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Cabeça fria até o fim: na despedida, Angela Merkel defende Polônia

Colegas da União Europeia estão uivando de raiva, mas a primeira-ministra alemã segura o freio de sanções que podem abalar estruturas

Por Vilma Gryzinski 25 out 2021, 07h20

As longas cerimônias de despedidas parecem que não vão acabar nunca. Angela Merkel está aproveitando bem o fim de seus dezesseis anos como chefe do governo alemão.

Celebrada como “bússola moral”  e “monumento”, ela ouviu de Charles Michel, o presidente do Conselho Europeu, num dos elogios mais extravagantes, que sua “extrema sobriedade e simplicidade” eram uma “poderosa arma de sedução”.

Por trás da torrente de elogios, muitos burocratas e líderes políticos estão loucos para ver a primeira-ministra pelas costas.

É graças a ela que a União Europeia ainda não começou a aplicar multas na Polônia, país que tem um governo de direita e faz muitas coisas que o establishment europeu não gosta: não aprova casamento gay, não libera o aborto, não aceita refugiados e, motivo do atual conflito, não aceita, em virtude de uma decisão do Supremo Tribunal, que a legislação europeia esteja acima da constituição polonesa.

Questões de soberania nacional são altamente complicadas, pois a dinâmica natural da União Europeia é cada vez mais se sobrepor aos países membros, muitos dos quais continuam a gostar do conceito de estado-nação e não querem se diluir numa entidade supranacional. Esse conflito sem solução foi um dos motivos que levou uma pequena maioria dos britânicos a votar pelo Brexit.

Angela Merkel, que  se tornou uma espécie de fiadora da União Europeia por força natural do peso econômico da Alemanha e pelo respeito e a autoridade conquistados por mérito próprio, acha que poderia ter havido uma solução negociada que evitasse o Brexit.

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Não quer ver os mesmos erros cometidos em relação à Polônia, embora as situações sejam bem diferentes.

A Polônia tem muito menos autonomia do que a Grã-Bretanha, inclusive por não ter mantido a moeda própria, como fizeram os britânicos com a libra. É também o país mais beneficiado pelas verbas da União Europeia, tem 70 bilhões de euros a receber em créditos emergenciais da pandemia, 88% da sua população é a favor de continuar na união e o governo se declara “um membro fiel” do grande grupo.

Se não quer sair, vai ter que se curvar?

A situação se complica aí. Se retroceder, e ainda por cima numa questão envolvendo o Supremo e a iindependência nacional, uma questão existencial na Polônia, o governo se desmoraliza. Se não retroceder, incorre em punições pelo “desafio direto à unidade da ordem jurídica europeia”, nas palavras de Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia. Emmanuel Macron, da França, e Mark Rutte, da Holanda, querem que o castigo comece imediatamente.

Angela Merkel defende mais negociações. Já discursou de forma muito eloquente sobre a importância de manter a Polônia “no centro da Europa”  – um jogo de palavras, tanto pela posição geográfica do país, quanto por sua história, tendo sido tantas vezes invadida e dividida entre as potências vizinhas, Alemanha e Rússia.

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A Polônia na União Europeia é uma garantia de estabilidade e de proteção contra o eterno clima de ameaça criado pela Rússia. Os próprios poloneses entendem isso muito bem. Angela Merkel colocou o peso da merecida estatura a favor de cabeças mais frias. Talvez tenha pesado um pouquinho também o fato de que, nascida Angela Dorothea Kesner, ainda tem a referência do nome ancestral polonês, Kazmierczak, da sua família paterna.

“É imperativo fazer todo o possível para manter a Europa unida”,  apelou ela.

Como está de partida, pode ser que, pela primeira vez, suas palavras não sejam levadas em conta.

Olaf Scholz, seu substituto, do Partido Social Democrata, vai ter o maior prazer em seu unir ao time dos cabeças quentes e ignorar a mulher sob cuja sombra vai ter que mostrar capacidade de liderar a Alemanha e a Europa.

Se criar, mais uma vez, a impressão de que uma Alemanha que intimida a Polônia não estará correspondendo à responsabilidade histórica que seu país, querendo ou não, carrega.

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