Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A liturgia segundo Matteo: depois da praia, golpe no aliado

Como certos colegas, Salvini não está nem aí para quem demanda compostura no cargo e, de calção, armou pré-campanha populista para governar sozinho

Por Vilma Gryzinski 9 ago 2019, 15h25

De mojito na mão, a barriga projetando-se para fora do bermudão – pança, dizem os italianos – e os olhos fixos nos pontos X de mulheres de biquíni, Matteo Salvini fez exatamente tudo o que não se espera de um político que já é o mais importante da Itália.

Entre tocar o hino nacional na cabine de DJ de um dos barulhentos clubes de praia que lotam no verão e tirar um zilhão de fotos com admiradores, ele também fez o lance mais audacioso de sua carreira: rompeu a coalizão com o Movimento Cinco Estrelas, com quem repartia desconfortavelmente o poder.

Oficialmente, Salvini é ministro do Interior e vice-primeiro-ministro, sendo o outro Luigi Di Maio, o ex-garçom que fez muito sucesso como novidade eleitoral, em especial do sul da Itália, e poucos avanços no jogo bruto do poder.

Extraoficialmente, é quem faz chover e brilhar o sol mesmo num país de alta fragmentação política como a Itália.

Com sua personalidade, pessoal e política, dominante, Salvini quer ser consagrado nessa posição pelas urnas, numa eleição antecipada.

Continua após a publicidade

Daí o “tour das praias”, com a pança balançando, o Twitter bombando e o povo adorando. Pelo menos o povo que transformou o partido de Salvini de exotismo regional em fenômeno nacional.

Originalmente chamado Liga do Norte, o partido pregava o separatismo da região norte, mais desenvolvida e rica. Sua base é Milão e, mesmo tendo se reposicionado no mercado, ainda encontra sérias resistências na parte sul. Atualmente, tem 37% das preferências eleitorais.

Tendo vivido uma década sob os eflúvios do rei de todos os populismos contemporâneos, Silvio Berlusconi, muitos italianos até simpatizam com o estilo nada compatível com a liturgia do poder de Matteo Salvini.

Outros, obviamente, horrorizam-se com a vulgaridade do vice-primeiro-ministro de bermudão, e até um pouco embalado, levando um flamingo inflável para a filha brincar no mar (enquanto o filho passeava num jet ski da polícia, provocando um dos infindáveis confrontos entre jornalistas e o ministro).

Continua após a publicidade

Os mais velhos ainda se lembram de Aldo Moro passeando na praia de terno e gravata, poucos anos antes de ser sequestrado e assassinado pelas Brigadas Vermelhas, em 1978.

Todos os populistas, atualmente um fenômeno mais de direita, têm canais diretos de comunicação com a massa, mas os estilos diferem.

Portas fechadas

Donald Trump, o campeão de acusações de não ser “presidencial”, só tira o terno e gravata para jogar golfe em algum de seus clubes de luxo. Sua perdição é a língua solta, ao vivo ou pelo Twitter. Obviamente, também é o seu vaso conectante com a base.

O húngaro Viktor Orbán é um intelectual que faz longos e sofisticados discursos, comporta-se segundo os padrões da “velha escola” da Europa Central e produz os mais elaborados argumentos contra a imigração extra-europeia e a favor do que chama de democracia antiliberal.

Continua após a publicidade

Formado em estudos clássicos em Oxford, fluente em grego antigo e latim, Boris Johnson apela ao povão com o estilo desarrumado, muitas vezes deliberadamente exagerado. Como Salvini, já apareceu em roupas esportivas e calção, uma visão não muito inspiradora.

Nada, evidentemente, que se compare nem de longe ao uniforme oficial de Hugo Chávez e sua turma, os agasalhos de ginástica com as cores da bandeira venezuelana. Ou aos palavrões ditos pelo apenado de Curitiba quando ainda era tratado como o Iluminado.

O problema do populismo é justamente o sucesso de público que o estilo de seus luminares propicia, com risco de passar por cima das instituições.

Isso, obviamente, nos países onde existam instituições que mereçam ser mantidas e defendidas.

Continua após a publicidade

A popularidade de Matteo Salvini foi turbinada pelo modo assumido e agressivo com que ele fechou as portas de entrada para a migração em massa procedente da África.

No processo, comprou briga com todas as esquerdas, as ONGs nacionais e internacionais e a Igreja tal como representada pelo papa Francisco.

Se der um olé nos companheiros de coalizão e sair vitorioso, Salvini vai fazer um movimento contrário: brigar com a União Europeia pelo relaxamento das exigências de responsabilidade fiscal.

Irresponsabilidade fiscal é praticamente o nome do meio da Itália.

Continua após a publicidade

Misturar conceitos de direita e de esquerda é típico do populismo. Ainda mais quando regado a muitos mojitos e DJs detonando as picapes.

Nem é preciso dizer, mas vamos lembrar assim mesmo: os desmancha-prazeres acham que uma Itália rebelde, e como sempre na beira do buraco, pode desencadear a crise financeira universal que não para de ser prognosticada e que até agora só tem sido desmentida pelos fatos.

Quem será o arauto do fim do mundo, Matteo Salvini ou Donald Trump?

Ou o mundo ainda tem um bom fôlego para resistir?

Na Europa, só quando terminar o verão o pessoal vai pensar nisso.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.