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Por Vilma Gryzinski
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Como a mãe de Madeleine McCann foi massacrada em vida

Chamada de “fria”, “negligente” e até “magra”, a médica Katie enfrentou suspeitas da polícia portuguesa e repúdio da opinião pública

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 jun 2020, 13h52 - Publicado em 5 jun 2020, 07h21

O que pode ser pior do que ver sua filhinha de menos de quatro anos desaparecer do quarto onde havia sido deixada dormindo com os irmãos gêmeos?

Kate McCann sofreu a resposta na carne: acontecer tudo isso e ainda ser considerada suspeita pelo crime. Aconteceu com ela e o marido, Gerry McCann.

Agora que um pervertido alemão, Christian Brueckner, cumprindo pena por outro crime, foi identificado como o mais sólido suspeito, terão eles a paz para começar a dar por encerrado o ciclo?

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Os grandes olhos azuis e o sorriso infantil de Maddy e o mistério de seu desaparecimento transformaram o crime numa causa célebre, um caso de grande impacto para a opinião pública. 

Na Grã-Bretanha e em Portugal, ocupou manchetes seguidamente.

Um resumo: a família passava férias na Praia da Luz, num sobradinho da rua Dr. Agostinho Silva, construído para turistas num estilo que lembra antigas casas do interior no Brasil.

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Atrás ficavam piscina, quadra esportiva e um restaurante. Foi lá que o casal jantava, em companhia de amigos.

Às 10h07 da noite de 3 de maio de 2007, Kate, que havia deixado a mesa para ver como estavam os filhos, descobriu a cama vazia da menina. Os gêmeos, mais novos, continuavam dormindo.

Ela e o marido, os amigos, outros hóspedes, funcionários do condomínio e policiais passaram a noite procurando a menina.

Deixar crianças pequenas sozinhas não é uma atitude estranha na cultura dos ingleses, em especial estando tão perto.

Esse ato, que dependendo o país é considerado negligente, obviamente se tornou um tormento para o casal de médicos que havia se conhecido num hospital. Tiveram o três filhos, Maddie e os gêmeos, através de fertilização artificial.

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“Nós nem pensamos no assunto, nos sentíamos muito seguros no resort. Pessoas que passam férias há vinte anos lá faziam isso”, disse Kate a uma jornalista do Telegraph quando se completaram 100 dias do desaparecimento de Madeleine.

Sem chorar nem manifestar expressões de desespero, mas com o claro objetivo de mobilizar o público a cooperar o máximo possível, Kate e Gerry davam sucessivas entrevistas.

A atitude inabalável dos dois, especialmente a de Kate, foi “criando um consenso sinistro” de que ela “não agia como mãe desesperada”.

Era “fria”, “calculista”, “estranha”. “Deixava os filhos na creche” para praticar corrida. Até ser magra e loira virou objeto de críticas. Ser de classe média alta também.

“Não somos um país de Terceiro Mundo, temos bons investigadores”, comentou um cidadão português, com ressentimento nacional, quando saiu o livro de Gonçalo Amaral.

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A obsessão do casal em não deixar o caso morrer foi enquadrada na categoria suspeita.

Também não se sabia, na época, que os advogados deles haviam orientado seu comportamento, dizendo que pedófilos sequestradores sentem um prazer sádico em ver pela televisão os pais desesperados de suas vítimas.

Era o mundo ainda pré-redes sociais, mas a fúria irracional da turba funcionava exatamente da mesma maneira.

O comportamento de investigadores da Polícia Judiciária portuguesa contribuiu para isso. 

Quando acontece um assassinato ou desaparecimento sem autor conhecido, dentro de casa, pessoas da família são consideradas potencialmente suspeitas.

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Mas o tratamento reservado a Kate e Gerry McCann ultrapassou vastamente o dever de investigar um crime em todos os seus aspectos.

O chefe dos investigadores, Gonçalo Amaral, apegou-se à hipótese de que o casal havia matado acidentalmente a filha e sumido com o corpo.

Levou-a a extremos, até depois de sair da polícia, quando escreveu um livro, Maddie – A Verdade da Mentira, para defender sua proposta.

A certa altura, a polícia anunciou que havia encontrado traços do DNA da menina no porta-malas do carro dos pais, o que parecia um dado definitivo. O achado depois foi dado por “inconclusivo”.

Enquanto miravam os pais, os investigadores deixaram passar o alemão então com trinta anos que vivia ou numa casinha ou dentro de uma Kombi velha, praticando pequenos furtos e vendendo droga.

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Christian Brueckner era muito mais do que uma alma perdida nos desvãos da vida. Tinha uma ficha criminal nutrida, inclusive por abuso de meninas pequenas. Foi um dos primeiros suspeitos, mas passou pelo crivo.

O crime pelo qual cumpre pena atualmente na Alemanha é estarrecedor. Também foi cometido na Praia da Luz.

Ele invadiu a casa de uma turista americana de 72 anos. Prendeu suas mãos, vedou seus olhos, amarrou-a numa viga de madeira e a espancou com um objeto de metal. Estuprou a vítima e filmou tudo.

Vídeos mostrados a um conhecido, além de uma conversa em que ele se jactou de saber o que tinha acontecido com Maddie quando a imagem dela apareceu na televisão de um bar, levaram às pistas reveladas à polícia alemã.

É possível que o acontecido com Madeleine tenha sido planejado. O outro carro de Brueckner, um Jaguar velho, foi visto passando várias vezes em frente ao condomínio dos McCann.

Só de imaginar o que fez com Madeleine já dá vontade de desaparecer da face da Terra. Mas todos podem ter certeza que Kate e Gerry vão enfrentar as próximas etapas da mesma maneira obstinada.

O casal foi criticado também por levantar dinheiro para não deixar o caso sumir e até pela atitude de David Cameron, o primeiro-ministro da época, de designar uma equipe investigativa especial da Scotland Yard, ao custo de 11 milhões de libras.

Católicos praticantes, eles conheceram a face perversa de uma parte da opinião pública portuguesa e também a generosidade dos frequentadores da Igreja de Nossa Senhora da Luz (ou Candelária, como no Rio de Janeiro).

Durante muitos anos, foram acolhidos e amparados pelos fiéis da igreja que passaram a frequentar assiduamente quando estavam em Portugal.

“Quem pode saber o que uma mãe com um filho desaparecido tem que parecer?”, perguntou Kate à jornalista do Telegraph.

O casal de gêmeos hoje tem 15 anos. Madeleine teria 17. Seus pais sempre manifestaram a convicção de que ela tinha sido sequestrada e estaria viva em algum lugar.

Frequentemente, divulgavam retratos feitos por computador para acompanhar a passagem do tempo.

Devido à notoriedade do caso, muitas “Madeleines” apareceram em vários lugares do mundo. 

Se o monstro preso na Alemanha confessar, os pais ainda enfrentarão o calvário de saber como foram os últimos instantes de vida de sua filhinha. 

É razoável prever que demonstrarão a mesma dignidade que passou por frieza e culpa pelo mais impensável dos crimes.

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