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Charles e Camilla quase lá: que rei será ele? E que rainha será ela?

Cancelamentos de compromissos importantes e 'mau jeito' fazem presumir que Elizabeth não viverá para sempre e abrem especulações sobre seu herdeiro

Por Vilma Gryzinski 17 nov 2021, 08h35

A coisa mais elogiosa já dita sobre o príncipe Charles partiu da atriz Emma Thompson. “É melhor do que sexo”, declarou ela sobre dançar com um parceiro “carismático e viril”, perfeitamente capacitado a conduzir a mulher nos rodopios.

Nada estranhamente, ela ganhou a honraria de Dama do Império Britânico (usou terninho e tênis na cerimônia para manter a aura de rebelde que participa de bloqueios feitos por militantes ambientalistas, embora voe de primeira classe para posar de progressista).

A pior coisa sobre o príncipe foi dita por ele mesmo. Num telefonema íntimo do tipo em que se fala um monte de bobagens – com a diferença de que o dele foi grampeado e divulgado -, ele sussurrou para a amante, Camilla, que gostaria de viver dentro das calças dela e reencarnar como seu tampão menstrual.

Não é exatamente uma imagem muito sexy, embora poucos possam alegar que nunca incorreram em escorregões constrangedores se expostos à luz do dia. Em outros trechos, ele diz “preciso de você várias vezes por semana” e dá outros sinais, digamos, de que a vida sexual com Camilla era muito intensa e recompensadora.

As gravações foram feitas em 1989 e circularam em 1993. Nunca, nem mesmo quando Diana, já sua ex-esposa, morreu, o direito divino – tal como é visto do ponto de vista dos monarcas – de Charles a se tornar rei pareceu tão periclitante.

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Hoje, aos 73 anos, o herdeiro do trono mais velho dos últimos três séculos, Charles está em situação muito melhor. Tem 54% de aprovação. Longe dos 80% da mãe e dos 78% do filho William (Harry, que era um dos mais populares da família real, foi para o buraco dos 34% depois de largar a família, o país e a aura de adoração que o cercava para fazer carreira solo no mundo do entretenimento/filantropia).

As notícias sobre o afastamento definitivo da rainha já foram grandemente exageradas ao longo das últimas duas décadas. Por causa do lado escocês por parte de mãe, ela é chamada, afetuosamente, de Highlander.

Mas o fato é que a rainha está com 95 anos e, apesar da disposição para se levantar todo dia, colocar o uniforme de trabalho – casaco, chapéu, luvas, uma bolsa Launer e mocassins com saltinho sempre idênticos, feitos por Anello & Davide -, os recentes cancelamentos de compromissos oficiais, anunciados sob a rubrica de um misterioso “mau jeito” nas costas, inevitavelmente alimentaram as especulações de que ela não conseguirá mais ser uma rainha full time.

Quando o código “A Ponte de Londres caiu” circular entre as principais autoridades do país, uma operação extraordinariamente minuciosa será colocada em prática. O primeiro-ministro e todo o gabinete receberão na estação de St. Pancras (a do trem para a França) o caixão real, provavelmente vindo de Windsor, onde ela agora passa mais tempo. Entre a morte e o sepultamento, transcorrerão dez dias de luto fechado.

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Curiosamente, Charles partirá por uma viagem de quatro dias por todo o reino. Já será então o rei Charles III – presumindo-se que não mudará de nome, hoje um protocolo seguido apenas pelos papas.

Os últimos reis Charles não foram exatamente bem sucedidos. O Charles número dois foi derrubado por um golpe parlamentar, um marco na história inglesa. Partiu para o exílio na França e só conseguiu voltar e reassumir o trono, outra peculiaridade inglesa, porque o filho e sucessor de seu antagonista, Oliver Cromwell, era tão ruim que os parlamentares resolveram ficar mesmo com um rei de quem ninguém gostava nem confiava.

Ele anistiou todos os antirrealistas, exceto 50 que assinaram a sentença de morte de seu pai, o primeiro Charles, decapitado em 1649.

Os conflitos com os dois reis Charles abriram a via para a lenta e orgânica construção de uma democracia parlamentar, com os reis tendo cada vez menos poderes até chegar à situação atual, em que desempenham um grande papel simbólico, e quase tudo nas instituições oficiais recebe o selo do monarca reinante, mas é tudo fachada.

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Se o Parlamento votar pela constituição de uma república socialista, por exemplo, o monarca tem que assinar embaixo (já chegou perto disso quando os trabalhistas da velha guarda se tornaram o partido dominante). Se a monarquia for abolida, seu único papel é aceitar e ir para casa. Ou palácio, dependendo do que sobrar do prodigioso patrimônio real.

Charles sabe muito bem que a sobrevivência da monarquia depende da aprovação da opinião pública. Mantém uma equipe enorme que tenta construir uma imagem positiva do futuro rei e plantar que ele pretende enxugar a monarquia, tirando da lista de despesas figuras fora do núcleo familiar central.

Os marqueteiros de Charles também procuram lapidar a imagem de Camilla, ainda prejudicada, 24 anos depois da morte de Diana, pela percepção popular de que foi uma ladra de marido e infernizou a vida da princesa.

A morte de Diana foi, realisticamente falando, positiva para Charles. Passado o período de incerteza, quando ele chegou a temer ser atacado na procissão fúnebre da ex-mulher, ele se livrou do ruído e da exposição constante que a ex-mulher atraía.

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Ser ofuscado por Diana foi um dos motivos do péssimo relacionamento entre os dois. Com ela fora de cena, Charles pode se casar com a mulher que sempre quis e parece levar com ela uma vida estável e cheia de afeto. “My darling wife”, escreve ele quando se refere à mulher em declarações públicas.

Ela vai ser rainha? Com toda certeza. Toda consorte de um rei tem esse título. Sob o impacto da morte de Diana e acuado pela reação furiosa da opinião pública, ele chegou a dizer que Camilla seria a princesa consorte. Mas este é o tipo de tema em que palavra de rei pode voltar atrás.

Charles teve a sorte de se interessar precocemente por temas ambientais e hoje faz disso seu principal instrumento de relações públicas. Para dar provas de que fala sério, mantém o aquecimento em suas casas e castelos em níveis congelantes. Usa casacos e sapatos até acabar e aproveita comidas que sobram.

Numa das raras vezes em que mandou sua assessoria de imprensa desmentir algo foi no caso da história de que, todos os dias, os serviçais trazem sete ovos pochês, embora só coma um, para o caso de que a gema do escolhido não esteja no ponto desejado. Fake news, disseram os porta-vozes.

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Charles fica agoniado com esse tipo de banalidade. Diz que seu único objetivo é se dedicar de todas as maneiras a seu alcance para melhorar a vida das pessoas.

Sem a imagem inatacável e quase beatificada da mãe, respeitada e admirada até por antimonarquistas, Charles não está com a faca e o queijo na mão. Seu maior trunfo, por ironia, é que deve ter um reinado relativamente curto e passar a coroa para o filho, visto com muito mais simpatia.

Por quanto tempo pode durar um regime tão arcaico, embora tenha funcionado bem, no conjunto, ao longo dos últimos mil anos?

Como qualquer evento histórico, a monarquia teve momentos sombrios, terríveis, auspiciosos, inspiradores, brutais e mais todos os adjetivos que possam se aplicar a uma instituição dessas dimensões.

O que reservará o momento histórico para Charles, o príncipe introspectivo de orelhas de abano que hoje é um senhor prestes a iniciar uma carreira numa idade em que seus contemporâneos já estão aposentados?

A escritora Hillary Mantel, autora da premiada trilogia sobre os Tudors, acha que Charles e William ainda serão reis, mas o pequeno George já pegará uma outra era, sem trono nem coroa.

“É muito difícil entender a justificativa para a monarquia no mundo moderno, onde as pessoas são vistas apenas como celebridades”, disse ela.

A favor de Charles e Camilla pode ser dito que desse mal, pelo menos, eles não padecem.

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