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Por Vilma Gryzinski
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Campanha e corona: efeitos na eleição presidencial americana

Suspensão de comícios de principais pré-candidatos democratas é o primeiro resultado direto de uma disputa em condições únicas por causa do vírus

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 19h06 - Publicado em 11 mar 2020, 13h01

O coronavírus é de direita ou de esquerda?

Como é inevitável na era atual, a epidemia foi politizada no pior sentido da palavra.

Em países com governos de esquerda, o vírus é um produto direto da competição capitalista. Ou coisa pior (conspiração sionista ou guerra biológica da CIA, para ficarmos no capítulo das maluquices recentemente mencionadas pelos suspeitos de sempre).

No caso de governos de direita, a culpa é da indiferença pela saúde pública, irresponsabilidade sistêmica e ignorância dos governantes.

Como a epidemia é um acontecimento excepcional, sem precedentes na história recente, acompanhada de uma montanha russa nos mercados de tirar o fôlego dos espíritos mais preparados, ainda não dá para avaliar seus efeitos políticos.

Mas eles já estão se armando nos Estados Unidos.

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Na última semana, os efeitos foram negativos para Donald Trump, criticado até por aliados de direita por não assumir as devidas dimensões da epidemia.

Melhorou, por menos de 24 horas, quando ele fez o que todos os governos, de esquerda ou direita, estão fazendo: uma transfusão maciça de dinheiro, sob a forma de corte de impostos, ajuda a pequenas empresas e outros recursos de emergência.

As bolsas reagiram positivamente. Para despencar logo em seguida.

A coisa está feia para todo mundo.

Para magnificar a imagem de Trump como irresponsável, os dois pré-candidatos democratas, Bernie Sanders e Joe Biden, cancelaram comícios na última hora.

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Se Trump não cancelar os seus, vai ser acusado de colocar em risco a vida de cidadãos inocentes.

É nos comícios em ginásios esportivos que o presidente fala, fisicamente, às bases, criando o ambiente de empolgação que foi tão importante para sua inesperada eleição.

Sanders também estava se beneficiando do entusiasmo das multidões. Mas a máquina do Partido Democrata rapidamente se reorganizou diante da perspectiva de um candidato socialista que pertence apenas por motivos técnicos ao partido e levaria todos juntos, nessa leitura, ao fundo do inferno.

É claro que muitos eleitores democratas comuns também se assustaram e a combinação produziu o ressurgimento de Joe Biden.

E, para Biden, quanto menos comícios ou qualquer outro evento em que exista a possibilidade de escapar do roteiro, melhor.

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Cada vez que abre a boca espontaneamente, vem algum sinal do que Jill Stein, a médica esquerdista que foi candidata do Partido Verde em 2016, chamou nada caridosamente de “declínio cognitivo”.

“Ele já disse que está concorrendo ao Senado, confundiu a mulher com a irmã e esqueceu o nome de Obama”, enumerou Jill Stein, antevendo “oito meses agonizantes” pela frente.

A última de Biden foi ter um ataque de fúria durante o que deveria ser uma simpática conversa com trabalhadores da construção civil que estão expandindo uma fábrica de automóveis em Detroit.

“Você está falando m••••”, exaltou-se o candidato com um dos operários de capacete que o cercavam.

Biden fez vários comentários incoerentes, aos gritos, com o homem que o criticou por pretender “tirar nossas armas”.

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O trabalhador manteve a calma, mas não recuou nem um centímetro. O candidato a presidente, que sempre foi alinhado com os sindicatos, perdeu a cabeça e falou maluquices, inclusive sobre uma tal AR-14 (existe, mal quase ninguém viu, o fuzil semiautomático mais importante da “família” é o AR-15).

É uma discussão importante nos Estados Unidos, onde a garantia constitucional à posse de armas virou uma causa quase que exclusivamente de direita, ao contrário de um passado relativamente recente.

Biden seria um dos poucos remanescentes do Partido Democrata que ainda declaram apoio à Segunda Emenda, com exceção dos armamentos mais sofisticados, usados com frequência nas chocantes matanças coletivas.

Seria, se não tivesse mudado tanto de opiniões. Hoje ainda considerado de centro, seria um extremado esquerdista a seus próprios olhos, alguns anos atrás.

Para derrotar Trump em novembro, ele precisa atrair justamente o tipo de eleitor como o que destratou em Detroit: branco, classe operária, desconfiado de que o governo vai fazer alguma coisa para “tirar nossas armas”.

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A descontrolada irascibilidade de Biden foi acrescentada, pelos adversários, à longa lista de sinais do “declínio cognitivo” mencionado por Jill Stein.

Em palavras mais diretas: indício de demência senil.

Sem falar que todos os principais candidatos estão no grupo de maior risco do coronavírus.

Biden, com 77 anos; Sanders, com 78, e Trump, assumidamente portador de germofobia, com 73, estão todos na faixa etária à qual, inevitavelmente, será recomendado que fiquem recolhidos, como já acontece na Itália e vai se reproduzir em outros países europeus.

Antes de começar a declinar, possivelmente dentro de oito semanas, a doença respiratória ainda vai causar muitos estragos.

A percepção de que as coisas estão melhorando, se isso realmente acontecer, demora mais ainda.

Vai dar tempo de chegar até novembro e influenciar a eleição presidencial?

É relativamente provável que a eleição aconteça ainda sob o impacto da epidemia.

Trump pode ser acusado de muita cosia, mas não de ser ingênuo. Já percebeu que a coisa não é “uma gripe” e certamente notou a dramática atitude do governo de Boris Johnson na Grã-Bretanha.

Sem nem tentar disfarçar o populismo, o ministro da Economia Rishi Sunak abriu o cofre: anunciou 30 bilhões de libras para o Sistema Nacional de Saúde e também para indenizar as pequenas e médias e empresas pela paralisação de funcionários durante os catorze dias de quarentena.

Ninguém nem fala mais a palavra Brexit na Inglaterra, o que dá um bom indício do tamanho da encrenca criada pelo novo coronavírus.

Durante a Peste Negra, a papa Clemente VI consultou físicos e astrólogos (conjunção Saturno e Plutão, claro). Foi aconselhado a se cercar permanentemente de tochas de fogo, o que parece ter ajudado a manter à distância as pulgas de rato que transmitiam a bactéria assassina.

Também assinou duas bulas eximindo os judeus de culpa pela devastadora doença e concedeu a remissão dos pecados a todos os mortos.

Eram tantos em Avignon – a cidade francesa onde sete papas reinaram durante uma das grandes crises da Igreja – que Clemente VI consagrou o rio Ródano para que os corpos, amontoados nas ruas, pudessem ser jogados nele.

É claro que não descuidou em nada do assunto mais importante: manter e, quando possível ampliar o poder papal.

Alguma dúvida de que esta é a preocupação principal dos candidatos a presidente dos Estados Unidos?

Eleição em tempos de coronavírus fica mais especial ainda.

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