalismo puro e duro, mas pela credibilidade algo afetada das sondagens, escandalosamente desmentidas pela realidade na última eleição presidencial.

Ironicamente, existem adversários internos de Joe Biden que chegam a comemorar: sua vitória no Texas, mesmo que teórica, comprova a tese de que o veteraníssimo ex-senador e ex-vice-presidente é de centro, hoje um insulto para a militância democrata, e usada para significar, horror dos horrores, direita.

A militância, evidentemente, é diferente do eleitorado que favorece Joe Biden por ver em seu centrismo as mesmas virtudes que levaram Barack Obama a escolhê-lo como vice, numa parceria mais ou menos comparável à de Lula com José Alencar em 2002.

Eleitores democratas e independentes percebem que dificilmente pode ser eleito presidente um candidato que defenda a entrada incondicional de imigrantes de todo o mundo, aborto até os nove meses de gravidez, programas ambientais extremistas e outros radicalismos.

Muitas dessas ideias prevalecem no ambiente esquerdizante dos pré-candidatos mais conhecidos entre o batalhão de 24 aspirantes.

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Bernie Sanders é um socialista que foi passar a lua de mel na URSS, quando esta ainda existia e despertava paixões incontroláveis em velhos stalinistas.

Elizabeth Warren quer regulamentar e taxar tudo o que conseguir. Pete Buttigieg diz que seu casamento gay é uma alta manifestação de cristianismo e foi determinado por Deus.

Beto O’Rourke pede desculpas sem parar por ser homem, heterossexual, branco e privilegiado, além de endossar a tese de que o mundo vai acabar em doze anos.

Lá no fundão, Bill de Blasio é Bill de Blasio, um sujeito cujas ideias estão passando de exceção nova-iorquina para regra geral no partido, sem que seja beneficiado com isso.

Muitos veteranos democratas se apavoram de medo da jovem, bonita e desatinada Alexandria Ocasio-Cortez, a deputada estrela eleita pelo Bronx e com direito a ser chamada, como uma cantora de rap, de AOC.

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Alexandria é a autora, por assim dizer, do Green New Deal, um projeto ambientalóide (diferente, por motivos óbvios, de ambientalista) que dizimaria a economia americana.

Os coroas que querem parecer moderninhos aderiram ou elogiaram. AOC é atualmente a maior atormentadora de Joe Biden – pior até do que Trump.

O canibalismo é normal nessa fase do processo eleitoral americano, quando nem começaram ainda as eleições primárias e as diferentes alas brigam entre si, mas o que Alexandria está fazendo com Biden poderia ser enquadrado no estatuto dos idosos, se existisse isso nos Estados Unidos.

Uma amostra das chicotadas de AOC no candidato de 76 anos:

“Se você se orgulha de ser um candidato centrista moderado, diga isso. Diga ‘Eu me orgulho de ser de centro. Eu me orgulho de ser financiado por Wall Street. Eu me orgulho de não lutar o quanto possa pelos direitos da mulher’.”

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“Diga isso, tenha coragem, não venha aqui dizer que é um candidato progressista.”

Biden reagiu à trolagem e se manteve fiel às próprias ideias, para não falar nos eleitores que estão apoiando sua candidatura justamente por não propor maluquices que o tornariam inelegível numa disputa com Trump?

Nem pensar. Depois de ser chicoteado por Alexandria na questão de uma lei que proíbe o uso de fundos do governo federal para reembolsar clínicas de aborto, abaixou as orelhas e mudou de opinião.

Nesse caso, aconselhou-se também com a atriz Alyssa Milano, outra milenarista do aborto que propôs greve de sexo enquanto não mudasse a posição de estados que estão aprovando, via representantes eleitos, limitações à interrupção da gravidez (por causa do bloqueio das verbas federais e porque os Estados Unidos são uma república federativa de fato, é grande a liberdade de ação na esfera estadual).

Biden pode estar com medinho, mas não tem nada de bobo. Ele e seus estrategistas calculam que, nessa fase, precisam fazer concessões à esquerda.

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Quando tiver a candidatura selada, pode voltar ao centro e apelar aos eleitores que ainda não têm certeza se vão votar nele ou em Trump – ou se sequer vão votar, um fator determinante num país em que não existe a abominação da obrigatoriedade.

As estratégias são tão calculadas que Biden está fazendo poucos atos públicos, como as sessões de perguntas e respostas dessa fase. Demorou para aparecer em Iowa, onde é feita a primeira eleição primaria e haverá um pré-debate no próximo fim de semana.

Um dos motivos não declarados é que a assessoria de Biden quer evitar expô-lo justamente por causa de seu ponto mais fraco, a idade.

Sem contar o passado cheio de afagos estranhos a jovens e mulheres ao alcance da famosa mão boba e do nariz enxerido louco para dar uma aspirada em cabelos femininos.

Fora as gafes, charmosas quando passava “apenas” por um senador ligado à base operária da Pensilvânia, um bom católico com o estilo populista e desencanado de político do interior que abraça todo mundo e faz piadas nem sempre apropriadas.

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No ambiente atual, apesar das tentativas de “modernização”, Joe Biden soa como um dinossauro quando chama uma jovem que lhe fez uma pergunta de “kiddo”, a palavra afetuosa para crianças no ambiente doméstico.

Em qualquer ambiente, presente ou passado, seriam inadmissíveis as coisas que disse em discursos dos anos setenta. Num deles, fez analogia entre política e futebol americano, pedindo desculpas às “mulheres que não iam entender”.

Durante anos, ele foi contra o transporte de crianças negras para escolas de bairros em que só moravam brancos, um método usado para tentar quebrar a segregação racial.

Outra sombra do passado é o caso Anita Hill, a advogada que acusou o juiz Clarence Thomas de assédio sexual quando ele foi indicado para a Suprema Corte. Biden hoje se diz arrependido de que “não tenha havido ocasião para outros depoimentos”. Detalhe: ele era presidente da Comissão de Justiça do Senado.

Pediu perdão a ela, que não deu. Outro detalhe: na época, ele achava que Anita Hill estava mentindo devido a contradições inexplicáveis em seus depoimentos.

Em tempos normais, Biden dificilmente ganharia uma primária para ser candidato à Casa Branca. Nunca foi, como dizem os americanos, de “material presidencial”. Muito menos agora, aos 76 anos.

Como os tempos são anormais, é com ele que o eleitorado democrata vê maior chance de vitória – o que pode, evidentemente, mudar.

Considerado um candidato ligeiramente à direita do centro, ele tem que enfrentar o estilo caótico e desestabiizador de Donald Trump.

Só um exemplo: ao contrário da direita liberal, Trump não dá a mínima para detalhes como déficit e dívida púbica, já passando de alucinantes 22 trilhões de dólares. Também usa recursos como medidas protecionistas, ainda que temporárias.

Até deixou o genro, Jared Kushner, fazer um mimo à esquerda, com uma nova legislação que permite redução de pena em determinados casos de condenados cumprindo sentenças pela justiça federal.

Imagem só: o direitista Joe Biden, sólido defensor de todo o rigor possível com criminosos, enfrentando um Trump de esquerda, que gasta dinheiro público como um marinheiro bêbado, é totalmente focado na criação de empregos e facilita a vida de certos condenados.

É assim o mundo que Trump criou, evidentemente captando e refletindo mudanças do próprio eleitorado.

Se os companheiros não lhe quebrarem as pernas e ele próprio não se autodestruir com alguma bobagem muito grande, Joe Biden entrará nessa arena como o “novo cavaleiro branco”, como se descreveu ao ser eleito senador pela primeira vez, antes dos 30 anos.

Trump, como sempre, vai adorar fazer o papel de Darth Vader.

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