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Por Vilma Gryzinski
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A “dona” da vacina: a alemã que comandou a pesquisa da Pfizer

A microbiologista Kathrin Jansen é uma estrela no mundo das vacinas - ou seja, ninguém a conhecia fora dele, mas isso foi até segunda-feira

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 8 dez 2020, 14h33 - Publicado em 11 nov 2020, 08h10

Kathrin Jensen tinha três anos de idade quando foi dopada pelos pais e colocada num dos três carros da família que aproveitavam os últimos momentos antes da construção do Muro de Berlim para sair da Alemanha sob controle comunista.

A criança havia sido sedada para não contradizer a versão de que uma das tias era sua mãe, enquanto o pai, engenheiro químico, alegava uma entrevista de trabalho para cruzar a fronteira.

Sem que soubesse, estava correndo o risco de perder tudo – exatamente o que viria a acontecer na carreira como microbiologista. 

No desenvolvimento de novos medicamentos, especialmente vacinas, o índice de fracasso é de 90%.

Até que uma das apostas dá certo e é anunciada ao mundo, como aconteceu na segunda-feira. 

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“O caminho que me levou até onde estou hoje como imunologista não foi reto: foi cheio de voltas e guinadas, oportunidades e obstáculos, e cheio de decisões que poderiam ter me levado para um rumo muito diferente”, escreveu ela antes da era da Covid-19.

“Mais de uma vez a sorte teve um papel”.

E que sorte.

Só para dar uma ideia do impacto do anúncio da vacina da Pfizer, usando um padrão incontestável, o dinheiro:

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O dono da Zara (Inditex SA), Amancio Ortega, viu seu patrimônio aumentar em 7,6 bilhões de dólares e um único dia, com a perspectiva de que a vacinação impulsione o comércio a retomar a normalidade, depois de tantos tombos provocados pelo coronavírus.

Outro expoente das roupas e acessórios, mas na categoria luxo, Bernard Arnault, entrou para um clube que, com ele, tem apenas cinco sócios: o das pessoas com fortunas acima de 100 bilhões de dólares (os outros são Jeff Bezos, Bill Gates, Mark Zuckerberg e Elon Musk)

É difícil imaginar Kathrin Jensen usando uma bolsa Louis Vuitton ou um perfume Dior – algumas das marcas de luxo do grupo de Arnault, o LVMH.

Como outra cientista alemã proveniente do Leste na casa dos sessenta anos, Angela Merkel, Kathrin Jensen não se preocupa com roupas, usa um corte de cabelo prático e não pinta as unhas.

Fez carreira entre a Alemanha, a Inglaterra e os Estados Unidos, alternando entre universidades de ponta e grandes farmacêuticas. 

Estava numa das gigantes do ramo, a Merck, quando se tornou uma celebridade do ramo com o sucesso da vacina do papilomavírus humano (HPV), que previne o câncer de colo do útero, na época um projeto arrojado e arriscado.

Outra joia da coroa: a Prevnar 13, a vacina mais vendida do mundo, que reduz em 80% as doenças provocadas pelo pneumococo, a bactéria assassina associada à pneumonia e à meningite, entre outros estragos.

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O papel de Kathrin Jensen não é desenvolver pessoalmente as criações, mas definir os caminhos e conduzir os trabalhos, como uma chefe de orquestra.

Na Pfizer, ela comanda uma equipe de 650 pesquisadores. A título de comparação: Jonas Salk criou a vacina injetável contra a poliomielite com apenas sete cientistas e fundos levantados através de uma campanha de doações do público.

“Saio do caminho porque não precisam de mim no laboratório”, disse Jensen ao site Stat antes do anúncio da eficácia da vacina contra o corona.

Ela mora em Manhattan e o centro de pesquisas da Pfizer fica no Bronx. Muito do seu trabalho foi feito via Zoom – ironicamente, a empresa perdeu valor na bolsa com a perspectiva de uma vacina que torne a comunicação à distância menos vital.

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O financiamento da vacina contra o novo coronavírus foi bancado pela Pfizer. O governo alemão entrou com 445 milhões de dólares. Jensen disse, de maneira não totalmente correta, que o projeto não tem nada a ver com a Operação Velocidade Warp, o braço do governo americano criado para incentivar e acelerar a busca de vacinas contra o vírus.

A Pfizer fez um acordo prevendo a entrega de 100 milhões de doses ao preço de 1,95 bilhão de dólares assim que a vacina for aprovada pelo FDA, o órgão de controle e fiscalização de medicamentos.

Adicionalmente, podem ser vendidas mais 500 milhões de doses.

A vacina – nome oficial: BNT62b2 –  tem que ser administrada em duas doses. Entre outras dificuldades, precisa ser mantida a 70 graus abaixo de zero, o que inviabiliza sua administração em postos de saúde e similares – isso cria um enorme quebra-cabeças logístico.

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A beleza da tecnologia inovadora da vacina, criada pela parceira da Pfizer, a alemã BioNTech, é transformar numa espécie de dublê uma das proteínas do próprio vírus, fazendo com que aja como um agente infiltrado para ensinar o organismo humano a combater o inimigo.

Na Inglaterra, já está sendo feita a mobilização para começar a vacinação com a BNT62b2 a partir de primeiro de dezembro. Ao longo do mês, prevê-se a inoculação de dez milhões de doses.

Outras das vacinas em estágios mais avançados, como a de Oxford e a da Moderna, estão para ter seus resultados anunciados na semana que vem, indicando que 2020, o annus horribilis, pode se aproximar do fim num ambiente mais parecido com o otimismo do que com o desespero dos meses mais sombrios da pandemia.

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