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A guilhotina montada na porta

Ameaça chega à entrada da casa do maior bilionário do mundo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 3 jul 2020, 12h12 - Publicado em 3 jul 2020, 06h00

Do alto de seus inacreditáveis 160 bilhões de dólares, Jeff Bezos achou que conseguiria se safar. O dono da Amazon — e do campeão de antitrumpismo na grande imprensa, o Washington Post — pôs a bandeira do Black Lives Matter no site da megaempresa, usou todos os clichês da linguagem engajada e soltou o dinheiro. Foram 10 milhões de dólares para diferentes organizações de defesa da minoria negra. Está bom? De jeito nenhum. No último domingo, um grupo de jovens montou uma guilhotina de papelão na porta de sua casa em Washington, uma das múltiplas mansões do homem mais rico do mundo. “Quando não temos voz, é hora de pegar as facas”, disse uma das duas branquíssimas jovens com o figurino Antifa que se colocaram à frente do grupo. Reivindicação: extinguir a Amazon.

Quem começa propondo a abolição da polícia, como virou moda entre as múltiplas manifestações desencadeadas pela morte de George Floyd, chega rapidamente ao capitalismo. E aos capitalistas. Grandes empresas americanas captaram o espírito do tempo e enfiaram a mão no bolso. A inundação de dinheiro é de deixar Bezos no chinelo: 100 milhões de dólares da Walmart, a maior rede de varejo do mundo; mais 100 milhões da Apple. A Target foi mais modesta, apenas 10 milhões, como Bezos. Levou uma invasão numa loja em Washington.

“A reivindicação de jovens com o figurino Antifa: extinguir a Amazon de Jeff Bezos”

Nada se compara ao que fez o dono de uma grande rede de lanchonetes, a Chick-fil-A (a pronúncia em inglês equivale a filé de frango, a estrela do delicioso sanduíche da rede). Durante um programa de televisão, Dan Cathy, com fortuna de 6,7 bilhões de dólares, ajoelhou-se e “engraxou” os sapatos do rapper Lecrae, como ato de contrição pela discriminação racial do passado. Engraxou entre aspas, porque o cantor estava de tênis, como todos os outros da sua categoria. Em 2017, a empresa foi ameaçada de boicote por contribuir para organizações evangélicas que são contra o casamento de homossexuais. Em apoio à rede, formaram-se longas filas nas portas das lanchonetes, geralmente de evangélicos identificados com seus valores. O casamento gay não sofreu o menor abalo, mas a empresa deu uma guinada em suas obras filantrópicas, culminando com o momento em que Dan Cathy acabou de joelhos.

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O ato tem um grande valor simbólico porque coincide com os protestos em que diferentes personalidades se ajoelham “contra o racismo”. Isso quando não fazem declarações públicas de pecados de antecessores distantes, ligados à escravidão ou à segregação racial. Tudo lembra cada vez mais os autos de fé, a penitência ritualística dos acusados pela Inquisição espanhola, em geral judeus cuja conversão compulsória ao cristianismo era contestada. E cada vez menos a revolta legítima e necessária para combater a discriminação racial. Alguns espíritos cínicos achariam também que batidas no peito e contribuições generosas são notavelmente parecidas com pagamentos preventivos para evitar, digamos, problemas. Mas Bezos já viu como é difícil escapar da guilhotina. Segundo o delicioso pagode do Grupo Revelação: “Quando o bicho pegar / Não vai dar nem pra correr / E não adiantará / Ajoelhou, tem que rezar”.

Publicado em VEJA de 8 de julho de 2020, edição nº 2694

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