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Angela Merkel vai tranquila para o tetra: a Dilma que deu certo

Previsível, burocrática, controladora, sem carisma nem imaginação, a chanceler de ferro deve ganhar quarto mandato por mérito próprio e demérito do resto

Por Vilma Gryzinski 8 set 2017, 12h18

Duas cenas na Alemanha ajudam a entender a tranquilidade permitida à primeira-ministra Angela Merkel por cerca de 40% da preferência na eleição do próximo dia 24.

Uma é pavorosa. Filas diante de um tribunal de Freiburgo mostram que ainda está muito vivo na memória da população o martírio de Maria Landenburger.

Agarrada na rua quando voltava de bicicleta de uma festa na Faculdade de Medicina, que cursava aos 19 anos, ela foi dominada, mordida, estrangulada, estuprada e jogada num rio da cidade.

O crime foi em 16 de outubro do ano passado. Em 3 de dezembro, uma força-tarefa especial de 68 policiais anunciou que havia chegado a Hussein Khavari. É ele que está sendo julgado num tribunal especial para menores.

Desde que saiu do Irã para a Grécia e daí para a Alemanha, onde entrou em 2015 como menor desacompanhado, ele tem 17 anos declarados.

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A promotoria quer um exame radiológico para comprovar que Khavari tem pelo menos 22 anos, idade mais do que aparente. Ainda está sendo debatido se o procedimento não infringiria o direito à dignidade do réu.

Depois do crime, a família de Maria pediu que, em vez de pêsames e flores, os alemães mandassem doações para organizações de apoio a refugiados.

Autoridades locais reclamaram que a Grécia não havia comunicado à Interpol que Khavari, depois beneficiado por anistia, havia sido condenado por assalto e tentativa de homicídio contra uma jovem de 20 anos.

ZEITGEIST REBELDE

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Quebraram a cara: as informações sobre o criminosos condenado constavam de um banco de dados conjunto das polícias europeias. Hussein Khavari beneficiou-se das “fronteiras abertas” por Angela Merkel em 2015. Um entre um milhão de pessoas vindas de países do Oriente Médio,  norte da África e  Ásia Central ou Meridional.

A recuperação da popularidade da primeira-ministra, abalada depois da grande onda humana e dos episódios flagrantes de aumento de criminalidade, dos quais o assassinato de Maria Landenburger é o mais chocante, demonstra que uma parcela expressiva dos alemães fez as contas e concluiu: melhor com ela, e seu único embora monumental momento de decisão intempestiva, do que sem ela.

O que nos leva ao segundo episódio escolhido para ilustrar o obviamente complexo e multifacetado cenário político alemão.

Em Berlim, que é uma cidade-estado, a esquerda está no poder. O prefeito é do Partido Social-Democrata. Verdes e Die Linke, o partido neo-stalinista, compartilham do zeitgeist dos  berlinenses, que se consideram alternativos, rebeldes  e anticapitalistas por definição.

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Foi do Die Linke, literalmente A Esquerda, a iniciativa de proibir “cartazes sexistas”. A publicidade ficaria proibida de fazer outdoors mostrando uma mulher bonita porém “fraca, histérica, burra, desequilibrada, ingênua ou completamente controlada por suas emoções”.

Também entram no índex mulheres sorridentes e com pouca roupa ao lado de homens “de expressão séria e completamente vestidos”. Nada consta sobre outdoors com homens sorridentes de sunguinha e mulheres sérias de tailleur, uma imagem capaz de despertar outro tipo de fantasia.

A insanidade esquerdista, apesar de tipicamente berlinense, também ajuda a explicar por que o Partido Social-Democrata está na faixa dos 25% dos votos.  Martin Schultz descobriu rapidamente que deixar a presidência do Parlamento Europeu para concorrer com Merkel não foi um bom negócio

Só para lembrar: Angela Merkel, promovida de vilã a heroína do progressismo mundial por causa da abertura das fronteiras em 2015, é de direita. Os social-democratas participam do governo de coalizão, mas os abusos mais exagerados ficam confinados ao ministro das Relações Exteriores.

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Sigmar Gabriel se dedica quase em tempo integral a detonar as relações exteriores com os Estados Unidos. Nisso tem bastante simpatia da opinião pública alemã, quase que unanimemente incapaz de entender o impulso desestabilizador e anti-establishment que levou à vitória de Donald Trump.

A BOA GOVERNANTA

Instabilidade e imprevisibilidade é tudo que a maioria dos alemães não quer. E a força de Angela Merkel está justamente em ser previsível, sólida, sóbria, controladora, taticamente inexpugnável, mesmo que sem carisma ou capacidade de inspiração, muito menos o de assumir um papel de líder do mundo ocidental como os antitrumpistas mais delirantes imaginaram.

Não a “mutti”, a mamãe que a propaganda política tenta vender, mas uma boa e confiável governanta. Os números da boa governança: crescimento de 2% ao ano, de fazer o resto da Europa babar de inveja. Superávit orçamentário pelo terceiro ano seguido. Desemprego reduzido à metade desde 2005, quando foi eleita primeira-ministra, ou chanceler, como dizem os alemães, pela primeira-vez.

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Ou seja, tudo aquilo que uma certa presidenta vendida como boa governanta proclamava representar, e até tentou ensinar Angela Merkel a fazer,  com o conhecido e catastrófico resultado.

Isso tudo não significa que o rompante de Merkel ao abrir as fronteiras (depois, entrecerradas de novo) tenha sido superado, tanto na Alemanha quanto na União Europeia, cujas normas foram atropeladas.

Internamente, a decisão da chanceler alimentou o partido Alternativa para a Alemanha, ou AfD, que passou a pregar quase que exclusivamente a linha dura em matéria de imigração e teve avanços regionais. Agora, a AfD está disputando com chances razoáveis o terceiro lugar entre os três partidos menores, uma posição praticamente impensável pré-2015.

Os outdoors de campanha da AfD não passariam no crivo da esquerda berlinense. Um deles mostra três mulheres de biquíni na praia, de costas e a frase: “Burkas? Wir steh’n auf Bikinis”.

Esta é fácil de traduzir: “Burkas? Nós ficamos com os biquínis”. Extrema-direita com senso de humor é uma novidade na Alemanha. E talvez funcione melhor que a opção usada no início, de colocar Angela Merkel com véu negro na cabeça, cercada por minaretes.

“Vinte anos depois da minha morte, tudo estará acabado”, dizia Otto von Bismarck, o chanceler de ferro original, que unificou a Alemanha durante as duas prodigiosas décadas, de 1871 a 1890, em que esteve no poder.

Os alemães estão apostando que, se Angela Merkel completar a extraordinária marca de quatro mandados, as burkas não ganharão dos biquínis.

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