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Coronavírus: um certo medo ajuda, pânico demais atrapalha

Crianças engarrafadas, gatos mascarados e cientistas que esquecem estar falando para leigos assustados criam ambiente em que pavor substitui precaução

Por Vilma Gryzinski 17 fev 2020, 07h57

“Considerando-se como o vírus parece ser transmissível e o fato de que todos os adultos podem ser infectados – temos menos dados sobre crianças –, 60% é um número razoável para o tamanho da epidemia”, diz o professor Neil Ferguson, da Faculdade de Saúde Pública do Imperial College.

“O que ainda não sabemos, é quantas pessoas vão morrer. Nossa melhor estimativa no momento é que talvez 1% das pessoas infectadas podem morrer”.

Com toda a frieza de um estudioso dos vírus – e o conhecimento da propagação dos predecessores do novo corona, ele fala com cabeça de cientista para gente que escuta com ouvidos de leigos apavorados.

Como o professor está tratando da Grã-Bretanha, acaba de admitir, “potencialmente”, 400 mil mortes.

A parte do “potencialmente” é empurrada para o fundo do arquivo mental de humanos programados para reagir rapidamente a perigos.

E poucas coisas podem parecer mais perigosas do que um vírus que já infectou 71.000 pessoas e matou 1 770 pessoas (apenas nove fora da China).

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Números inevitavelmente superados a partir do momento em que são escritos.

Isso se forem confiáveis. Uma fonte da Casa Branca já disse que o governo americano “não tem um alto nível de confiança” nos números chineses.

Ninguém tem, para falar a verdade. Principalmente depois que “apareceram” mais 15 mil infectados na semana passada, de uma vez só, devido a uma mudança de metodologia na contagem.

O medo do corona – ou Covid-19, o nome oficial da coisa – já provocou o cancelamento de eventos tão diferentes quanto uma grande exposição de tecnologia de celulares em Barcelona e um desfile militar na Coreia do Norte.

No Brasil, sem um único caso, como em toda América Latina e Caribe, já começam a circular pessoas com máscaras.

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Além do medo, natural, tem a boataria. Um exemplo: o método norte-coreano usado para um infeliz que tentou escapar da quarentena, o fuzilamento.

Quem secretamente não pensou que métodos norte-coreanos podem ser necessários nessa hora?

O pânico é um péssimo conselheiro e gera decisões irracionais, mesmo quando apenas inócuas, como improvisar “máscaras” feitas com garrafões de plástico para os filhos ou coberturas faciais para gatos, uma das novidades na China.

Uma certa dose de medo ajuda a prevenir uma doença para a qual os especialistas dão apenas a frustrante recomendação de sempre: lavar as mãos.

Muito, principalmente depois de usar transportes públicos.

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Como convivemos desde sempre com os vírus, mas variedades mais recentes como Sars e cepas de influenza aceleram os estudos sobre os índices de contágio, os números ficaram mais precisos.

Aviões, trens de metrô e ónibus – além de aeroportos e estações – são ambientes altamente favoráveis à propagação de vírus espalhados pelos jatos invisíveis disparados quando um doente espirra, tosse, segura algum objeto ou mobiliário com mãos contaminadas.

Número preciso: aumentam seis vezes a probabilidade de contágio.

Uma vez expelido, o corona pode continuar ativo por quatro ou cinco dias. Ou até nove, em ambientes frios, entre outras condições favoráveis.

Sem falar na “nau maldita”, o navio de turismo Diamond Princess, ancorado no Japão, que virou um viveiro de corona: já são 454 infectados.

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Os estudos chegam a detalhes incríveis. Um exemplo: aumentar a assiduidade da lavagem de mãos nos dez aeroportos mais “influentes” do mundo reduziria em até 37% as epidemias respiratórias.

O pessoal não colabora? Metade das bandejas obrigatórias na esteira de inspeção de bagagens abriga algum vírus de respiratório comum, seja resfriado ou gripe (estudo da Universidade de Nottingham)?

Pelo menos escolha um lugar mais seguro no avião. Os piores (Emory University, de Atlanta) são os das primeiras seis fileiras logo depois da entrada, à direita, mais as primeiras poltronas adjacentes da parte central.

Os melhores: bem do meio, do lado da janela.

Se estiver em Londres, terá que pegar o metrô como todos os outros mortais? A estação de King’s Cross St. Pancras, eixo nacional e internacional, já apareceu como campeã no índice de pessoas com algum tipo de gripe (15 a 10 infectados por cem mil).

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Ah, sim, o melhor lugar no táxi ou no Uber é bem atrás do banco do motorista. Mas isso só para evitar os eflúvios eventualmente contagiosos dele. Se um passageiro infectado tiver passado por ali…

Melhor ficar em casa. Principalmente se estiver vindo de algum lugar mais suspeito, para preservar os outros de contaminação.

A autoquarentena, duas semanas de retiro voluntário, está entrando na moda. Pega bem para a imagem, principalmente nas redes sociais.

Na China, os números são, como sempre, espantosos. Segundo um levantamento do New York Times, 760 milhões de pessoas, mais da metade da população, estão submetidas a algum tipo de restrição, controle ou vigilância sobre a livre movimentação.

A colaboração voluntária depende do nível de confiança nas autoridades, uma conjunção dificílima de aferir, ainda mais num país sem fundamentos democráticos, incluindo liberdade de expressão e de imprensa.

Nesse quadro, é um espanto o estudo de dois biólogos da Universidade do Sul da China, Botao Xiao e Lei Xiao, sobre “as possíveis origens” do novo corona.

O estudo dá algum embasamento ao que parecia a mais louca teoria conspiratória: a probabilidade de que o vírus tenha “escapado” de algum dos dois laboratórios de alta segurança que fazem pesquisas com doenças propagadas por vírus.

Um deles, o Centro de Controles de Doenças de Wuhan, fica a 280 metros do mercado de peixes e frutos do mar (entre outras coisas) que é considerado o epicentro da epidemia.

Neles eram usados 155 morcegos do tipo Rinolophus afines capturados na província de Hubei e 450 na de Zhejiang. Um pesquisador, segundo os biólogos, relatou um incidente em que foi atacado por um morcego e entrou em contato com seu sangue. O mesmo pesquisador entrou em contato com urina de morcego.

Duas falhas de segurança num ambiente em que tudo tem que seguir protocolos com exigências máximas indicam um problema sistêmico.

Qual a confiabilidade do estudo dos biólogos, que compararam os genomas dos vírus em pacientes humanos e nos morcegos de laboratório, encontrando de “96% a 89%” de coincidência?

E o que vai acontecer com eles?

E quem serão os heróis e vilões da série da Netflix?

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