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Deu a louca nos gringos parte II: Nova York contra Bolsonaro

A cidade que já era politicamente correta antes do politicamente correto coloca vanguarda do progressismo na retaguarda do dinheiro

Por Vilma Gryzinski
Atualizado em 14 abr 2019, 09h34 - Publicado em 14 abr 2019, 09h14

Nova York adora ser Gotham City, adora um vilão se ele for cool como as várias encarnações do Coringa e adora acreditar que o resto do mundo olha para lá não como um lugar com  museus sensacionais, ótimas oportunidades de trabalho no mercado financeiro e compras baratas, mas sim o centro de irradiação de tudo o que é bom e certo.

O interior dos Estados Unidos olha para Nova York como numa anomalia, um enclave em que alguns dos maiores bilionários do mundo brincam que são de esquerda, como todo o resto da população. Os mais religiosos a chamam de Prostituta da Babilônia e enxergam sinais do fim dos tempos em todas as esquinas de Manhattan.

Os cineastas  de filmes-catástrofe, ao contrário, destroem a cidade de todas as maneiras possíveis como forma de pagar os pecados do capitalismo e outros.

O prefeito atual, Bill de Blasio (nome verdadeiro: Warren Wilhem Jr.; assumiu o sobrenome da mãe para parecer mais ”étnico”) fez campanha enfatizando que sua mulher é negra e foi lésbica. Deve ser reeleito: de cada oito eleitores nova-iorquinos, sete são democratas.

Foi De Blasio quem definiu o presidente Jair Bolsonaro como “um ser humano muito perigoso”, incentivando o Museu de História Natural a boicotar o aluguel de um salão para o jantar onde ele receberia o prêmio de Pessoa do Ano da Câmara de Comércio Brasil-EUA, uma entidade não-governamental.

O boicote pegou fogo, incentivado por brasileiros de esquerda e pesquisadores americanos relacionados ao museu. A cerimônia normalmente só tem a turma nacional com dinheiro suficiente para fazer de Nova York sua segunda casa (geralmente apartamentos enormes), empresários do eixo Brasil-Estados Unidos e modelos contratadas para deixar as categorias anteriores babando.

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Como de hábito, os vasos conectantes com a realidade são tênues, mas revelam o conceito espetacular que os nova-iorquinos, nativos ou não, fazem de si mesmo – uma das chaves para a narrativa vencedora da cidade.

Desde muito antes que o ambientalismo entrasse na moda, os poderosos da cidade já achavam que sua missão era “salvar a Amazônia”. Quem já presenciou a certeza com que se acham imbuídos dessa causa – e como perguntam a qualquer brasileiro, na lata, “Por que vocês estão queimando a Amazônia?” -, sabe como funciona a coisa.

A simploriedade só aumentou com o enraizamento das causas politicamente corretas. Cientistas e alunos do Richard Gilder Graduate Center, por exemplo, mandaram uma carta ao museu dizendo que o aluguel do salão seria “uma mancha na reputação do museu”.

E mais: “Uma das maneiras que podemos proteger o futuro para populações indígenas brasileiras, cientistas, cidadãos e movimentos pela bioconservação é recusar o acesso à nossa casa coletiva ao presidente fascista que gostaria de efetivamente fazer mal e destruir esses movimentos e essas pessoas.”

Viram como é fácil salvar a Amazônia?

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Um representante do movimento Descolonize Este Lugar ameaçou: “Ou cancelam ou vamos fechar a coisa.”

Protestos no museu, conhecido pelas iniciais em inglês, ANHM, por mais ardorosamente progressista que seja a direção, fazem parte da paisagem nova-iorquina. Em 2018, surgiu um movimento para expulsar do conselho do museu a bilionária Rebekah Mercer porque ela e o pai são conhecidos pelas grandes doações a causas de direita.

Inclusive, numa exceção relativamente rara à época, para a campanha de Donald Trump, o nova-iorquino mais odiado pelos nova-iorquinos (10% dos votos da presidencial de 2016 em Manhattan e no Bronx e 18% no Brooklyn, mas 57% em Staten Island, definitivamente fora do “planeta Nova York”).

Rebekah foi acusada de ser anticiência por contribuir para pesquisadores contrários a premissas do aquecimento global – um deles, físico de Princenton. Mas os dois milhões de dólares que deu ao ANHM garantiram que continue no conselho.

O próprio homem que se tornou sinônimo do ANHM, num passado já bem distante, pode não durar muito em sua versão de bronze na entrada do museu. Antes, durante e depois de ser presidente, Ted Roosevelt foi um naturalista e explorador conhecido.

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No auge do movimento que derrubou estátuas pelos Estados Unidos, principalmente de líderes do Sul confederado, o monumento a Roosevelt levou um banho de “sangue” – tinta vermelha para condenar a expressão de “patriarcado e supremacia branca” representada pelo presidente a cavalo, com um indígena e um negro de cada lado.

Se a militância soubesse que Roosevelt, na sua quase trágica expedição pelo Brasil, conheceu e acompanhou um dos maiores responsáveis pela proteção a povos indígenas de todos os tempos possivelmente não ligariam a mínima.

Até mais, acusariam o marechal Candido Mariano da Silva Rondon de ser da turma do patriarcado branco. Descrito por Ted Roosevelt como “tudo, e mais ainda, do que se poderia desejar” em matéria de companhia.

“Ele é de sangue indígena quase puro e positivista – os positivistas são realmente fortes no Brasil”, escreveu Ted Roosevelt em seu libro sobre a expedição durante a qual perdeu “dez anos da minha vida” e voltou com malária.

“O Brasil tem a mesma liberdade total em questões religiosas, espirituais e intelectuais que nós, para nossa sorte, temos nos Estados Unidos”, comentou sobre a mistura de positivistas, católicos e libres penseurs entre os companheiros de aventura.

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Sobre Rondon, acrescentou que “tem um conhecimento excepcional das tribos índias e sempre se dedicou arduamente a servir a elas e, na verdade, servir a causa da humanidade sempre e quando pudesse”.

Quantos nova-iorquinos da turma “radical chique” – a genial expressão inventada por Tom Wolfe no ensaio de 1970 sobre a festa do maestro Leonard Bernstein para os Panteras Negras -, poderiam imaginar que existiu um brasileiro assim?

Certamente não Bill de Blasio, que até hoje não denunciou as atrocidades praticadas por Daniel Ortega na Nicarágua.

Sandinista fervoroso, como tantas pessoas na época em que o país sofria com a dinastia Somoza, o prefeito é incapaz de fazer autocrítica, muito menos de criticar Daniel Ortega, o líder da guerrilha sandinista, hoje é uma espécie de chefe de um culto bolivariano-xamanista.

A melhor coisa que Ortega fez nos últimos tempos foi fracassar no projeto de abrir um canal para competir com o do Panamá e dar à China uma via marítima estratégica em continente americano.

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É claro que o projeto, atualmente parado, afetaria áreas de natureza intocada e tiraria de seu território o povo indígena Rama. Segundo instituições ligadas a essas causas, o regime de Ortega, que virou um pesadelo repressivo, já matou mais de 10.000 indígenas nicaraguenses.

Existe confirmação? É um exagero? Possivelmente. Mas para Bill de Blasio, o “ser humano perigoso” é um presidente em cuja conta não pode ser colocada, por enquanto, uma única vida.

O problema clássico dos radicais chiques é que sempre aparece alguém mais radical e chique. O prefeito atualmente anda totalmente obscurecido por Alexandria Ocasio-Cortez, a economista e garçonete que se transformou em fenômeno político ao desbancar um democrata tradicional do Bronx e ser eleita deputada.

Alexandria cantou vitória quando Jeff Bezos simplesmente desistiu de instalar em território nova-iorquino a segunda sede da Amazon, um projeto que De Blasio aprovava. Foram, assim, pelos ares, 25 mil empregos e todo o círculo de progresso que um gigante da alta tecnologia gera.

E é claro que a deputada defendeu inabalavelmente a colega Ilhan Omar quando apareceu um discurso em que ela proclama que os muçulmanos americanos passaram a perder liberdades civis – mentira – depois que “um dia umas pessoas fizeram uma coisa”.

Para a turma radical chique, nem o  Onze de Setembro merece respeito. Imaginem um presidente que está queimando a Amazônia inteirinha…

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