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Por Vilma Gryzinski
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Aumenta o fluxo de brasileiros que tentam entrada clandestina nos EUA

Podem nem ter bolsa da Gucci, como disse senador Lindsey Graham, mas migrantes da classe média são uma realidade na fronteira

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 out 2021, 09h25 - Publicado em 15 out 2021, 08h04

Os números dizem muito: no ano fiscal de 2021 (que terminou em setembro), 46 280 brasileiros foram apreendidos na fronteira entre México e Estados Unidos. Em 2019, foram 17 893.

Não é uma aventura barata. Uma reportagem da Reuters reconstituiu casos de brasileiros que pagaram até 100 mil reais para tentar uma vida nova nos Estados Unidos. Para bancar um gasto assim, muitos vendem tudo o que têm, carro ou casa, o que já os coloca na classe média.

Talvez por isso o senador republicano Lindsey Graham tenha dito que foi verificar a situação na fronteira na altura de Yuma, a cidade do Arizona que é um dos pontos de passagem em massa de imigrantes clandestinos, e constatou uma miragem.

“Tivemos 40 mil brasileiros passando só pela faixa de Yuma, com direção a Connecticut, usando roupas de grife e bolsas da Gucci. Isso não é mais uma imigração por motivos econômicos”.

“As pessoas veem que a América está aberta. Estão tirando vantagem de nós”.

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Seu assessor de imprensa, Kevin Bishop, insistiu depois que “vimos bagagens e roupas que são extremamente incomuns para alguém que está fazendo uma longa travessia pelo deserto para chegar aos Estados Unidos”. O senador comentou com Bishop que viu bagagens “melhores do que as minhas”.

O senador Graham provavelmente não sabe da indústria de falsificação de grifes que prospera no Brasil. Mas numa coisa está certo: brasileiros que pagam caro a atravessadores são aconselhados a se apresentar bem para não ter problemas na imigração quando chegam ao México como turistas.

O chefe da policia fronteiriça em Yuma, Chris Clem, confirmou o trânsito de migrantes com mais recursos: “Eles descem do avião e pegam um táxi ou ônibus. São literalmente conduzidos até nós, daí só atravessam e se entregam”.

Por causa dessa via de acesso para a imigração irregular, o governo Biden quer que o México volte a exigir visto de brasileiros para entrar no país.

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Pegaria mal para o governo de um presidente populista de esquerda como Andrés Manuel López Obrador bater com a porta na cara dos irmãos brasileiros – incluindo os que vão mesmo fazer turismo no México, um oásis de acessibilidade durante a pandemia –, mas os Estados Unidos têm poderosos instrumentos de pressão.

A entrada por Yuma é a mais usada pelos imigrantes brasileiros: 63% deles passam por lá. Venezuelanos e cubanos entram majoritariamente pela área da cidade de Del Rio, no Texas, que virou um foco de tensão quando 15 mil haitianos acamparam debaixo de uma ponte em condições lastimáveis. A maioria já entrou nos Estados Unidos.

O México não aceita de volta famílias com crianças abaixo dos sete anos, dizendo que não tem como acomodá-las. Também não aceita devolvidos que não falam espanhol.

Seja qual for a faixa social, a imigração clandestina é arriscada e dramática. Na semana passada, circulou um vídeo de cortar o coração: uma família de venezuelanos com crianças pequenas foi interceptada pela patrulha fronteiriça e contou sua saga. Vinham do Chile, onde já eram refugiados do caos venezuelano, mas disseram que o regime de Nicolás Maduro estava mandando agentes infiltrados para ameaçá-los de morte.

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Verdade ou mentira? O alívio e as lágrimas de agradecimento do homem que contou a história eram muito reais, embora se saiba que inventar histórias de perseguição política – ou étnica ou de gênero – faz parte do processo de pedir asilo nos Estados Unidos, a forma mais garantida de entrar legalmente no país.

Como o Partido Democrata, em graus diferentes, defende políticas conciliatórias em relação à migração irregular, a eleição de Joe Biden aumentou significativamente as massas humanas que buscam melhores oportunidades.

A pandemia, com consequências nefastas para países latino-americanos, combinada com a recuperação econômica dos Estados Unidos – um país onde hoje faltam trabalhadores – coincidiu com a eleição de Biden, impulsionando ainda mais o fenômeno.

O descontrole na fronteira com o México é hoje o principal problema de Biden, do ponto de vista da reação da opinião pública. Moradores de cidades inteiras próximas da fronteira têm sua vida radicalmente afetada pelo trânsito em massa.

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A imigração irregular é um dos problemas mais difíceis de resolver para os países ricos. Como tratar com humanidade os estrangeiros que arriscam tudo por uma vida melhor, mas sem descaracterizar as próprias comunidades nem sobrecarregar ose benefícios sociais com massas que nunca contribuíram para ele?

O descontrole migratório foi o principal impulsor da vitória de Donald Trump. Em circunstâncias diferentes, a França está hoje vivendo um fenômeno similar: Éric Zemmour desbancou a candidata da direita pura e dura, Marine Le Pen, como segundo nome preferido para a eleição presidencial do ano que vem. Zemmour prega contra, em termos radicais,  a imigração e a falta de assimilação de muçulmanos provenientes do norte e de outras regiões da África.

O problema da migração irregular preocupa políticos democratas dos estados mais afetados e não apenas republicanos como Lindsey Graham.

O senador pela Carolina do Sul, coronel da reserva da Força Aérea, onde serviu no setor jurídico, tem uma relação vai-e-volta com Trump. O momento atual é de baixa: Trump ficou furioso com um livro do senador que não endossa a tese de que a eleição presidencial foi roubada.

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Graham foi um aliado importante de Trump durante seu governo, transformando-se num dos políticos republicanos mais odiados pela esquerda democrata – a turma mais progressista chegou a insinuar, sordidamente, que ele era chantageado por ser homossexual no armário.

“Se isso tem alguma importância, eu não sou gay”, reagiu, com classe, o senador que nunca se casou.

Se fosse, talvez teria mais chances de reconhecer uma bolsa Gucci verdadeira – o modelo mais simples começa em 5 800 reais – de uma falsa.

Criticar políticos americanos pela linha dura com migrantes ilegais obscurece uma questão muito mais complicada: fazermos um país em que 47% dos jovens não sintam vontade de ir embora, se pudessem,  e várias dezenas de milhares de brasileiros não se arrisquem tanto nas rotas clandestinas.

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