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Por Vilma Gryzinski
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Calma, Theresa May: de Napoleão a Hitler, houve casos piores

Primeiros-ministros britânicos enfrentaram guerras globais, o declínio do império e até a perda da América. Sem contar inimigos internos, sempre os piores

Por Vilma Gryzinski 11 jul 2018, 12h02

Ninguém diz as coisas como Donald Trump, para o bem ou para o mal. Encontrar Vladimir Putin pela primeira vez será mais fácil do que enfrentar Theresa May na sua iminente e certamente estrambótica visita à Grã-Bretanha, resumiu com a sutileza habitual.

A primeira-ministra britânica está cai não cai, enfraquecida por um plano para a saída da União Europeia que conseguiu criar o pior dos mundos.

Os que querem ficar continuam, a detestar a ideia; os que querem sair, identificaram todos os defeitos, de torpitude a traição, na proposta que May enfiou goela abaixo dos ministros mais relutantes.

Dois acabaram caindo fora. Um foi David Davis, a quem competia justamente conduzir o Brexit, o que dá uma ideia de como o programa da primeira-ministra é rejeitado entre os mais hostis ao que consideram um contrato de servidão com a burocracia supranacional da UE.

Boris Johnson foi o outro. Ex-prefeito de Londres com uma característica rara, a de membros da elite com grande apoio popular (ou populista, conforme o caso), ele pediu demissão do cargo equivalente a ministro das Relações Exteriores.

O loiro descabelado que faz citações em grego (Eton, Oxford) e exibe uma das mais desalinhadas conformações dentais de um país conhecido pelo descaso com sorrisos certinhos, só pensa naquilo: quer ser primeiro-ministro.

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No momento, está armando a rede. Tem que esperar, embora o clima de alta volatilidade tenha sido restaurado.

Para que o próprio Partido Conservador derrube Theresa May, 15% de seus parlamentares (atualmente, 48) teriam que pedir um voto de não-confiança.

O tradicional “ruim com ela, pior sem ela” tem impedido a fatalidade final. Theresa May pode ter se revelado péssima em muita coisa, mas é boa de disciplina interna (“Ele não aguenta o jeito dela de inspetora de alunos”, disse nada discretamente um amigo de Trump sobre o relacionamento que foi de amistoso e desconfortável entre ambos. A cara dele na reunião da Otan em Bruxelas confirmou tudo).

PUNHALADAS

Mais do que a fúria fria de Theresa, a Terrível (ou a Traidora, outro de seus epítetos mais recentes), os parlamentares conservadores temem uma reviravolta que acabe em nova eleição – e a quase inimaginável, embora possível, vitória do Partido Trabalhista renascido na tradição esquerdista sob Jeremy Corbyn.

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Gente muito melhor do que Theresa May, em termos de habilidade política, já foi catapulta pelo próprio partido. O nome mais conhecido é o de Margaret Thatcher.

Vitoriosa em nada menos do que três eleições, ela levou as punhaladas pelas costas que caracteriza as rebeliões internas nos partidos quando veem que estão sob riscos de perder a boquinha.

Edwina Currie, que foi parlamentar conservadora e ministra da Saúde do governo Thatcher, relembrou no Telegraph os momentos finais da inigualável Dama de Ferro, entre 1989 e 1990.

“Como a senhora May, ela perdia um ministro atrás do outro, mas por gritar com eles nas reuniões de gabinete e humilhá-los em público, não o contrário”, escreveu a ex-deputada.

Thatcher se manteve pelo mesmo motivo que segura May: o medo de uma vitória da oposição.

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“No fim, acabou caindo por três fatores combinados: a recessão que estava quebrando a perna de muitos novos negócios abertos nos anos 80, em relação à qual se recusava a reagir; o imposto único, inteiramente responsabilidade dela, e sua posição em relação à Europa.”

“Sabíamos o tamanho de nossa dívida com Thatcher; sabíamos que era o fim de uma era extraordinária e histórica. Mas também sentíamos que o legado dela era frágil e tínhamos a responsabilidade de garantir a sua sobrevivência. Foi preciso fazer uma escolha horrível. Jamais gostaria de repetir esta experiência.”

Theresa May certamente não deixará de um centésimo do legado thatcherista. Não tem a audácia nem a visão de Thatcher – talvez apenas algo de sua teimosia.

A encrenca que caiu em seu colo, sob a forma da chefia do governo no momento instável e inesperado da vitoria do Brexit, é brava: negociar uma saída que, em vez de piorar, melhore as coisas para o Reino Unido.

“ACE” INCORRUPTÍVEL

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Mas outros primeiros-ministros britânicos enfrentaram coisas bem mais cabeludas. Num reino onde nasceu natural e progressivamente o próprio conceito de primeiro-ministro, consolidando-se quando o rei George I começou a desencanar de participar do conselho de ministros, levando à escolha de um entre seus integrantes para assumir a coordenação, a história é longa e nem sempre amável com os moradores do sobrado número 10 em Downing Street.

William Pitt, o Jovem, tinha 24 anos quando se tornou primeiro-ministro, em 1783, enfrentando os seguintes acontecimentos: o stress pós-traumático da perda da América, a Revolução Francesa e o pânico que provocou em todos os regimes monárquicos, a ascensão de Napoleão Bonaparte e a catástrofe econômica que isso tudo provocou nos cofres britânicos.

O rei, George III, claro, era louco – mais exatamente vítima de uma rara doença sanguínea, desconhecida na época, a púrpura, que provoca alucinações e delírios incapacitantes.

Entre idas e vindas e prodígios políticos alcançados com discrição absoluta, morreu. prematuramente, no cargo, em 1806. Depois da formidável vitória britânica em Trafalgar, mas antes da derrota final de Napoleão.

Morreu com fama de ser incorruptível, ao contrário de uns e outros, e solitário empedernido. Ao contrário do que o termos poderia indicar, aparentemente era assexual, um “ace” como se diz agora.

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O homem que infligiu a derrota final a Napoleão, o duque de Wellington, foi tão péssimo primeiro-ministro quanto bom – e sortudo – comandante militar.

A morte de Spencer Perceval, o único primeiro-ministro britânico assassinado, foi comemorada: o país estava sufocado em gastos e impostos para sustentar as décadas de guerra contra a França.

Perceval foi assassinado em 1812 por um comerciante maluco, do tipo que acha que o governo tem um grande débito a saldar – mas não suficientemente maluco para ser considerado insano e escapar da morte por enforcamento num prazo recorde de menos de uma semana entre o magnicídio e a execução da sentença.

O PIOR DE TODOS

Neville Chamberlain encontrou-se com Adolf Hitler em Bad Godesberg em 24 de setembro de 1938 e desceu do avião na volta à Inglaterra com um papel na mão, dizendo que a paz na Europa estava garantida. Onze meses depois começava a II Guerra Mundial.

Os muitos erros cometidos por Winston Churchill, antes e depois da guerra, foram todos obscurecidos pelo gigantismo político, moral, físico e emocional de sua resistência. Se alguém “ganhou” um conflito de dimensões incomensuráveis, foi Churchill.

Famosamente derrotado nas urnas assim que a rendição incondicional da Alemanha foi assinada, Churchill acabou fazendo seu sucessor, Anthony Eden, considerado por muitos historiadores como o pior primeiro-ministro da história britânica.

Para produzir o monumental fiasco da breve guerra no Egito por causa da nacionalização do Canal de Suez, Eden tramou, mentiu e trapaceou em escala espantosamente estúpida.

Tomado por vários dos efeitos causados pela droga chamada poder, achou que levaria os americanos no papo, convencendo-os de que a invasão militar de um país do Oriente Médio seria boa para todo mundo.

O presidente Dwight Eisenhower, nada menos que ex-comandante supremo das Forças Aliadas, trouxe-o secamente de volta à realidade. “Receio, Anthony, que a partir desse momento nossas opiniões divirjam.”

Disse Margaret Thatcher: “Ser poderoso é como ser uma dama. Se você tem que dizer para as pessoas que é, é porque não é.”

No dia em que pegou sua bolsa Launer, a mesma marca usada pela rainha, e foi embora, ela percebeu isso mais do que nunca.

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