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Boris conseguirá vender seu peixe ou perder eleição ganha?

O Brexit está no cerne da disputa eleitoral na Grã-Bretanha, mas também pesam questões eternas, como influência das personalidades e ideologia

Por Vilma Gryzinski 11 dez 2019, 14h35

Todas as últimas eleições britânicas acabaram em resultados opostos aos prognosticados pelas pesquisas.

É isso que ronda as mentes de todos os comentaristas políticos que não querem ser pegos, mais uma vez, de shortinho mais curto ainda do que o usado pelas adolescentes do reino.

Mas não é só por isso que ressaltam como a eleição de amanhã está apertada e a vantagem para o Partido Conservador de Boris Johnson, cada vez menor, pode virar fumaça.

Como o sistema político é o parlamentarismo, diferenças mínimas em obscuros distritos eleitorais podem virar o rumo e dar a vitória a Jeremy Corbyn, nominalmente do Partido Trabalhista, na prática considerado pelo campo adversário como a besta do apocalipse.

Apenas 40 mil votos espalhados em diferentes distritos poderiam permitir a virada. Jeremy Corbyn conseguiria a maioria sem somar um único parlamentar aos atuais 262 de seu partido.

Questões específicas dos diferentes componentes do Reino Unido pesam muito para dar a maioria de 320 deputados que permitir ao líder do partido mais votado ser o primeiro-ministro.

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O maior aliado do Labour, a denominação tradicional dos trabalhistas, é o SNP, o partido independentista da Escócia.

Atualmente, tem 35 deputados em Westminster, o Parlamento nacional.

Embora exista o braço escocês do Partido Trabalhista, a força está com o SNP e sua líder, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon, uma pequenina matadora que sonha em apunhalar, pela frente, os conservadores e os unionistas, contrários à independência.

Jeremy Corbyn prometeu um novo referendo já no ano que vem sobre a independência da Escócia para garantir preventivamente seu apoio.

É coisa de república bananeira: se o resultado de uma consulta popular desagrada uma ala política importante, como aconteceu com o plebiscito de 2014, vamos fazer o povo continuar votando até acertar.

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E não é a única bananice. Os trabalhistas prometem outro referendo para 2020, com duas opções: apoiar um acordo sobre o Brexit que seria renegociado em bases desconhecidas ou simplesmente anular a saída da União Europeia.

A hipótese de ter dois referendos em 2020, sobre temas que já foram votados, é um dos argumentos mais usados pelos conservadores para obter a maioria, aprovar o projeto no qual Boris Johnson conseguiu dar uma maquiada mais favorável e acabar logo com a agonia do sai não sai.

Boris não é exatamente o modelo de estadista dos sonhos dos idealistas. Aliás, nem dos mais pragmáticos.

Mas é a opção disponível.

O apelo ao voto útil vale dos dois lados.

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Quem é contra o Brexit, mas repudia com o ultra-esquerdismo infantil imprimido pela corrente corbinista, do qual o antissemitismo assumido é a característica mais repugnante, acha que vale a pena tapar o nariz e votar mesmo assim no Partido Trabalhista.

O caso mais simbólico dessa tendência foi o do historiador Richard Evans, professor recém-aposentado de Cambridge e autor da vasta Trilogia do Terceiro Reich.

Uma das maiores autoridades mundiais em estudos sobre o genocídio nazista e o processo de desumanização dos judeus que levou a ele, o honrado professor disse que Jeremy Corbyn é desqualificado para ocupar o cargo de primeiro-ministro, mas pretendia votar nele de qualquer maneira.

Imaginem os outros.

Só para dar uma ideia do efeito do antissemitismo praticamente oficializado à esquerda do partido e mal e mal desmentido da boca para fora: 87% dos judeus britânicos, trabalhistas de longa data, não votarão no Labour.

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Do lado conservador, o voto útil é pescado à direita, entre simpatizantes do Partido do Brexit, criado justamente para faturar com o racha dos tories, divididos pelo divórcio com a União Europeia, motivo principal de que a coisa não tenha saído até agora.

Muitos conservadores tradicionais também não gostam do estilo farsesco de Boris Johnson, acham que falta gravitas e sobra histrionismo.

Pior ainda, ele entrou comprando briga com a ala anti-Brexit e forçou demais a mão.

Agora, está dando tudo de si na campanha. Sem nenhum pudor de tirar leite de vaca, examinar peixes no mercado e, mais importante, adotar o estilo populista gastador, abrindo os cofres, pelo menos com promessas de mais verbas para todas as áreas que o povo tradicionalmente mais critica, em especial a saúde.

Nada, obviamente, que se compare à insanidade trabalhista, o partido que promete cortar 33% do preço das passagens de trem (o meio de transporte de quem mora fora das grandes cidades, geralmente profissionais de classe média).

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Sem contar faculdade de graça para todos e banda larga idem, intervenção nos aluguéis e captura imediata de 10% do rendimento das empresas.

Quem não gosta de coisas de graça?

Por isso, Boris tem que ter cautela nas críticas e ressaltar a importância do livre funcionamento da economia e dos resultados historicamente catastróficos do intervencionismo.

A Grã-Bretanha é praticamente uma lição viva

Explorando seu jeito bufonesco, Boris fez até uma paródia da cena famosa da comédia romântica Love Actually (Simplesmente Amor), em que um dos protagonistas aparece com uma série de cartazes na porta da mulher desejada, declarando-se a ela enquanto o marido assiste televisão.

É aquele filme em que Hugh Grant faz papel de primeiro-ministro.

Dá para imaginar a raiva do ator, um anti-Brexit exaltado que pediu votos, de porta em porta, para duas candidatas, uma do partido Liberal Democrata e outra do Trabalhista.

Ver Hugh Grant, considerado insuportavelmente pretensioso, passar raiva talvez seja um dos motivos que tire eleitores de casa e os leve para votar.

O futuro Boris Johnson depende muito de quem se dê a esse trabalho.

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