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A corrida da vacina: de guerra fria a competição do bem

Tem espionagem, invasão cibernética, disputa entre Estados Unidos e China, mas também uma torrente de dólares e de colaboração para mover pesquisas

Por Vilma Gryzinski 12 Maio 2020, 05h14

Nunca tantos dependeram tanto de tão poucos. Ou nem tão poucos assim: a busca pela vacina para o novo coronavírus, única forma de sairmos consistentemente do pesadelo, é o maior projeto científico da história da humanidade.

Dos mais modestos aos mais exuberantes, todos os centros de pesquisa do planeta estão na corrida. 

Um número, entre tantos, dá uma ideia da mobilização. Está chegando a catorze mil a quantidade de trabalhos científicos publicados desde o começo do ano sobre todos os aspectos da pandemia. São quatro vezes mais do que os demais estudos voltados para todas as doenças humanas.

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A rede de colaboração não tem precedentes, mas o nível de disputa entre Estados Unidos e China também está atingindo níveis fervilhantes.

No round mais recente, os Estados Unidos acusam a China de mobilizar seus “espiões e hackers mais capacitados para roubar” as pesquisas americanas, segundo descreveu o New York Times.

É claro que as agências americanas de inteligência e guerra cibernética não ficam de braços cruzados, só observando os ataques.

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Nesse sentido, a corrida pela vacina, tão aberta entre os adeptos da ciência colaborativa, também é travada no silêncio virtual da guerra cibernética. 

Na China, cujo regime tem interesse máximo em limpar a barra depois de vários episódios suspeitos de ocultação no início da epidemia, o comando das pesquisas sobre a vacina para o novo vírus é do exército.  

Mais especificamente, o Exército de Libertação do Povo, designação que remete à revolução comunista e abrange todas as forças armadas. Verticalíssimo, portanto.

Para queimar etapas e dar um sentindo conjunto às pesquisas, o governo americano criou um projeto com nome de filme, Operação Warp Speed. 

É o nome do mesmo recurso usado, com liberdade ficcional, em Guerra nas Estrelas para designar as viagens acima da velocidade da luz, conhecidíssimo por nerds de todas as galáxias, embora impossível para a física teórica.

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Na atribulada vida real do momento, a ideia é acelerar e horizontalizar não só as pesquisas, mas também os processos de produção, permitindo o desenvolvimento simultâneo de vários projetos. 

O que for dando certo, continua. O que não der, vai sendo descartado.

Já foram identificados 14 projetos considerados viáveis, entre os 93 iniciais tocados por 80 indústrias farmacêuticas. 

Desses, seis ou oito estão passando em questão de semanas para a fase seguinte, com a perspectiva de que três ou quatro cheguem à fase final, no fim do ano ou em janeiro próximo.

Seria um feito completamente excepcional e contrário ao conhecimento já adquirido sobre as pesquisas sobre vacinas.

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“Posso falar com 100% de certeza? Não”, disse para a rede NBC um integrante anônimo do projeto Warp Speed. “Existe uma probabilidade razoável de que uma ou mais dessas vacinas dê certo”.

“Minha expectativa, otimista, é que descubramos não apenas uma vacina que funcione, mas duas ou três”, disse o diretor dos Institutos Nacionais de Saúde, Francis Collins. 

“Terão características diferentes, de forma que precisaremos ver com quais populações funcionam mais”.

Collins está participando de um outro projeto, paralelo à Operação Warp Speed, chamado Activ (programa de Aceleração de Intervenções Terapêuticas e Vacinas para a Covid-19).

A ambição e o tamanho das parcerias público-privadas são espetaculares. Em termos de números, 46% das pesquisas de uma vacina para o novo coronavírus estão nos Estados Unidos. China, resto da Ásia e Europa têm, por bloco, 18%.

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Os projetos também custam bilhões de dólares, bancados pelo governo, mas ninguém está olhando para dinheiro. Inclusive os grandes nomes da indústria farmacêutica.

Não acreditam? Palavra do integrantes de um dos múltiplos projetos desenvolvidos em Oxford. 

“Vai ter tempo para ganharem dinheiro mais à frente”, disse ao Telegraph o diretor do projeto de inovação científica de Oxford, Jim Wilkinson. 

O nome e a arquitetura tão tradicionais da universidade inglesa, com seus 924 anos, podem passar, para quem está fora, uma ideia errada. Oxford é um centro pulsante de pesquisas, operando em conjunto com empresas que no ano passado registraram 4.312 patentes.

A “vacina de Oxford” está entre os três projetos mais promissores do momento (um chinês e um americano, da farmacêutica Moderna, são os outros).

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O instituto de pesquisas de vacinas de Oxford, cujo nome homenageia Edward Jenner (o “inventor da vacina”, por sua contribuição pioneira para o combate à varíola e à própria palavra que designa a substância), saiu na frente por suas pesquisas já realizadas sobre os vírus da família corona.

“Aqui está a melhor chance de desenvolvimento de uma vacina a curto prazo em todo o mundo”, diz o catedrático de medicina – o título de professor régio ainda é usado em Oxford – John Bell. “Estamos pensando em pandemias há trinta anos”.

Quem vai ganhar a corrida, a vacina de Oxford, a americana  (ou mais de uma) ou a chinesa?

Nunca tantos esperaram tanto por um milagre do conhecimento humano. 

É típico desses tempos estranhos que brote cercado de disputas hegemônicas, competição geopolítica e espionagem, mas também dos mais nobres impulsos de solidariedade, cooperação e compartilhamento.

Seres humanos e suas construções são complicados mesmo e não é um vírus, por pior que seja, que vai mudar isso.

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