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Editora Todavia mira o público deixado pela Cosac Naify

Editora criada por egressos da Companhia das Letras busca catálogo similar ao da Cosac e da 34 e já emplaca convidado na Flip 2017

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 jul 2017, 13h31 - Publicado em 22 jul 2017, 06h39

No início de abril, o belo sobrado que serviu de abrigo à revista de design Bamboo, situado em uma pequena rua entre a Aspicuelta e a Wisard, no centro boêmio da Vila Madalena, recebia os últimos ajustes de seu novo inquilino, a recém-criada Todavia. Reunidos em torno de mesas compridas que atravessam grandes salões sem divisória, egressos da Companhia das Letras como os editores André Conti, Flavio Moura e Leandro Sarmatz programavam aqueles que seriam os primeiros lançamentos da casa. Eles chegariam às lojas três meses depois: Acre (208 páginas, 44,90 reais), segundo romance da brasileira Lucrecia Zappi, O Palácio da Memória (tradução de Caetano W. Galindo, 256 páginas, 44,90 reais), livro de contos do americano Nate DiMeo, O Bulevar dos Sonhos Partidos (tradução de Maria Clara Carneiro, 160 páginas, 54,90 reais), HQ do também americano Kim Deitch, e O Vendido (tradução de Rogério Galindo, 320 páginas, 54,90 reais), romance provocativo do americano Paul Beatty, que será uma das grandes atrações da Flip deste ano, a partir da próxima quarta-feira.

O plano de fundar uma editora própria foi gestado por Conti, Moura e Sarmatz por dois anos até que, em janeiro passado, eles anunciaram o projeto a Luiz Schwarcz, dirigente da Companhia das Letras. Schwarcz, que trabalhou por anos na Brasiliense antes de criar a Companhia nos fundos de casa, reagiu bem, segundo os três editores, que receberam VEJA Meus Livros no quintal amadeirado da Todavia, entre cafés e a fumaça de cigarros, um clima de otimismo e o entusiasmo de quem desbrava.

“A gente estava preocupado porque sonhou esse dia por muito tempo e tinha medo da reação que ele poderia ter”, diz Conti, entre uma tragada e outra. “Ele ficou orgulhoso de ver gente que trabalhou com ele seguir caminho próprio. Ele disse, ‘Como eu vou penalizar vocês por algo que eu também fiz?’. Foi muito tranquilo.” No dia seguinte ao anúncio, haveria reunião editorial, quando os editores apresentam propostas de livros que leram para publicação e dão notícia daqueles de que já estão cuidando, e os três perguntou se Schwarcz gostaria que ficassem de fora. Seria natural, já que na reunião se discutiriam futuras apostas da Companhia. Luiz Schwarcz não apenas fez questão de que eles participassem, como usou a ocasião para uma espécie de homenagem. “Ele fez um discurso forte”, lembra Conti. “Foi um dia bonito.”

Dias depois, o grupo começaria a trabalhar em um espaço de coworking em Pinheiros. Além dos sócios editoriais, a Todavia conta com outros três, os ex-Companhia das Letras Ana Paula Hisayama, responsável por direitos estrangeiros, e Marcelo Levy, diretor comercial, além do novato Alfredo Setúbal, cujo pai, acionista do Itaú, é o principal investidor do negócio.

 

A meta da editora, que mira o público órfão da extinta Cosac Naify, a editora paulistana que eletrizou o meio intelectual por quase vinte anos com textos de alta qualidade embalados por um tratamento gráfico tão bom ou melhor, é alcançar um volume de cinco lançamentos por mês. Fazer quatro de uma vez, na estreia, foi uma forma de chegar com algum impacto ao mercado: até atingir a marca de cinco lançamentos mensais, a Todavia sairá com dois ao mês no restante de 2017, três por mês ao longo de 2018, quatro mensais em 2019 e, por fim, os planejados cinco em 2020, quando, esperam os sócios, ela se financiará.

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Para agosto, já estão programados Apenas um Rapaz Latino-Americano, biografia de Belchior escrita pelo jornalista Jotabê Medeiros, e o romance Laços, primeiro livro do italiano Domenico Starnone (o “marido” de Elena Ferrante, ou a própria) a sair no Brasil.

Abaixo, a conversa com André Conti, Flavio Moura e Leandro Sarmatz:

 

Vocês calcularam os riscos de criar uma editora em um momento de crise?

André Conti: Há quem diga que vamos concorrer com a Netflix e o Facebook. Mas as pessoas que estão nesses canais de entretenimento buscam narrativas. O Facebook tem uma narrativa pessoal, mas também é narrativa. As pessoas estão ali compartilhando e lendo histórias de vida. As séries são isso. A migração do filme para uma narrativa mais ampla, de cinquenta horas, que as pessoas acompanham e vivem. A nossa aposta é que as pessoas gostam de história.

Flavio Moura: A gente fez um plano de negócios bem detalhado, pesquisou bastante o mercado para saber onde está pisando. Não chegamos a contratar ninguém, tivemos assistência de pessoas próximas, amigos, que nos ajudaram a formatar o projeto. Tem um super risco, mas é o que a gente gosta de fazer, o que a gente sabe fazer (risos).

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André: É a única função social que eu tenho (risos).

A editora vai ter um catálogo similar ao da Companhia das Letras?

Flavio: A gente vai fazer um pouquinho de tudo, ficção, biografia, ensaio de ciências humanas e políticas, história, divulgação científica com qualidade literária e feita para um público não especialista. O André vai tocar quadrinhos, ele conhece muito.

André: Eu criei e editei por anos a fio o Quadrinhos na Cia., que era o meu selinho do coração.

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Flavio: Na área de ficção, tanto a brasileira como estrangeira contemporânea, e também clássicos estrangeiros e brasileiros.

André: A gente trabalha com um perfil próximo ao dos selos Companhia das Letras, Alfaguara e Objetiva, também de um pouco do que é o catálogo da Intrínseca e da Rocco. A gente achou que havia um espaço que é muito parecido com o da 34. Não é uma editora pequena, independente, que vive de livro a livro, um precisa dar certo para você fazer o outro, ou uma editora em que os autores pagam pela publicação. Também não é uma grande casa como a Companhia, que tem um selo de literatura de ultra qualidade e um selo religioso, um selo de autoajuda empresarial, um selo juvenil. Tem um espaço aí no meio que é esse lugar que a 34 ocupa, que a Cosac Naify ocupou, que é o de uma casa com produção constante. A nossa meta é chegar a cinco livros por mês, com foco no que a gente gosta e sabe fazer.

 

O fim da Cosac Naify motivou a criação da Todavia?

Flavio: Não digo motivar, mas a gente notou que havia um leitor órfão da Cosac, uma editora querida por muita gente. Mas foi algo que a gente pensou já no meio do processo de criação da Todavia, a decisão de cria-la não teve nada a ver com isso. O que tornou a coisa real foi concretizar um investidor principal, o Alfredo Setúbal.

André: Vou buscar mais cigarro.

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Flavio: Traz o Leandro, também.

(Reprodução/Divulgação)

 

A ideia, então, é prescindir de best-sellers?

Flavio: A ideia é andar com as próprias pernas e dar a atenção que a gente deseja para cada título.

André: Nossa meta é, no terceiro ano, lançar cinco livros por mês. Cinco é um número que representa ritmo e equilíbrio para manter a editora saudável, respirando. A gente investe em livro para o mercado de cauda longa, então a ideia é que daqui a três anos o fluxo de cinco lançamentos por mês, mais o catálogo acumulado da Todavia, gerem a receita de que a gente precisa. Quando eu era assistente da Maria Emília (Bender), nós fazíamos cinco livros por mês, mas havia toda a equipe da Companhia das Letras por trás, claro.

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O Flavio falou em dar atenção a cada livro e já houve quem dissesse que, depois da união com a Penguim, a Companhia das Letras assumiu um ritmo de produção industrial. Por ter um tamanho menor, a Todavia seguirá uma dinâmica diferente?

André: Fazer livro é um processo industrial. Para você tirar trinta, quarenta livros por mês, você precisa de uma grande estrutura. Você precisa de um departamento de produção, que é o que estou defendendo termos aqui, e eles vão ter de acatar (risos). Você precisa comprar papel, ver a logística da distribuição e fazer a coisa girar. Você não pode segurar um livro por muito tempo porque o papel está comprado, a gráfica está agendada. Isso é profissionalismo.

Flavio: Não adianta dizer que não é um processo industrial. A gente quer fazer uma escala legal para vender livros. Mas a Companhia das Letras foi a nossa escola.

André: E lá dentro da Companhia você não sente que está fazendo, sei lá, chinelo. De fora, de fato a Companhia parece uma coisa gigantesca. Eu trabalhei muitos anos lá e peguei essa transição de editora quase familiar a uma multinacional. Mas os selos Companhia das Letras e Alfaguara são muito bem cuidados. O Otávio, que dirige o selo Companhia das Letras, foi assistente da Maria Emília, criado lá dentro. Esse é o carro-chefe da editora, um selo literário. Então, mesmo com a impressão que possa causar por fazer livro de dieta da Jane Fonda, eles fazem livros que de fato eu estranho, o selo Companhia das Letras é super protegido, há um apreço que passa por todos os departamentos, ali só entram títulos bem escolhidos.

Capa do romance ‘Acre’, de Lucrecia Zappi (Reprodução/Divulgação)

Mas a Todavia trabalhará em um ritmo mais suave. De que forma isso afetará a edição dos livros?

Flavio: A ideia é andar com as próprias pernas e dar a atenção que a gente deseja para cada título. É uma vantagem de ser de tamanho menor, a gente poder conversar sobre cada título. Um lê e o outro também tem tempo de ler o mesmo livro, de discutir e de colocar na mesa.

Leandro Sarmatz: A gente faz uma grande reunião editorial por semana, em que apresenta as leituras feitas, alguma nova proposta de receber o texto de um determinado autor ou agente. Às vezes, eu vendo um livro em uma reunião, o Flavio pega para ler, depois a gente discute a respeito.

Flavio: A dinâmica do departamento vai em várias direções. Uma delas é avaliar o que chega pelos agentes literários. A Ana Paula, que foi da Companhia por quase 20 anos, tem uma experiência incrível nessa área e vai cuidar dela, é a nossa diretora de direitos estrangeiros. Ela foi por muitos anos às principais feiras de livros, de Londres e de Frankfurt, e tem uma rede de agentes. A gente também pode fazer livros por encomenda, quando perceber que um tema está forte.

Leandro Sarmatz: A gente convida um autor, ele faz uma pesquisa sobre o tema do livro e manda um sumário, um esqueleto. Depois, a gente refina junto o que vai entrar no livro.

 

Haverá divisão de gêneros por editor?

Flavio: Não. Como era na Companhia, a gente também não tem uma segmentação rígida. A gente tem áreas de afinidade. Eu tenho mais afinidade com não-ficção. O Leandro tem mais afinidade com poesia, com clássicos. O André, com quadrinhos e ciência. Mas tem um território comum onde todo mundo atua.

André: É complementar.

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