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Boris está perdido: ‘Sem sexo, por favor, somos britânicos’

A velha piada é ressuscitada no caso do primeiro-ministro que começou como liberal de centro e acabou regulando quem dorme com quem

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 11 jun 2020, 12h46 - Publicado em 11 jun 2020, 06h23

A Inglaterra vai reabrir os pubs antes das escolas.

A frase acima resume a crise de incompetência e insegurança que assola o governo de Boris Johnson.

Acostumado a conseguir o impossível – Brexit, chefia do governo, Brexit de novo -, o primeiro-ministro está vacilando feio.

Ao contrário do recomendado por seu ídolo, Winston Churchill – “Atitude é uma pequena coisa que faz uma grande diferença” -, Boris se perdeu em gestos esvaziados rapidamente por uma crise fenomenal e dupla, na economia e na saúde.

Tendo entrado no lockdown com cuidados para lutar contra a pandemia sem comprometer “nossas liberdades”, deixou seu governo virar a maior super babá do mundo.

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O emaranhado de regras complicadas chegou ao ponto de proibir que pessoas que têm um relacionamento, mas moram em casas separadas, se encontrassem. 

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Não obviamente pelo relacionamento, mas para manter os domicílios como unidades isoladas.

Mas a medida logo foi apelidada de “sexo proibido” e, supostamente, pouco respeitada. 

No caso de seu assessor para modelagem matemática, Neil Fergunson, comprovadamente – ele deixou a posição no conselho de cientistas por se encontrar com a amante casada. 

As previsões sinistras do Professor Lockdown, agora desacreditadas, deram um tempo.

Agora, com o abrandamento do distanciamento social, os casais podem voltar a se encontrar com uma condição: um deles tem que morar sozinho.

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Boris Johnson pode ter perdido a gana de governar depois que sofreu a versão barra pesada da Covid-19, sendo até atendido em UTI – um lugar ao qual chegam apenas pacientes com grandes complicações respiratórias e do qual uma alta porcentagem não sai viva.

Ou pode não ter compreendido que a atitude recomendada por Churchill tem que ser baseada em atos reais, não encenações.

Quando um governo diz que vai fazer – como reabrir as escolas antes do fim do ano escolar, em julho – e não faz, perde um capital político insubstituível.

Talvez os brasileiros tenham uma vasta experiência nesse campo.

Mas na Grã-Bretanha, com sua tradição de uma máquina administrativa eficiente e azeitada, é chocante ver tanto um primeiro-ministro perdido quanto um sistema sem rumo.

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Chegar à curva baixa das infecções com mais de 40 mil mortos e o índice de 614 óbitos por milhão, o segundo maior do mundo, depois da Bélgica, é um atestado de mau desempenho.

Quantas dessas mortes poderiam ter sido evitadas?

Quantas podem ser atribuídas a uma política que proibia terminantemente que qualquer doente com sintomas de corona fosse a um hospital, recomendando que ficasse em casa ligando para um médico imaginário?

Quantas foram causadas pela decisão do sistema nacional de saúde de mandar de volta os doentes internados provenientes de casas de repouso?

Não apenas na Inglaterra, mas em todos os países europeus, os partidos de oposição, de direita ou de esquerda, são a garantia de que haverá inquéritos.

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Boris Johnson ganhou uma eleição em dezembro, tem maioria no Parlamento e não corre grandes riscos. Ganhou um filhinho também e está de casamento suspenso, pelo coronavírus, com a mãe.

O perigo maior é que tenha perdido a credibilidade e o pulso da dinâmica política.

Antes da explosão da epidemia, ele tinha um plano pouco conservador de abrir os cofres para programas de grandes obras, em benefício, especialmente, de regiões mais decadentes do norte da Inglaterra.

Era um programa que poderia perfeitamente ter sido engendrado por um político de centro-esquerda.

Agora, tem que carregar o que pode ser a maior recessão do planeta – um encolhimento de 13% do PIB – e uma dívida de 15% acima dele.

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Sofreu ainda com o caso do assessor que mais valoriza, Dominic Cummings, o “gênio do Brexit” e, ironicamente, especialista em campanhas públicas.

Como a mulher dele estava com o novo vírus e ele presumia que também seria contagiado, foi para uma casa na fazenda dos pais, imaginando que seu filho de quatro anos precisaria ser cuidado por alguém são.

Flagrado furando as regras da estrita proibição de misturar unidades familiares, teve a cabeça exigida, mas Boris não a entregou. 

Em quatro dias, perdeu vinte pontos no índice de aprovação.

Além das encrencas domésticas – e das negociações sobre o Brexit que têm até o fim do ano para chegar a termo -, Boris Johnson tem um problema importado.

A onda de manifestações nos Estados Unidos tem uma cópia menor, mas idêntica no radicalismo, no Reino Unido.

Depois de ceder na questão da realização dos protestos, uma aglomeração que em tudo desmentiu os prognósticos oficiais de que até um encontro de namorados poderia ser perigoso, ele cedeu na questão do policiamento.

São as prefeituras que cuidam da segurança pública, mas o governo central tem como negociar e, mais importante, proteger monumentos que fazem parte do patrimônio nacional.

Ao querer não parecer repressivo, Boris Johnson pareceu indiferente, como mostram as pichações nas estátuas de Churchill e na rainha Vitória.

É o tipo de coisa que deixa seus eleitores conservadores furiosos e não conquista novos amigos.

O pessoal da versão local do Black Lives Matter e seus companheiros de luta tem por objetivo “desmanchar os sistemas político, econômico e de justiça criminal, e alega que a Grã-Bretanha está nas garras de um regime que oprime pessoas negras sistematicamente“.

Qualquer coisa menos do que isso será recebida com pedradas.

Boris Johnson não precisa ler um artigo da Spectator para saber disso. Mas o próprio fato de estar recebendo críticas da revista, propagadora de um liberalismo altamente esclarecido que seria seu ambiente natural, já mostra como ele está mal na foto.

E propicia manchetes como a do Daily Star: “Boris Johnson confirma que solteiros podem fazer sexo com pessoas com as quais não vivem a partir de sábado”.

Governos podem escapar mais ou menos ilesos a muitos erros, mas raramente sobrevivem ao ridículo.

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