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Boris está de quarentena de novo e esta é a notícia menos ruim

Primeiro-ministro tem que se isolar num momento chave, cede às pressões políticas da mulher e ainda tem que resolver uma encrenca chamada Brexit

Por Vilma Gryzinski 17 nov 2020, 08h36

Se, para tantos de nós, 2020 é um ano pavoroso que não acaba nunca e sempre encontra espaço para piorar o que já estava ruim, para Boris Johnson a desgraça atinge níveis shakesperianos.

E, já que estamos invocando o venerado nome do bardo, vamos lembrar que na terra onde ele criou o mais acabado arquétipo de descontrolada ambição feminina pelo poder, Lady Macbeth, as jogadas de Carrie Symonds, a companheira com quem Boris ia se casar na Grécia se não fosse a Covid-19, impressionaram até os mais frios profissionais da política.

Carrie tem 32 anos – 24 a menos do que Boris -, mas passou rasteira em gente muito mais escolada.

É claro que sua posição privilegiada como companheira de cama e mesa pesou quando ela conseguiu as cabeças de dois dos principais assessores do marido: Lee Cain, que seria o equivalente a porta-voz ou secretário de Imprensa, e Dominic Cummings.

Carrie conseguiu emplacar no cargo de porta-voz uma aliada, Allegra Stratton.

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“Tenho que fazer isso porque, se não fizer, Carrie vai ficar fula da vida”, foi a frase atribuída a Boris, usando uma palavra mais pesada.

Mas Cummings foi o grande escalpo: ele é o complicado e mal-humorado gênio propagandístico que comandou a estratégia de comunicação da campanha pelo Brexit e também da vitória de Boris na eleição que lhe deu maioria de 80 deputados no Parlamento.

Depois dos dois momentos de glória, Cummings pretendia mudar os próprios fundamentos do governo, atacando a máquina burocrática, acomodada, arredia a mudanças e poderosa, como todas as máquinas.

O coronavírus atacou primeiro e, como em tantos outros países, o mundo desabou sobre a cabeça de Boris Johnson.

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Espremido entre as pulsações contraditórios dos conselheiros médicos, que previam uma mortandade avassaladora, e a antecipação da catástrofe econômica, Boris reagiu de maneira intempestiva e indisciplinada.

Saiu desacreditado e desrespeitado no meio de uma crise que está longe de acabar.

Em vários momentos, pareceu que tinha perdido a mão e a cabeça, principalmente depois que foi gravemente atingido pela versão mais deletéria da Covid-19, tendo deixado o hospital apenas uma semana antes do nascimento de seu filhinho com Carrie, Wilfred.

Mesmo já estando imunizado pela doença, agora ele teve que voltar para as duas semanas de quarentena por ter participado de uma reunião com um parlamentar que no dia seguinte testou positivo.

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Não existe Zoom que substitua um chefe de governo em ação ao vivo, ainda mais agora, quando fica cada vez mais próximo o prazo para definir como será o Brexit – negociado, mesmo que com concessões importantes, ou a seco, sem acordo.

Se antes da pandemia as negociações de altíssima complexidade já eram de importância existencial, depois viraram praticamente um caso de vida ou morte.

Como um país com a economia atropelada pela Covid-19 pode se divorciar da União Europeia da maneira menos traumática possível ainda é a pergunta de um quaquilhão de libras.

Nesse quadro de incertezas ou, pior, de certezas sobre o estilo titubeante de Boris, a última crise interna envolvendo uma briga entre o mais importante assessor do primeiro-ministro e sua mulher pega muito mal.

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A popularidade em queda galopante – 66% em abril, no começo da epidemia, 34% agora – não deve ser ajudada pela nova encrenca.

O passar dos séculos adiciona uma pátina respeitável e até impressionante a personagens como Eleanor de Aquitânia, considerada a mais influente rainha consorte da história britânica, tendo sido casada com Luís VI da França e depois com Henrique II da Inglaterra. 

A temporada na prisão, por insuflar a rebelião do filho, o futuro Ricardo Coração de Leão, contra o pai mostra como a guerra dos tronos na Europa medieval envolvia riscos extremos.

Na era contemporânea, os eleitores de países democráticos não costumam gostar de ver cônjuges não eleitos exercer influência política mais além das conversas de travesseiro.

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O caso mais conhecido foi o de Bill e Hillary Clinton. Tendo promovido o slogan “compre um e leve dois” durante sua primeira campanha presidencial, Bill Clinton entregou à mulher assuntos importantíssimos como a reforma do sistema de saúde.

Deu tudo errado. As antipatias despertadas por Hillary estenderam-se até a sua própria e fracassada campanha presidencial.

Toda mulher de chefe de governo que parece ser influente de mais é chamada de princesa, rainha ou, depois de Game of Thrones, Cersei.

Tudo isso aconteceu com Carrie, embora ela tenha se envolvido com Boris Johnson quando já entrava no mundo da política como precoce diretora de comunicações do Partido Conservador.

Como quase todo mundo de sua geração na Inglaterra, Carrie é vegana e parece ter convencido o ex-carnívoro ostensivo Boris Johnson a tentar a dieta.

Mas demonstrou que não é alheia ao esporte sangrento da política. Esfaquear, mesmo que simbolicamente, Dominic Cummings em plena luz do dia não é para qualquer um. Ou uma.

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