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Por Vilma Gryzinski
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Até que enfim: Brexit aprovado e Boris Johnson consagrado

Pelo menos até o Natal, com muita boa vontade até o Ano Novo, a vida sorri a quem deu duro para selar o divórcio; depois, vem o choque de realidade

Por Vilma Gryzinski 20 dez 2019, 14h17

Boris Johnson merece seu momento de glória, Jeremy Corbyn merece ser tripudiado, a rainha Elizabeth merece um descanso – ainda mais agora, com o marido hospitalizado.

Com o espírito de boa vontade que cerca o período natalino – sem contar o recesso geral –, o primeiro-ministro que conseguiu o aparentemente impossível terá um respiro.

Bem curto.

Fazer o Parlamento aprovar o acordo de separação com a União Europeia, mesmo com dificuldades internas que pareciam insuperáveis, vai acabar parecendo a parte fácil, com o passar do tempo.

E o tempo vai passar muito depressa.

Romper as infinitas florestas de regulamentos, empreendimentos comuns e entendimentos comerciais que uniam a Grã-Bretanha à União Europeia é algo que nunca foi feito antes na história.

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Nem o mais ardente partidário do Brexit pode achar que vai ser fácil.

Aos primeiros resultados negativos – que, inevitavelmente, existirão – e muito antes que os resultados positivos comecem aparecer, as animosidades voltarão a aflorar.

É por isso que ele já se antecipou e prometeu um “Governo do Povo”, no discurso, uma retribuição aos eleitores que abandonaram em massa o Partido Trabalhista e votaram nos conservadores, dando ao partido de Boris a acachapante maioria de 80 parlamentares que destrancou o Brexit.

Na prática, significa fazer o que o povo gosta de ver o governo fazer: gastar e gastar mais um pouco, preventivamente, para contrabalançar potenciais impactos do Brexit.

Na compreensível embriaguez das vitórias sucessivas, e nada, nada fáceis, o círculo mais ligado ao primeiro-ministro já está falando numa era de dez anos com o conservadorismo renovado no poder.

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Aí, evidentemente, mora um dos muitos perigos.

Boris Johnson costumava dizer, antes de virar um conservador populista, que era capaz de recitar, de cor, os cem primeiros versos da Ilíada, em grego, claro – para isso servem os estudos clássicos em Oxford.

Conhece, portanto, perfeitamente, o significado profundo de hubris, a palavra grega que mistura o excesso de confiança dos vitoriosos com a arrogância, sempre resultando em tragédia.

Quando Theresa May foi eleita primeira-ministra pelo Partido Conservador e prometeu que ia fazer o Brexit exatamente como o povo havia votado no referendo, convenceu muita gente. Sua popularidade disparou.

Parecia competente, equilibrada, durona, capaz. Na realidade, não foi nada disso, talvez pela dificuldade interna em fazer algo em que não acreditava.

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Existe, portanto, um exemplo muito próximo de como popularidade e ventos a favor podem durar pouco, pouquíssimo, em política.

A vitória eleitoral de Boris Johnson reverberou muito além da Grã-Bretanha por colocar em choque dois adversários representativos dos tempos atuais.

Jeremy Corbyn é exatamente o que a esquerda de manual, renascida em Marx, depois da fase de se aproximar do centro e abraçar o racionalismo econômico, hoje deseja.

Só esqueceu de combinar com os eleitores tradicionais do Partido Trabalhista, especialmente os fartos da enrolação do Brexit e com o orgulho nacional ferido pelos desaforos da União Europeia.

Falar em orgulho nacional no bioma esquerdista convencional, obviamente, é tabu. E vale, logo de cara, um “fascista”.

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Deu no que deu.

Com cara de ódio mal disfarçado, Jeremy Corbyn ainda se deu ao desfrute de não renunciar imediatamente e acompanhar todos os rituais parlamentares dos últimos dias.

Para piorar, sua falange mais próxima deu de culpados os próprios eleitores – burros, ignorantes, onde foi mesmo que já ouvimos isso – pelo fracasso da liderança do partido.

Ter um trabalhismo enfraquecido apenas amenizará, inicialmente, as dificuldades de Boris, um típico integrante das castas privilegiadas que ainda bebe nas raízes profundas do conservadorismo inglês, mas é antenado com as elites em matéria de comportamento.

E ainda tem uma namorada 24 anos mais jovem, a primeira companheira não casada a morar em Downing Street.

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Agora, ele vai ter que mostrar serviço em áreas quase conflitantes: comandar o Brexit (e levar a culpa por tudo que não der certo); ser um conservador preocupado com o povão (ou que pareça como tal); aplacar as elites da bolha, os inconformados com o divórcio europeu; reinventar o potencial comercial independente do Reino Unido.

E mantê-lo unido – os independentistas da Escócia saíram reforçados da eleição e os anti-unionistas da Irlanda do Norte também estão loucos para aproveitar a brecha do Brexit.

Ser conseguir, ainda que em parte, terá alguns anos em Downing Street – quantos, é impossível dizer.

E talvez seu discurso cheio de otimismo que a rainha leu no Parlamento tenha sido um dos últimos, ou até o último, do longo reinado de Elizabeth II.

Pelo menos, um final digno.

Já pensaram se a rainha tivesse que ser um discurso preparado pela ala marxista-corbinista?

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