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A batalha de Bibi: até generais entram na luta para derrubá-lo

Partidos de oposição têm ombros estrelados para desafiar Benjamin Netanyahu e sua capacidade de sobreviver a situações impossíveis

Por Vilma Gryzinski
20 fev 2019, 17h38

Entre ser temido e ser amado, Benjamin Netanyahu sempre cravou na primeira opção.

A imagem de durão, capaz de defender Israel contra tudo e contra todos, é o que tem garantido ao primeiro-ministro os 25% do eleitorado que vota no partido dele, o Likud, aconteça o que acontecer.

É uma fatia estreita que exige alianças e compromissos de malabarista. Mas a oposição, que vai do centro em direção à esquerda, tem menos ainda desde que o tradicional Partido Trabalhista simplesmente encolheu.

Para contrabalançar a imagem de partido fraco em matéria de defesa, o líder trabalhista Avi Gabbay ofereceu o segundo lugar na lista eleitoral a Tal Russo, um general da reserva com cara de quem não come mel, suga abelha.

Mas a ameaça real ao longo reinado de Netanyahu vem de um outro general, Benny Gantz. Ex-chefe do Estado Maior das Forças de Defesa – que em Israel têm estrutura unificada -, ele criou um partido para disputar a eleição de 9 de abril e estreou com um discurso de uma agressividade poucas vezes vista, mesmo pelos padrões israelenses.

Bibi detonou o xará, conseguiu a hegemonia pela fragmentação da oposição e governou Israel através de “engodos e do medo”. Agora, “pela primeira vez em dez anos, está estressado, com medo e suando”.

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Indo mais além dos termos normalmente usados para desmoralizar o inimigo em campo de batalha, Gantz contestou até o patriotismo de Netanyahu, criticando-o por ter vivido durante anos nos Estados Unidos.

“Enquanto eu passava noites geladas em trincheiras lamacentas, você saiu de Israel para aprender inglês e treinar em coquetéis chiques”.

Hoje, o primeiro-ministro usa “inglês de Boston, maquiagem pesada e ternos de luxo”.

Marca de bala

Bibi realmente estudou no MIT e em Harvard, trabalhou com investimentos (numa empresa de Mitt Romney) e depois foi embaixador de Israel.

Mas, como não deixou de lembrar a Gantz, foi do serviço de operações especiais e tem uma marca de bala no braço para provar sua valentia.

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Numa operação antológica, conhecida por todos os israelenses, Netanyahu fez parte do grupo que, disfarçado com macacões de mecânicos, invadiu um avião sequestrado por extremistas palestinos e estacionado na pista do aeroporto de Tel Aviv.

Dois sequestradores foram mortos e duas mulheres do grupo, presas. A arma de um comando israelense disparou acidentalmente quando ele bateu com a coronha na cabeça de uma das sequestradoras, atingindo Netanyahu no braço.

Jogado na pista com o macacão branco empapado de sangue, ele viu quando o irmão, Yoni, correu em direção a ele com ar preocupado.

Quando viu que o ferimento não era grave, Yoni, preterido na operação para que dois irmãos não arriscassem a vida ao mesmo tempo, disse com judaica teimosia: “Eu avise que você não deveria vir”.

Yoni foi o único israelense morto em outro resgate mais famoso ainda, o do aeroporto de Entebbe, em Uganda.

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Isoladamente, Benjamin Gantz não ameaça Netanyahu, um grão-mestre da sobrevivência política que já enfrentou até uma campanha de oposição apoiada por Barack Obama (para se vingar, menos de um mês antes de deixar a Casa Branca, o ex-presidente americano mandou a embaixadora Samantha Powers se abster de uma votação na ONU condenando Israel pelos assentamentos em território palestino).

O problema é se o general da reserva conseguir a aliança com o partido de centro liderado por Yair Lapid, o fotogênico ex-apresentador de um programa de entrevistas na televisão.

Gantz propôs até que cada um deles fosse primeiro-ministro num sistema rotatório, uma complicação em qualquer país e muito mais ainda num país como Israel.

Segundo a pesquisa mais recente, um bloco entre os dois partidos teria 34 votos – um a mais que o Likud.

Filho no Twitter

Preventivamente, Netanyahu está tentando atrair um partido religioso ultranacionalista. É uma espécie de pacto com o Rabudo, pois daria um lugar num futuro governo à ideologia mais extremista.

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Esta corrente política foi criada por Meir Kahane, um rabino americano que pregava a cassação da cidadania ou a pura e simples expulsão da Grande Israel de todos que não fossem judeus.

Cerca de 20% da população israelense é de árabes, na maioria muçulmanos, mas também cristãos e drusos.

A mesma ideologia radical orientou Yigal Amir no assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, em 1995.

Familiares de Rabin e políticos trabalhistas acreditam até hoje que Amir foi incitado por Netanyahu.

As respectivas famílias se odeiam. O descontrolado filho de Netanyahu, Yael, trocou tiros pelo Twitter com o neto de Rabin.

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Jonathan Benartzi acusou Netanyahu de ter sido “o mais covarde dos soldados”, comprometendo operações militares das quais participava.

“Seu avô é que fugiu de todas as batalhas e teve colapsos nervosos, principalmente na Guerra dos Seis Dias”, respondeu Yael.

Filho rápido no Twitter é sempre um problema. Ainda mais um falastrão como Yair, que já chegou a ser suspenso do Facebook.

Benjamin Netanyahu é um osso duro de roer, maquiavelicamente capaz de seguir os mais realistas – ou cínicos – mandamentos do poder.

Para aproveitar uma janela de oportunidade, antecipou as eleições, mesmo sabendo que entraria em campanha com três possíveis processos por corrupção pairando sobre sua cabeça.

De forma geral, o eleitorado israelense tem caminhado para a direita. É um processo alimentado pela descrença na possibilidade de que um acordo de paz com os palestinos traga mais segurança ao país, o medo da corrida nuclear no Irã e a brutal radicalização político-religiosa em vizinhos muçulmanos.

Quando Netanyahu se tornou primeiro-ministro pela segunda vez, em 2009, seria impensável a aproximação com um partido assumidamente racista como o Otzama Yehudit, que vive nas franjas da lei.

A pose de durão e o ataque brutal a Bibi fazem parte da estratégia de Benny Gantz para se firmar nesse cenário, onde entrou enfraquecido pela disposição a apoiar o acordo nuclear com o Irã, aprovado numa encarnação anterior do governo americano.

“Benny Gantz, você deveria ter vergonha”, respondeu Bibi. “Fui ferido em combate com terroristas e quase perdi minha vida numa troca de tiros no Canal de Suez pela segurança do país que você quer arriscar com retiradas unilaterais e apoio a um acordo perigoso com o IrNa.”

A batalha dos dois Benjamins não é para fracos.

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