Minha avó em Miami Beach, no ano passado

Minha avó tem 94 anos mas não gosta de ser chamada de idosa. Nada mais justo, pois ela também não se comporta como uma. Dona Magnólia, ou Noli, como todos nós a chamamos, diz que é vintage. Com mais energia do que muita gente (eu, muitas vezes, me incluo nesta lista), está sempre disposta a sair de casa. Seja para ir até a padaria ou para passar uma semana em Nova York.

Sempre fascinada por história e apaixonada por mapas e globos terrestres (ela tem um no quarto), desde que descobriu as maravilhas de viajar e conhecer novos países não parou mais. Pelo menos uma ou duas vezes por ano lá está ela de malas prontas para conhecer mais um destino.

Paris, Praga, São Francisco, Miami, Grécia, Vancouver, Itália, Budapeste… a lista de lugares por onde ela esteve nos últimos anos é grande.

Mas apesar do pique e da disposição de uma adolescente que ela tem, viajar com uma pessoa de mais idade requer alguns cuidados a mais para evitar imprevistos que possam estragar a viagem. Nada muito complicado, mas o fundamental é se preparar antes de partir.

Preparei um pequeno roteiro de coisas que sempre faço quando vou viajar com minha avó e que pode te ajudar da próxima vez que você tiver algum companheiro de viagem “vintage” em seu grupo 😉

Nós duas no avião rumo à França

1. Escolha bem o seu destino

Meu sonho é levar minha avó para o Japão. Mas, por conta de distância e das horas de voo que isso implicaria, acho que só quando eu tiver grana para pagar bilhetes de executiva para as duas… Ao viajar com uma pessoa mais velha, é sempre importante pensar não apenas no deslocamento, tentando evitar voos com muitas conexões ou esperas longas demais em aeroportos, como pensar também na acessibilidade do seu destino. A Europa, por exemplo, é maravilhosa, mas muitas cidades são complicadas para fazer turismo com idosos. Muitas escadas, dificuldade de encontrar banheiros, é preciso fazer muita coisa a pé ou de transporte público, etc. Nos EUA, por exemplo, já acho bem mais fácil. Outra opção também para viagens muito longas, é fazer uma parada de uma noite ou até dois ou três dias no “meio do caminho”, para dar tempo de seu companheiro “vintage” se recuperar para a próxima etapa.

2. Consulte um médico antes de ir

Essa dica é super importante. Só o médico da pessoa poderá dizer se ela está mesmo em condições de enfrentar longas horas de avião e dias longe de casa. É importante também pegar receita de eventuais medicações que poderão ser necessárias durante a viagem. E o médico pode ainda dar alguns conselhos para minimizar os efeitos da viagem. Nunca deixe de avisar seu médico da viagem, mesmo que por telefone. Em casos de pessoas que possam necessitar algum tipo de ajuda, o médico também pode ajudar a indicar eventuais hospitais/clínicas em seu destino.

3. Faça um seguro saúde

Na verdade esta dica vale para idosos ou não e não me canso de repetir. Hoje em dia é super fácil fazer um seguro de viagem e na internet há várias opções. Muitos cartões de crédito também oferecem algum tipo de assistência médica no exterior, em geral quando a passagem e comprada com ele (consulte o seu para saber!). Alguns planos de saúde no Brasil também oferecem assistência no exterior. Consulte o seu para saber se você tem direito.  No caso da minha avó, por conta da idade, não são todas as empresas que fazem seguro. Da última vez que viajamos, compramos o da Assist Card. Por sorte não precisamos dele!

Com a estátua da Liberdade, em NY

4. Ajude na hora de fazer a mala

Falo por experiência própria… Quantas vezes não paramos no raio-x do aeroporto porque minha avó colocou aquele tubo gigante de spray de cabelo na mala de mão ou aquela tesourinha de cortar a unha que ficou esquecida dentro da bolsa? Para evitar sustos como estes ou que alguma coisa importante acabe ficando em casa, não custa nada reservar alguns minutos e ajudar seu idoso a fazer uma boa mala (se quer dicas para isso, dá uma olhada neste post aqui). Sente com ele, faça uma lista, veja como vai estar o tempo no seu destino, escolha sapatos confortáveis e seguros e sempre coloque um casaquinho a mais, já que eles tendem a sentir mais frio.

5. Avise a empresa aérea que se trata de um idoso

Isso pode ser feito na hora da compra da passagem, seja por telefone ou mesmo na internet. A maioria das empresas aéreas, inclusive, oferece cadeiras de rodas para os que precisam de auxílio para se locomover. Apesar da minha avó não ter problemas para andar, quando viajamos eu sempre peço esta ajuda, pois em geral as distâncias em aeroportos são grandes. Se você não solicitou o serviço antes, sempre pode pedir no balcão, na hora do check-in. Mas não esqueça de pedir, porque uma vez já esqueci e quando chegamos aos EUA a fila da imigração era quilométrica. Tentei pedir na hora, mas não deixaram e não autorizaram minha avó a usar a fila de prioridades. Ou seja, ela teve que ficar mais de uma hora na fila, de pé. Ah, muitos aeroportos também oferecem carona em carrinhos elétricos para os idosos. Peça!

6. Não se esqueça de levar os remédios

Fundamental não só para os idosos, mas para qualquer um que vai viajar, né? De qualquer maneira, a maioria dos idosos têm medicamentos de uso continuo que não podem ser deixados para trás porque depois é uma dor de cabeça… Claro que já aconteceu comigo! Minha avó esqueceu o remédio do coração que tomava uma vez que fomos para a França. Resultados: tivemos que marcar uma consulta no médico para ele receitar o mesmo medicamento e assim ela poder comprar o remédio com a receita. Uma dica boa é colocar os remédios naquelas caixinhas de plástico separadas por dia para facilitar a vida. Mas sempre leve alguns a mais. Vai que o voo de volta é cancelado, ou alguma coisa acontece. É sempre bom ter as receitas também, por garantia. E não esqueça de fazer um kit com alguns medicamentos básicos para dor de cabeça, barriga, estômago e afins. Mas consulte um médico! Ah, e tente manter os horários que ele segue quando está em casa.

Num campo de flores na Provence

7. Faça um cartãozinho com informações básicas

Como sempre é melhor prevenir do que remediar, não custa nada fazer um cartãozinho com nome, telefone de contato e nome de alguém para deixar sempre com seu companheiro de viagem “vintage”. Caso ele seja como minha avó, que nunca consegue ficar parada no lugar que a gente combina, e acabe se perdendo, ele fica calmo e você também, pois sabe que suas informações de contato estão com ele. Para quem tem mais de um celular, deixe um com ele caso vocês se separem. Outra opção é sempre combinar um ponto de encontro caso vocês se desencontrem.

8. Atenção com a hidratação

Não apenas no avião, mas durante toda a viagem. Os idosos são mais sensíveis e por isso é sempre importante mantê-los hidratados. Com o passar dos anos, a capacidade do nosso organismo de conservar a água diminui, o senso de sede fica menos aguçado e a capacidade de responder às mudanças de temperatura é menor. Ou seja, uma garrafinha de plástico sempre com água na bolsa não vai pesar muito e vai garantir o bem estar do seu idoso. Atenção redobrada no avião para tentar minimizar os efeitos de um voo longo. Uma alimentação equilibrada também é importante!

9. Calcule mais tempo para as atividades

Não adianta correr. Se você está viajando com um idoso, o tempo da sua viagem vai ser outro, não tem jeito. Portanto relaxe e faça as coisas sem pressa. Programe menos atividades em um dia ou tente colocar um passeio que exija mais com um que dê para descansar, como um passeio de barco, carro ou de ônibus, por exemplo. Nada de bater perna o dia inteiro, senão no dia seguinte é capaz de você ter de passear sozinho enquanto seu companheiro de viagem se recupera! Reserve mais tempo para chegar aos locais, especialmente aeroportos.

Descanso improvisado em outlet de Miami

10. Pare para descansar

Se o dia está sendo puxado, pare um pouco, tome um café, um suco ou apenas aproveite para ver a paisagem ou as pessoas andando de um lado para o outro. Não adianta exagerar e depois ter que voltar super cedo para o hotel porque seu idoso está esgotado, né? Uma coisa que eu sempre faço com minha avó, para tentar poupá-la é tentar jantar no próprio hotel. Pode ser no restaurante mesmo ou em muitos casos a gente compra comida em algum lugar e leva para o hotel. Assim ela já toma o banho dela, coloca o pijaminha e come tranquila. Afinal de contas, quem poupa tem, né Noli?

E você, costuma viajar com pais, avós ou amigos idosos?