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Cinco coisas vitais que ainda não sabemos sobre o coronavírus

Ele não apenas é novo, como cheio de truques, mas as respostas estão sendo decifradas nos laboratórios e dentro dos corpos dos infectados

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 10 abr 2020, 10h15 - Publicado em 10 abr 2020, 08h13

Quando saímos dessa? Saímos dessa? Cadê a vacina? Cadê os respiradores? Cadê a Inteligência Artificial? Cloroquina funciona ou não? Estas são as perguntas que sapateiam dia e noite em nossas mentes. Para respondê-las, ou chegar o mais próximo possível de uma resposta, dependemos da solução de outros enigmas.

Alguns dos mais intrigantes:

1. A proteção das crianças. Se tudo já parece insuportável como está, imaginem se nossos filhos e netos pequenos também estivessem sendo ceifados. O mundo estaria múltiplas vezes mais enlouquecido.

Fora alguns casos episódicos, as crianças parecem protegidas por uma estranha imunidade: pegam o vírus e, em certos casos, sofrem sintomas leves. São transmissoras eficientes – daí a cruel separação de netos e avós.

Mas o que as protege? Como é possível que em outras infecções respiratórias, incluindo diferentes cepas de gripe, os extremos etários sejam atingidos, enquanto nessa epidemia os mais velhos são a maioria esmagadora, com casos em menor número, mas significativos, também entre adultos mais jovens?

Em primeiro lugar, como tantas outras coisas, médicos e pesquisadores ainda não sabem. A novidade do vírus e a variedade e intensidade dos processos que desencadeia no corpo humanos ainda não permitem respostas definitivas. Medicina e ciência não têm respostas prontinhas para tudo.

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Como os generais, médicos muitas vezes começam a combater uma nova enfermidade com as armas e as táticas da última guerra, as únicas disponíveis, enquanto vão descobrindo as estratégias e os truques do novo inimigo.

O sistema imunológico não inteiramente consolidado das crianças, o que normalmente as exporia a outras doenças contagiosas, pode justamente ser uma das chaves. O novo corona usa proteínas com espículas para “grudar”, infiltrar-se e sequestrar os receptores nas células respiratórias. Uma das teorias, mencionadas na revista Wired, é que as crianças têm menos desses receptores nas vias aéreas inferiores.

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Outra, é mais intrigante ainda, inclusive pelo potencial significado para o tratamento do novo vírus em adulto. Nos últimos três meses, tem sido observado que a reação do sistema imunológico à “invasão” do alienígena pode ser tão prejudicial, ou até mais, do que a própria infecção.

A “síndrome de liberação de citocinas”, uma espécie de contra-ataque em massa ao invasor, é tão intensa que provoca falência múltipla de órgãos, a razão final das mortes por Covid-19.

2. Por que, diabos, o nosso próprio código de proteção, escrito em nossas células, pode acabar nos matando? Em inglês, o processo é chamado de “tempestade de citocinas”.

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Essa “tempestade” tem sido verificada a todo momento nessa epidemia. O paciente começa a ter sintomas da infecção, tem febre, tosse, mal-estar em diferentes graus. Lá pelo sétimo dia, parece melhorar. De repente, desabam. É frequente que, se estão internados, tenham que passar rapidamente para a ventilação mecânica.

“Em 24 horas, estão no respirador”, resumiu para a NPR o médico Pavan Bhatraju, professor assistente da Washington University lotado numa UTI de Seattle. Ele e outros médicos começaram a investigar a “tempestade de citocina” nos casos de coronavírus para tentar entender por que as moléculas que permitem a recuperação natural de tantos infectados acabam se tornando inimigas de outros.

Ao desencadearem um processo descontrolado das células imunológicas, acabam “produzindo muitas moléculas tóxicas e estas moléculas podem causar muito estrago nos tecidos”, simplificou a imunologista Jessica Hamerman. O problema parece estar na “chavinha”, a neutralização do sistema natural de soltar os soldados no organismo e depois esperar que recuem naturalmente.

Outras infecções, virais e bacterianas, podem causar o mesmo resultado deletério. A Gripe Espanhola, a grande pandemia de 1918, pode ter matado assim muitos infectados jovens e saudáveis.

Agora, médicos estão recorrendo, em sistema emergencial, a anti-inflamatórios poderosos e inibidores de citocina. Entrevistados pela NPR disseram ter visto resultados positivos. Evidentemente, têm que esperar para ver o efeito em prazo mais longo.

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3. Qual a eficiência dos respiradores? A pandemia provocou uma corrida mundial aos aparelhos de ventilação mecânica, por razões perfeitamente lógicas. Numa doença sem tratamento, eram o recurso para manter vivos os pacientes em estado grave, com oxigenação dramaticamente em queda e prognóstico inevitável.

A ventilação mecânica é um recurso invasivo e complexo que, em condições normais, já provoca a morte de 40% a 50% dos doentes em estado grave que precisam ser entubados.

No caso do novo coronavírus, a eficácia tem sido mais baixa ainda. Um estudo feito com mais de 700 doentes na Inglaterra concluiu que 66% dos que entravam vivos na ventilação mecânica acabavam não resistindo, muitas vezes depois de duas ou até três semanas na UTI. Em Nova York, os resultados foram piores ainda: 80% ou mais dos pacientes entubados não resistiram.

Qual o motivo? Talvez esteja relacionado exatamente à “tempestade de citocinas”. Alguns médicos, chamados “iconoclastas”, estão tentando alternativas à ventilação mecânica. Escreveu o site de medicina Stat sobre um dos muitos enigmas ainda sem resposta ou sendo decifrados por tentativa e erro:

“A reavaliação está sendo feita por causa de uma observação desconcertante sobre a Covid-19: muitos pacientes têm níveis tão baixos de oxigênio no sangue que já deveriam estar mortos. Mas não estão ofegantes, não têm arritmia cardíaca e o o cérebro não mostra sinais de desligamento por falta de oxigênio.”

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Conclusão: tudo o que sempre valeu para avaliar se um doente precisa ser entubado, ou seja, o nível de oxigenação, começa a ser reavaliado. Inclusive a possibilidade de que máscaras de oxigênio e outros recursos menos invasivos, até o método de virar o paciente para mudar a pressão sobre os pulmões, podem beneficiar um subgrupo de infectados.

Atenção: essa é apenas uma das dúvidas que estão sendo levantadas, não, absolutamente, uma contestação ao uso da ventilação mecânica.

“É difícil mudar de trilho quando o trem está correndo a um milhão de quilômetros por hora”, disse ao site Medscape o médico Cameron Kyle-Sidell, do Maimonides do Brooklyn. “Falei com médicos do país inteiro e está ficando cada vez mais claro que a alta pressão que estamos colocando nos pulmões dos pacientes está afetando os pulmões.”

“Não sabíamos disso”, comentou, referindo-se às doenças respiratórias já com protocolos estabelecidos.

 

4. Desde que os primeiros números consistentes começaram a vir de Wuhan, a tendência foi devidamente registrada: mais homens vão para a UTI e morrem do que mulheres.

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O enigma só aumentou quando o vírus chegou ao Ocidente. Na Itália, algumas UTIs chegavam a ter 80% de homens. Em Nova York, o índice de mortalidade chega a ser o dobro para homens.

Todas as hipóteses – outras doenças, tabagismo, estilo de vida, cuidados de higiene e, acima de tudo, as diferenças de resposta imunológica – continuam a não responder satisfatoriamente esse enigma.

“Existem profundas diferenças por sexo nos sistemas imunológicos e esta pandemia está mostrando isso”, disse ao Wall Street Journal a professora de medicina Marcia Stefanick, de Stanford. “O que é biologia, o que é norma social e o que é diferença de comportamento por gênero confundem nossa capacidade de entender o que está acontecendo.”

Ou seja, com ou sem corona, continua a ser difícil entender as diferenças entre cultura e natureza – provavelmente porque ambas se plasmam e se influenciam em níveis que ainda não compreendemos.

5. Nem adianta mais reclamar da politização, em níveis alucinantes, a respeito da cloroquina (para simplificar). Não apenas políticos e leigos em geral se envolveram de forma descontrolada, mas médicos também.

Na França, o debate é tratado em termos um pouco menos enlouquecidos do que nos Estados Unidos e no Brasil, mas exatamente nas mesmas bases. Ontem, explodiu com a visita que Emmanuel Macron fez ao maior defensor do uso do medicamento, Didier Raoult, um médico de Marselha de barba e longos cabelos brancos, bem parecido com a imagem de alternativo esquisito.

Macron é louco? É um Nero que quer exterminar os franceses? Resolveu passar por cima de seu ministro da Saúde, Olivier Véran? Está fazendo um gesto puramente politiqueiro?

Talvez a resposta – que não é cristalina como tantos anseiam, para um lado ou outro – demore um pouco e venha de um país que está na posição de desarmar o aspecto ideológico. Por determinação do Ministério da Saúde, a Espanha vai começar um teste com 4.000 profissionais de 62 hospitais, de médicos a porteiros.

Os trabalhadores do sistema de saúde são os mais expostos ao contágio (15% de todos os casos na Espanha, mais de 100 médicos já mortos na tragédia da Itália). Divididos em três grupos, os voluntários receberão hidroxiclorina, antivirais usados contra a aids e placebo.

Como a Espanha é governada por uma coalizão de esquerda e extrema-esquerda, a experiência não pode ser acusada de ser produto de uma conspiração maligna de feiticeiros de extrema-direita.

Problema: os primeiros resultados ainda demoram quatro semanas.

Quem aguenta esperar?

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