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Adivinhem qual economia europeia sofreu menos com coronavírus

A da Suécia, o país que não fez isolamento nem quarentena, sofreu um baque considerável em vidas e deixa o resto do mundo obcecado por seus resultados

Por Vilma Gryzinski 3 ago 2020, 08h43

Quarta-feira vai ser um dia importante na Suécia, um país do qual normalmente ninguém espera grandes emoções.

Ainda mais com o seguinte tema: será anunciado o desempenho da economia sueca, medido pelo PIB, no segundo trimestre.

Já há vários indícios sobre o resultado, com projeções de contração de 1,5%. 

É um resultado ruim para a Suécia, mas até invejável para o resto da Europa, onde os tombos no PIB, por causa da paralisia decretada como forma de enfrentar o novo vírus, produziram um verdadeiro massacre da serra elétrica.

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O encolhimento na zona do euro foi o maior da história, 12,1%.

Individualmente, a Espanha foi o país que sofreu o maior estrago, com um tombo trimestral quase inacreditável de 18,5%, num total 22,1% até a metade do ano.

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Outras catástrofes: França, 13,8%; Itália, 12,4%, e Alemanha, com o melhor resultado em termos de combate ao vírus entre os grandes países europeus, 10,1%.

Com um pouco menos, mas ainda um resultado terrivelmente intragável, os Estados Unidos sofreram contração de 9,5%.

Para piorar, todos os grandes países estão passado com aumentos localizados de casos, ainda longe de configurar um transbordamento em termos dos recursos de saúde pública, mas péssimos para a economia.

A perspectiva de que fique havendo um sobe e desce dos contágios cria insegurança e imprevisibilidade, dois dos maiores inimigos do bom desempenho econômico.

Também diminui a possibilidade de uma recessão em “V”, uma queda abrupta seguida por rápida recuperação.

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Ao ter tomado um caminho diferente dos grandes países que bambeiam com a crise econômica, a Suécia condenou a si mesma a ser vista como uma espécie de padrão.

Mesmo os que não ousam falar abertamente, não deixam de se perguntar: e seu tivéssemos feito como a Suécia?

E não adianta dizer que o país enfrentou o vírus com medidas mais brandas, porém restritivas, propondo que quem pudesse e julgasse conveniente passasse a trabalhar de casa.

A escolas permaneceram abertas até o segundo grau, permitindo que as mães (e os pais também, no país pioneiro na divisão de tarefas parentais) continuassem a trabalhar, presencialmente ou remotamente.

O distanciamento também foi aconselhado e praticado em bares e restaurantes que espaçaram as mesas, embora continuassem a funcionar.

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Poucos andam de máscara na rua e sempre por iniciativa própria, embora nos aeroportos e meios de transporte elas sejam oferecidas gratuitamente, junto com um pedido para que sejam usadas.

“Foi uma estratégia que deu resultados”, disse o teimoso responsável por ela, sem intervenções do governo como exige a lei, Anders Tegnell, diretor do serviço de epidemiologia.

Tegnell já admitiu que o país poderia ter feito mais para poupar vidas, mas garantiu que não mudou de opinião sobre o acerto, entre prós e contras, da estratégia escolhida.

Números: quase 5.800 mortes, quase dez vezes ou mais do que os vizinhos escandinavos, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia, comparáveis em termos de cultura política, coesão social, homogeneidade étnica e qualidade de vida.

No dado que realmente dá a perspectiva correta, a Suécia está em sexto lugar em matéria de mortes por milhão de habitantes: 563.

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Acima dela, Bélgica, Reino Unido, Espanha, Peru e Itália.

Os cinco países abaixo são Chile, Estados Unidos, França, Brasil e México.

Como em outros países desenvolvidos, a doença foi especialmente letal entre idosos vivendo em casas de repouso. Quase a metade das vítimas fatais vivia nessas instituições.

As comparações serão muito mais precisas no médio prazo de pelo menos um ano, para mostrar se a imunidade de grupo, um componente importante da estratégia sueca, realmente vai funcionar se houver uma segunda onda no inverno no hemisfério norte, quando aumenta a convivência em ambientes fechados e calafetados, o tipo de lugar em que o coronavírus se dá bem.

Como presidentes de direita, de Donald Trump a Jair Bolsonaro, denunciaram inicialmente os custos devastadores que o lockdown traria para a população, em termos de empregos perdidos e negócios arruinados, a estratégia sueca passou a ser vista sob este prisma.

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Por causa disso, no espectro político do centro até as esquerdas, muita gente passou a torcer, secreta ou abertamente, para que a Suécia se desse mal.

No campo oposto, claro, ocorre o contrário: quanto mais a Suécia não se der mal, apesar do número comparativamente alto de vítimas, mais sólida será a convicção de que agiu da melhor maneira possível numa situação de loose loose – todos estão fadados a sofrer perdas, mas economia e escolas paradas têm efeitos piores ainda do que um alto número de mortos.

“Acho que muitos países deveriam ter pensado duas vezes antes de decretar uma medida drástica como o lockdown”, já disse Tegnell.

“Isso, sim, foi experimental, não o modelo sueco”.

Longe de viver num paraíso imunizado contra a politização que acompanha vários aspectos da pandemia, Tegnell foi condenado por muitos colegas e sofreu até ameaças de morte.

O apoio da opinião pública caiu, mas não chegou a níveis catastróficos. 

Em muitos sentidos, ressalvando-se evidentemente a dor do luto das famílias que perdem parentes, a morte de pessoas idosas impacta menos a sociedade do que doenças que atingem adultos jovens e crianças.

Apesar do jeito despretensioso, Tegnell bem que gosta de proclamar as vantagens de sua política para o coronavírus e espetar os vizinhos, ressaltando os efeitos negativos, dos psicológicos ao educacionais, do lockdown que vigorou por três meses ou mais em países mais afetados.

“São medidas muito mais complexas do que entendemos hoje. Essa doença é muito difícil de entender”.

Quanto a isso, todo mundo concorda.

Sobre o restante, nunca haverá evidências definitivas. Não é possível comprovar taxativamente o que teria acontecido em países afetados de maneira tão brutal como Itália ou Espanha, onde os sistemas de saúde chegaram perto de não aguentar o volume de doentes.

Sem o lockdown, o número de mortes seria muito mais avassalador ou seria apenas relativamente maior, enquanto o impacto econômico faria menos vítimas?

Não existem respostas à prova de contestações.

Adicionalmente, a grande ironia do caso é que a Suécia se qualifica como país que praticamente criou o conceito de estado-babá, com intervenção do estado do berço ao túmulo, para o bem e para o mal.

Na crise do coronavírus, os pacifistas, acomodados e bem amparados suecos se transformaram, via Anders Tegnell, em apostadores audaciosos, dispostos a correr altos riscos e desafiar o consenso médico.

“É como se o mundo tivesse ficado louco e se esquecesse de tudo o que discutíamos”, teima o epidemiologista de 64 anos que tem a jardinagem como hobby e agora vê o aumento de casos em vários países como uma prova de que estava certo: só poderemos nos livrar do vírus quando houver imunização em massa, via vacina ou contaminação natural de uns 70% da população.

“Os casos aumentaram muito e a pressão política ficou muito forte”.

“Daí, a Suécia ficou sozinha”.

Sozinha, sim, mas com todo mundo de olho para saber o que acontecerá lá. 

Os números da economia nessa quarta-feira são apenas mais um capítulo de uma história que ainda tem muito para acabar.

No primeiro trimestre, a Suécia teve crescimento raquítico de 0,1%, enquanto os outros países afetados já entravam no buraco da recessão.

Para encerrar e espalhar um pouco mais de dúvidas: internamente, as críticas ao modelo de Tegnell são da direita porque o governo do ex-metalúrgico Stefan Lofven, o primeiro-ministro que pouco pode opinar, mas obviamente leva os louros ou as pancadas pela estratégia sanitária, é de centro-esquerda.

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