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Por Vilma Gryzinski
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As veias corruptas da América Latina e o novo delírio peruano

Um presidente enrolado em pagamentos “daquela” construtora, um político indultado, seus filhos brigados e outros momentos surreais

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h37 - Publicado em 27 dez 2017, 14h59

“Não, não, não, não”. As quatro negativas foram feitas por Pedro Pablo Kuczynski assim que ganhou raspando a eleição para presidente no Peru.

É claro que foram jogadas no lixo. Premido pela sobrevivência política, o presidente de sobrenome difícil, por isso chamado de PPK, deu um presente de Natal ao homem que tantas vezes havia chamado de delinquente.

A melhor coisa que o indultado, Alberto Fujimori, poderia fazer em sinal de agradecimento seria passar dessa para melhor – ou pior, por seus muitos pecados.

Mas as notícias sobre sua morte, nos últimos anos, têm sido amplamente exageradas. Apesar do câncer de língua com várias recorrências , a “doença progressiva, degenerativa e incurável”   mencionada no indulto, Fujimori ressurge num cenário político com elementos tão tortuosos que parecem mais uma cena do realismo mágico – ou amaldiçoado – que permeia a América Latina.

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Seus filhos, por exemplo, não se falam mais. A herdeira, Keiko, que perdeu por pouco a eleição presidencial para PPK justamente pelo voto antifujimorista, não quis negociar o indulto ao pai pela votação contra o impeachment do presidente.

O irmão, Kenji, comandou a abstenção que garantiu a sobrevivência de PPK, enrolado em contratos de assessoria com a construtora mãe de todos os escândalos no Brasil e adjacências.

Um resumo possível: o fujimorismo majoritário votou, de alguma maneira, contra o indulto a Fujimori, garantido por uma dissidência fujimorista.

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Quem vê as cenas de protestos pelo indulto imagina que o ex-presidente beneficiado pela anistia é visto como um monstro irrecuperável pelos abusos antidemocráticos tão absurdos que ele precisou fugir do país, renunciado através de um fax, uma  tecnologia ainda aceitável 18 anos atrás.

Na verdade, Fujimori tem o movimento político mais forte do Peru, com 73 dos 130 parlamentares no mesmo Congresso que ele fechou em 1992, num infame autogolpe.

As barbaridades cometidas na repressão e no maquiavelismo alucinado de sua iminência parda, Vladimiro Montesinos, são vistas por seus seguidores à luz das monstruosidades maiores ainda do Sendero Luminoso, o grupo guerrilheiro maoísta que dominou algumas das lonjuras andinas do Peru.

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O indulto vergonhoso e o ainda nebuloso retorno do indultado criam uma estranha dança política entre dois personagens quase octogenários. Tanto PPK quanto Fujimori têm 79 anos, eram cidadãos mais do que respeitáveis, admiráveis que se fizeram pelos estudos e o trabalho.

O filho de imigrantes japoneses formou-se em engenharia agrícola, estudou física na Universidade de Estrasburgo e fez mestrado em matemática nos Estados Unidos.

Ganhou a eleição presidencial como azarão, concorrendo com ninguém menos do que Mario Vargas Llosa. Muitos peruanos ficaram com medo do escritor que falava a verdade e propunha medidas de austeridade.

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No maravilhoso Conversas na Catedral, o personagem Santiago Zavalla diz uma frase que se transformou em símbolo dos fracassos quase inexplicáveis da América Latina. Em espanhol fica mais poderosa: “En que momento se jodió el Perú?”.

Quando seu autor cometeu a loucura de achar que poderia salvar o país, o Peru estava, por assim dizer, ferrado. O eleitorado queria uma alternativa aos políticos tradicionais . Em vez do fino Vargas Llosa, preferiu El Chino, o engenheiro agrícola com jeito de candidato do povão.

Hoje, ao contrário, o Peru está comparativamente bem. Teria tudo para melhorar mais com Kuzcynski.

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De família de judeus poloneses por parte de pai e suíços católicos por parte de mãe, formado em Oxford e Princeton, ex-economista-chefe do Banco Mundial, com nacionalidade americana e respeitáveis portfólios de investimentos, PPK era o homem para aprofundar a racionalidade econômica e infundir menos drama a um cenário político em que todos os ex-presidentes, a partir de Fujimori, são acusados de corrupção.

Até que apareceu aquela construtora no caminho, sob a forma de contratos feitos quando ele não estava mais na direção, mas irremediavelmente colocados sob suspeição, como tudo o que a envolve.

Para salvar-se, rompeu a palavra dada e indultou Fujimori. Politicamente, também ficou mais fraco. Imaginem que horror um país em que um presidente enfraquecido, acusado de corrupção, faz acordos desonrosos para continuar no poder.

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