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A vida dos outros: até Joe Biden derrapa na era do zoom

Políticos, celebridades e especialistas acabam entregando mais do que queriam em falas ou performances feitas do confinamento das casas de cada um

Por Vilma Gryzinski 20 Maio 2020, 06h44

Joe Biden quer ser presidente dos Estados Unidos, mas não se dá bem com tecnologia. Coisas banais, como fazer uma live, dar entrevista por Skype ou, basicamente, controlar um celular.

Também pode ser pego por imprevistos impensáveis em tempos normais, como os grasnidos estridentes de gansos selvagens que chegaram a abafar o que discursava para um grupo de simpatizantes muito, muito longe de sua casa.

Além dos gansos barulhentos, um iPhone começou a tocar no meio da história e um agente do Serviço Secreto apareceu, hesitantemente, num canto da tela, no jardim.

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Aos 77 anos, Biden está em isolamento total. Quando resolveu trocar o ambiente habitual, um porão transformado em estúdio que já estava ficando sinistro, foi colocado numa sala, entre vasos de flores, com uma janela ao fundo, dando para o jardim de sua casa em Wilmington, Delaware.

Daí a coisa deu mais errado ainda com a agressiva interferência sonora dos gansos, que latem como cachorros – e até são usados em alguns lugares como cães de guarda (foram os gansos do templo de Juno que deram o alarme e salvaram Roma da infiltração de gauleses, em 370 AC).

Os apuros do candidato democrata que quer varrer Donald Trump do mapa são um retrato divertido da era de bisbilhotagem involuntária que o novo vírus desencadeou.

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Reuniões de trabalho, sessões ministeriais, entrevistas de televisão e apresentações de artistas passaram a ser remotas. Com os envolvidos trancafiados em suas casas ou escritórios.

Levantou-se assim o manto diáfano da fantasia. 

Sem produção, refletores, câmeras profissionais, maquiadores e cabeleireiros, as pessoas passaram a aparecer como são de verdade.

Como o ser humano é louco para saber da vida alheia, livros, fotos e objetos passaram a ser escrutinados – claro que, tendo a opção, todos preferem aparecer com estantes lotadas ao fundo, passando uma ideia de seriedade.

Quando o príncipe Charles falou de seu estúdio – a palavra antiga ainda é usada -, os livros da estante foram decifrados pelos tablóides. 

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O herdeiro do trono está em Birkhall, na Escócia, o seu refúgio predileto. Como já teve Covid-19, poderia aparecer um pouco mais, embora sob o risco de ofuscar a mãe (94 anos e muita boataria de que não vai deixar a segurança do Palácio de Windsor tão cedo) ou até o próprio filho.

Fora fotos de família – os pais, a avó querida, o netinho Archie -, Charles tem livros realmente relacionados com seus interesses, como botânica e um romance policial escrito por um ex-jóquei que virou escritor.

A estante da mulher dele, Camila, um modelo idêntico, também expõe os interesses da família: uma foto de cavalo e outra de cachorro, entre momentos familiares.

Quem causou na era da bisbilhotagem virtual: o empresário que esqueceu de desligar a câmera e foi tomar banho durante a rodada de zoom com Jair Bolsonaro; o jornalista espanhol que falava de um quarto de hotel quando uma beldade usando apenas top apareceu ao fundo, e não era a sua namorada; a virologista que deu entrevista à Sky News com cara de quem tinha saído do banho, com um lenço mal ajambrado na cabeça, com uma infinidade de sacolas de pano penduradas atrás da porta.

Mas o confinamento que realmente pesa, em termos de consequências políticas, é o do homem que está mais cotado pelas pesquisas – sim, sabemos como não garantem nada – para ser o próximo presidente dos Estados Unidos.

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Logo no começo da quarentena, sua casa foi reforçada. Na sala de ginástica, têm pesos, aparelhos e uma Peloton, a bicicleta dos sonhos dos malhadores. No escritório do porão, que não existira, mais livros, bandeira americana e luva de beisebol, fora um aparato de câmeras.

Quando não se atrapalha com a tecnologia, Biden se enrola com as palavras: confunde fatos, números e pessoas, repete chavões que funcionariam muito mal num debate com Trump.

Mas haverá debate? Pelo menos no sentido de um confronto em que os adversários ficam bem próximos um do outro, provavelmente não.

O mais complicado, no momento, é se e quando Biden será realocado no mundo real. Quanto mais precauções que venham a cercá-lo, mais aumenta a imagem de um homem fragilizado pela idade justamente no meio de uma epidemia que tem os idosos como alvos preferenciais.

A vulnerabilidade do candidato a presidente pode provocar empatia, mas na hora de votar muitos eleitores certamente considerarão se é seguro colocar na Casa Branca um homem de 77 anos, ainda mais com o risco de novas ondas da epidemia.

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Ironicamente, o impulsivo, imprevisível, explosivo e nada confiável Donald Trump poderia se configurar como o candidato menos instável.

A pandemia está provocando grandes mudanças – e não foi só Madonna que percebeu isso, deletando o vídeo em que aparece numa banheira de espuma cercada de velas, falando baboseiras.

Uma pesquisa da OnePoll mostrou que a intervenção do governo está sendo cada vez mais demandada, justamente no país com uma forte tradição de repúdio ao estado-babá. 

Com a preocupação primordial voltada para a doença, 84% dos eleitores democratas e 74% dos republicanos se declararam a favor de um sistema único de saúde.

E mais de 80% são favoráveis à perpetuação dos “cheques do governo”, a ajuda emergencial que se transformaria, na prática, num programa de renda mínima.

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Provavelmente, é esta ajuda para a crise que faz com que 62% dos entrevistados declare que o presidente Trump está conduzindo bem a crise – para desespero dos antitrumpistas, certos de que o tamanho da crise, indo proximamente para 100 mil mortos, e o comportamento errático de Trump significavam seu fim.

Dinheiro no bolso é um ótimo influenciador de opinião. Em qualquer lugar do mundo.

Joe Biden tem mais problemas do que a vida em quarentena, gansos grasnando e os malditos botõezinhos do celular.

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