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Por Vilma Gryzinski
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Aprendendo a ganhar do terror com a Guerra dos Seis Dias

O passado já era, mas existem lições permanentes: a intenção de proteger populações de atentados fracassa se não houver objetivo de destruir o inimigo

Por Vilma Gryzinski 6 jun 2017, 10h38

Os últimos atentados na Inglaterra expuseram para quem quiser ver praticamente todas as páginas do manual de como um Estado poderoso e altamente equipado pode perder para terroristas armados com facões.

A palavra-chave é simples: medo. Medo de provocar reações negativas. Medo de dar a impressão de comportamento abusivo. Medo de se indispor com a “comunidade”.

E, acima de tudo, medo de enfrentar manifestantes, advogados e políticos dispostos a defender terroristas em potencial como se fosse vítimas de discriminação e do sistema mau que quer impor limites às liberdades públicas.

Imaginem os coitadinhos que não possam viajar para a Síria, o Iraque e o Paquistão fazer seus cursos de graduação em extermínio de crianças, mulheres e homens. Onde ficar o direito de ir e vir?

A parte de vir envolve o retorno desses assassinos munidos de passaportes que lhes conferem o direito inquestionável de voltar dos cursos avançados de terror e esperar o momento adequado para por seus conhecimentos em prática.

GANGUE DOS TRÊS

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Aos que ficam na Inglaterra mesmo, a  liberdade de opinião garante que preguem a extinção de todos os fundamentos do próprio estado de direito. Incluindo democracia, igualdade de todos perante a lei, sexo consensual entre quem tem idade para consentir, emancipação das mulheres. Imaginem só, falar em emancipação das mulheres a essa altura dos acontecimentos.

As revelações sobre o chefe da gangue dos três que tocaram o terror na London Bridge mostram que foi denunciado por vizinhos, “entrevistado” pela polícia, filmado num documentário sobre jihadistas com a bandeira do Estado Islâmico.

E o que aconteceu? O sujeito trabalhou no metrô do Londres, bem na estação de Westminster, a do Parlamento britânico. Ao lado do lugar onde um colega atropelou e esfaqueou cinco.

E o que aconteceu? Foi dispensado, depois de um período de experiência, porque faltava muito. Logo, logo descobrem que levou uma boa indenização. Aliás, o uso de benefícios sociais e bolsas de estudos para financiar terroristas já está bem comprovado na Inglaterra.

Vejam os números: pelo menos 800 ultra-radicais que entraram para o Estado Islâmico e foram praticar atrocidades na Síria e no Iraque estão de volta à Grã-Bretanha. O total de “jihadistas”,  a designação suave, é de mais de 3 000.

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Mas, depois do homem-bomba de Manchester, vieram à tona números que mencionam  23 000 simpatizantes de alguma maneira ativos do extremismo islâmico.

TRINCHEIRA NO QUINTAL

Como os serviços de segurança altamente formados, sofisticados, equipados e experientes deixam passar tantos casos de extremistas que só faltam carimbar “terrorista” na testa?

A explicação deve estar na doutrina, não nos quadros. Entra aí uma pequena história da espantosa Guerra dos Seis Dias, relembrada agora porque completa cinquenta anos.

É difícil para quem vê, hoje, a superioridade bélica, material, pessoal, profissional, estratégica e logística de Israel imaginar que, cinquenta anos atrás, o país enfrentava uma real possibilidade de extermínio.

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Contra Israel, nos campos de batalha, juntavam-se os exércitos de Egito, Síria e Jordânia, mais a participação relativamente simbólica de Iraque e Líbano. Outros sete países, além da OLP, a Organização de Libertação da Palestina, a principal interessada, também participavam.

No livro A Porta dos Leões, de Steven Pressfield, escritor americano que tem a vantagem de ter sido fuzileiro naval, muitos das pessoas que relatam suas memórias sobre os dias antes da guerra-relâmpago lembram como ouviam um famoso locutor egípcio anunciando dia e noite pelo rádio: “Judeus, vocês vão ser jogados no mar”.

“Cortem as gargantas deles” era a música mais popular em Damasco, entoada em manifestações de rua. Moradores da fronteira com a Jordânia viam, literalmente, os tanques enfileirados da Legião Árabe. Alguns cavavam trincheiras em jardins e quintais.

OLHO A MENOS

O general mais famoso de Israel estava aposentado. Moshe Dayan tinha gênio irascível, ego incontrolável, um olho a menos e pensamento estratégico. Ou seja, o tipo de cara que um país precisa quando está em risco de aniquilação.

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Esperava ser chamado de volta pelo primeiro-ministro, Levi Eshkol, por quem nutria desgosto profundo. Enquanto isso não vinha, visitava o fronte por conta própria, fardado e, claro, com um oficial de serviço.

Sua filha, Yael Dayan, descreveu assim no livro mencionado um comentário essencial dele: “Meu pai discorreu sobre a diferença entre ‘intenção’ e ‘objetivo’. Em qualquer ordem do dia, a intenção está acima e é mais importante que o objetivo”.

“O problema de Eshkol era sua intenção de preservar Israel a qualquer custo”, continuou o general. Segundo sua interpretação, Eshkol estava cedendo às pressões dos Estados Unidos para não ir à guerra, pensando que assim alcançaria o objetivo de salvar Israel.

“A intenção do primeiro-ministro tem que ser ‘preservar a nação destruindo as forças que se alinham contra ela’”, concluiu Dayan.

Esta visão salvou Israel e levou o país a uma expansão territorial que criou seus próprios problemas. De forma geral, para Israel é melhor ter hoje estes problemas do que ter sido aniquilado como pretendiam seus inimigos.

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FRAQUEZA DOUTRINÁRIA

A vitória na Guerra dos Seis Dias , posteriormente seguida de concessões negociadas, levou um grande líder egípcio, Anuar Sadat, e seu grande éxercito, sob mediação americana, a assinar um acordo de paz em vigor até hoje.

O único equivalente é o da Jordânia, um país importante, mas muito menor que o Egito. Só isso tem garantido que não haja uma guerra generalizada no Oriente Médio.

É claro que os cabeças dos serviços de segurança da Grã-Bretanha conhecem todas as táticas e estratégias das guerras passadas, simétricas ou assimétricas. É claro que entendem que a batalha travada pelo terrorismo islâmico contra os países ocidentais – fora a guerra dentro das próprias fileiras muçulmanas – ainda está no começo.

E é claro que, como instituições democráticas, precisam lidar também com partidos, organizações  e uma fatia da opinião pública que resiste automaticamente a suas ações.

Muitos são treinados, doutrinados, orientados e, em muitos casos, até pagos para repetir infinitamente que o perigo real é a islamofobia e que qualquer reação ao terrorismo implica em injustiçar inocentes.

Mas é claro também que tem uma fraqueza intrínseca no campo doutrinário, além de operacional. É nisso que a teoria Dayan revela sua importância.

Querem proteger a população britânica a qualquer custo ou levar a destruição ao coração do inimigo? É preferível chorar de alegria em Jerusalém (mesmo que depois enfrentar o medo das facadas) ou passar a vida esperando a aniquilação?

Um dos grandes avanços da civilização é quando se alcança o estágio de não ser necessário fazer esta escolha. Não precisar escolher entre “os nossos filhos ou os filhos deles”. Mas, se escolha for entre crianças e jovens trucidados ou, por exemplo, expulsão compulsória  de jihadistas conhecidos, fichados e gravados, a resposta não é exatamente difícil.

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