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Alta tensão: avião ucraniano foi derrubado por engano?

Irã nunca permitirá uma investigação neutra da queda do Boeing, tragicamente coincidente com momento de risco máximo de que a situação pegasse fogo

Por Vilma Gryzinski 8 jan 2020, 16h19

Se não fosse pelas vidas envolvidas, inclusive de inocentes que não têm nada a ver com a história, pareceria uma espécie de encenação teatral.

O Irã dispara baterias de mísseis contra bases americanas no Iraque, Nenhum deles atinge o alvo, num padrão Saddam Hussein de incompetência.

Donald Trump responde que “até agora, tudo bem” e o resto do mundo torce para que a coisa pare por aí.

O aumento no preço do petróleo começa a refluir.

Até a alegação absurda de que 80 americanos foram mortos no bombardeio poderia ter uma interpretação otimista: ajudaria a passar a imagem de que o regime iraniano já se vingou pela morte de Qasem Soleimani e até antecipar uma fase que os especialistas chamam de desconflitualização.

(A mão estendida, à moda Trump, depois arrancou um suspiro mundial de alívio tão grande que quase afetou o eixo da Terra. Os mercados entraram em euforia).

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No meio disso tudo, um avião ucraniano pega fogo no ar e se espatifa dois minutos depois de decolar do aeroporto de Teerã, ceifando 176 vidas.

Na maioria de iranianos que usavam uma empresa aérea em situação tão precária que só preços com descontos explicariam uma escala em Kiev como opção para seus destinos finais, na Europa e Canadá.

Existem coincidências em tempo de quase guerra?

Sim, existem, e em qualquer tempo.

Mas o que concluir diante de vídeos mostrando pedaços de fuselagem com buracos extremamente parecidos com os provocados por mísseis antiaéreos que explodem pouco antes do impacto e espalham mortíferas esferas para maximizar o estrago?

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Sem uma investigação profissional e imparcial, nada pode ser cravado.

Problema: o Irã já avisou que as caixas pretas do avião não serão enviadas para a Boeing, a fabricante do 737 ucraniano.

Mais alimento para especulações. A principal delas: o avião de passageiros foi atingido, por erro, num momento de altíssima mobilização bélica.

Todos os equipamentos de defesa antiaérea são feitos de forma a impossibilitar que aviões comerciais sejas confundidos com máquinas de guerra. Inclusive porque se movem como um bicho preguiça entre guepardos, tal a diferença de velocidade.

A ironia máxima é que isso já aconteceu com o Irã. E aconteceu também com o avião da Malaysia Airlines derrubado por um míssil russo quando sobrevoava território ucraniano.

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A tragédia com o voo 655 avião da Iran Air foi um clássico dos erros militares. A situação era pior do que a atual: americanos e iranianos estavam efetivamente atirando uns nos outros durante a “guerra dos petroleiros”, com resultado previsível (um quarto da Marinha do Irã arrasado em um dia).

O capitão do cruzador Vincennes, William Rogers, tinha quatro minutos para decidir se o avião no seu radar era de um caça F-14.

Decidiu incrivelmente errado e matou 290 iranianos. Ronald Reagan escreveu uma nota de pesar e depois fez um acordo de indenização de 61 milhões de dólares.

Alguém imagina o presidente iraniano ou o aiatolá Khamenei, entre os mais surtados depois da explosão de Soleimani, fazendo a mesma coisa?

Não mesmo.

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Aliás, muitos especialistas consideram que a explosão por bomba na bagagem do avião da Pan Am, em 2003, foi uma vingança do regime iraniano e não obra do serviço secreto da Líbia, também por vingança.

William Rogers, hoje com 81 anos, foi exonerado e, posteriormente, até condecorado. Mas que comandante pode levar 290 vidas inocentes na consciência?

Este não parece ser um problema para os três russos e um ucraniano acusados pela comissão especial de Holanda que investigou a derrubada do avião da Malaysian Airlines que ia de Amsterdã para Kuala Lumpur.

Os acusados são da força rebelde criada pela Rússia para lutar pelo separatismo de um pedaço da Ucrânia.

Foi um erro? Muito provavelmente.

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O sistema móvel de mísseis Buk, um equipamento sofisticadíssimo com uma estação de radar e outra para os foguetes, tudo controlado por computador, foi colocado nas mãos do exército irregular por quem?

Vladimir Putin, claro.

Putin manifestou pesar ou pagou indenização?

Nem pensar, claro.

Uma ironia adicional: o conflito da Rússia com a Ucrânia acabou provocando, indiretamente, a aprovação do impeachment de Donald Trump pela Câmara.

Por alguns momentos, durante a atual crise com o Irã, deu até para esquecer do impeachment, fruto do telefonema fatídico de Trump ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sugerindo investigar Joe Biden e seu filho por negociatas muito mal explicadas na Ucrânia.

Agora, Zelensky, pressionadíssimo tanto pelo governo Trump quanto pela oposição democrata, está com a crise do avião que caiu em Teerã no momento mais impróprio que é concebível imaginar.

A Ucrânia primeiro disse , via embaixada, que a hipótese de terrorismo estava descartada, depois voltou atrás.

Zelensky, um humorista de televisão eleito por ucranianos fartos da corrupção terminal dos políticos tradicionais, deve ser um dos presidentes mais azarados do mundo.

Corre o risco de desagradar os Estados Unidos, no governo atual ou numa futura administração, possivelmente de Joe Biden. E de se encrencar com o regime iraniano, ainda cuspindo fogo.

Sobre a sorte ou não de Donald Trump, as apostas ainda estão sendo feitas.

Se – e é um se de proporções astronômicas – a crise com o Irã refluir, vai quebrar a mesa.

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