Cidades americanas viram paraíso de ladrões – nem de armas precisam
Grupos de jovens entram em lojas de luxo e levam o que quiserem, “na moral”; como são negros, imprensa tem medo de noticiar e parecer racista
Bolsas da Louis Vuitton, tênis da Nike, casacos da North Face, acessórios da Bottega Veneta e maconha dos dispensários onde a droga é vendida legalmente. São estes alguns dos alvos mais visados por grupos de ladrões que se unem, desde duplas até bandos com dezenas de integrante, para “limpar” produtos das prateleiras de lojas de Los Angeles, Chicago e, principalmente, São Francisco.
A audácia e a superioridade numérica paralisam vendedores, dispensando o uso de armas. Num dos casos mais recentes, dois homens entraram numa concessionária de carros luxuosos da Magnificent Mile, a avenida cheia de lojas chiques em Chicago.
Usando um martelo, um deles arrebentou o mostruário onde eram expostos relógios da marca Richard Mille – “Uma máquina de corrida em seu pulso” – , no valor de dois milhões de dólares.
Horas antes, um grupo maior havia levado mercadorias no valor de 20 mil dólares de uma loja da Moose Knuckles. Os casacos acolchoados da marca podem custar mais de mil dólares. Concorrem com os da North Face, também alvo frequente dos ladrões.
Outras marcas visadas: Apple, Burberry e Lululemon, de roupas de ginástica.
A situação talvez seja pior em São Francisco, onde já era ruim devido à grande quantidade de pessoas sem-teto vivendo nas ruas e de traficantes agindo como se estivessem na Cracolândia.
Ficaram famosas – ou infames – as cenas envolvendo cerca de 80 homens que atacaram em massa uma filial da Nordstrom, uma tradicional loja de departamentos. Saíram em carros estacionados nas imediações. Era tanta gente que teve congestionamento.
Os roubos acontecem à luz do dia. São captados por câmeras de segurança e aparecem em programas da Fox News ou em jornais conservadores. Outros meios evitam o assunto como se fosse uma batata pelando. Os ladrões são grupos de homens jovens e negros. Equivocadamente, muitos têm medo de mostrar as cenas chocantes e parecer que estão dando vazão a um racismo implícito.
Embora seja uma injustiça brutal como todos os cidadãos negros honestos, é uma realidade dos Estados Unidos de hoje.
Um caso exemplar é o do ator Jussie Smollett e a cobertura quase envergonhada que teve na imprensa. Ele recebeu um veredicto de culpado por armar um falso flagrante de racismo. Contratou dois conhecidos, com um dos quais tinha um relacionamento, para o “atacarem” com ofensas racistas e homofóbicas e colocarem um nó de forca em seu pescoço.
A polícia desconfiou imediatamente tamanha a quantidade de buracos da enrolada versão. Entre outros erros primários, Smollett não entregou seu celular para que os investigadores fizessem uma linha do tempo do suposto crime.
Os irmãos nigerianos contratados para se passar por supremacistas brancos – e, claro, trumpistas – logo foram localizados e entregaram tudo.
A promotoria de Chicago arquivou o caso de falsa comunicação de crime, mas a justiça acabou prevalecendo. No julgamento, Jussie Smollett sentou-se no banco das testemunhas e mentiu reiteradamente. Não é tão bom ator quanto seria de se esperar pelo sucesso de seu personagem na série Império.
O fato de que uma armação como a que ele tentou vender como verdade pode enfraquecer casos reais de agressões racistas não pesou em nada para Melina Abdlulah, líder do Black Lives Matter em Los Angeles. Ela classificou o julgamento de “armação da supremacia branca”, ao forçar o acusado a “enfrentar juízes e jurados que operam num sistema criado para nos oprimir, enquanto continuamos a enfrentar uma força policial corrupta e violenta”.
A narrativa de que a polícia é a fonte de todos os males ganhou força depois do chocante assassinato de George Floyd. A ideia de cortar verbas da polícia ganhou força, mas já refluiu, inclusive em Minneapolis, a cidade onde tudo começou. O aumento da criminalidade convenceu os eleitores a votar contra a substituição da polícia por um “departamento de segurança” voltado para a saúde pública.
A experiência americana é instrutiva pelo efeito espelho que tem. Muitos dos crimes contra o patrimônio aumentam porque promotores permissivos atribuem furtos e outros delitos à condição social desprivilegiada. Eleitores progressistas concordam e, como nos Estados Unidos, juízes e promotores são eleitos, acabam contribuindo para o ciclo de impunidade.
Na Califórnia, por exemplo, furtos em lojas no valor de até 970 dólares, não são levados à justiça.
Recentemente, o governador do estado, Gavin Newson, disse que os prefeitos de São Francisco e outras cidades deveriam ser mais ativos diante dos roubos em massa.
“Não estão apenas roubando produtos e impactando no ganha pão das pessoas, estão roubando a sensação de confiança e pertencimento”, disse o governador ultraprogressista, lembrando que é do ramo comercial – tem uma rede de restaurantes e adegas – e sofreu três roubos no último ano.
Vai adiantar alguma coisa?
Alan Hirsi Ali, a intelectual somaliana que viveu na Holanda e hoje é radicada nos Estados Unidos, onde continua sob ameaça de morte por ter rompido com a religião muçulmana, escreveu que tem presenciado mudanças de hábitos que já viu em países da África e da América Latina: mulheres deixam de andar sozinhas à noite, objetos só ficam em carros bem escondidos e os muito ricos contratam segurança particular.
“Na Califórnia, os que têm fortunas enormes frequentemente são os maiores defensores de leniência com os criminosos. Estes indivíduos, que têm menos contato com o crime, frequentemente são os defensores mais entusiasmados de reformas que reduzem a segurança de americanos médios. Dão dinheiro para a campanha de candidatos democratas que apoiam o corte de verbas para a polícia”.
“Liberais ricos, por algum motivo, sentem mais compaixão por quem comete crimes do que por suas vítimas”.
“Não precisamos de ‘justiça social’, só de justiça e ponto final”.
Temos a impressão de que já ouvimos isso antes.