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‘Não acredito no sobrenatural’, diz autor do livro de terror ‘HEX’

Autor Thomas Olde Heuvelt conta que quis retratar como a sociedade trata o diferente, através da ficção

Por Mabi Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 jul 2018, 07h30 - Publicado em 1 jul 2018, 07h30
(Darkside/Reprodução)

A uma viagem de duas horas de Nova York, se esconde o pequeno vilarejo de Black Spring. A pacata rotina dos moradores, no entanto, mascara a convivência diária com uma bruxa enforcada ali no século XVII, que continua a assombrar a cidade. Uma vez por lá, a pessoa está condenada a viver para sempre à sombra de Katherine Van Wyler, ou ter sua mente invadida por pensamentos suicidas, caso tentem escapar do local. Para monitorar as aparições fantasmagóricas, a cidade criou o aplicativo HEX App, que batiza o best-seller da editora Darkside. “Através de HEX, podemos ver como a sociedade trata os elementos alheios a ela, tanto nos tempos de caça às bruxas como hoje”, explica o autor Thomas Olde Heuvelt a VEJA. O livro está sendo adaptado para uma série de TV pelos mesmos roteiristas de It: A Coisa e Annabelle.

Confira entrevista com Thomas Olde Heuvelt, autor de HEX:

O que é preciso para escrever um bom livro terror? O principal é assustar o público, claro. Sempre que recebo mensagens de leitores que contam que tiveram de dormir de luz acesa, ou que meu livro os fez ter pesadelo sinto certo prazer. Um livro de terror realmente bom consegue deixar o leitor com tanto medo que funciona mesmo depois de acabado, e o faz acreditar nos elementos fictícios, até mesmo sobrenaturais. Para mim, a maneira de fazer isso é criar identificação entre o leitor e a trama: você conhece os personagens, porque eles são exatamente como você e seus amigos, e você sabe como são os lugares, porque eles são exatamente como o seu bairro. Uma vez que eu conquisto a confiança do público, vou lá e destruo essa sensação de familiaridade, e deixo o inferno correr solto. Se for bem feito, o leitor fica viciado na trama e acredita em tudo o que você diz.

Existem dois tipos de histórias de terror: as que assustam o leitor e as que os deixam com medo. Qual das duas é HEX? Uma combinação de ambas. Em HEX, a ideia de uma bruxa parada na beira da cama noites a fio, imóvel, encarando você, serve como gatilho para leitores de todo o mundo. É uma imagem que se projeta em nosso último espaço seguro, onde todos os pesadelos deveriam terminar — nosso próprio quarto. Mas, para a maioria dos leitores, o que mais assusta em HEX é a correlação com a vida real. A história mostra como é preciso muito pouco para a sociedade se desfazer em desespero, e pergunta ao leitor como devemos nos comportar se nossas liberdades forem tomadas de nós.

Você buscou inspiração em histórias reais? Não, mas me inspirei em outras ficções. Busquei referências em obras da minha infância como As Bruxas, de Road Dahl, claro, o conto de João e Maria; e, da minha adolescência, A Bruxa de Blair. Essas histórias marcaram minha juventude e me inspiraram a querer escrever minha própria história de bruxa, uma que fosse diferente de todas as outras. Isso posto, a cidade holandesa onde se passa a trama de HEX existe de verdade, e aderiu à caçada às bruxas nos séculos XV e XVII. Então, o respaldo histórico é verdadeiro, assim como as superstições presentes no livro.

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Você fez pesquisa para o livro? Em termos de cenário sim, já que ele é tão importante para a história. No livro, a cidade acaba se tornando um personagem.  A edição original, de 2013, se passa em uma pequena cidade holandesa no meio das colinas. Quando eu estava procurando por uma correspondente americana para HEX, achei bastante apropriado usar o Hudson Valley, no Estado de Nova York, já usado como cenário por Nathaniel Hawthorne, Washington Irving, Edgar Allen Poe etc. Apesar da cidade de Black Spring ser fictícia, a localização é real, fica na Floresta Black Rock, a duas horas de Hudson e da cidade de Nova York, perto da Academia Militar de West Point. Todos esses recursos foram de grande utilidade para a história.

Existe algum paralelo entre o sociedade atual e aquela em que Katherine foi condenada? Os paralelos são inconfundíveis. Através de HEX, podemos ver como a sociedade trata os elementos alheios a ela, tanto nos tempos de caça às bruxas como hoje. Não há muita diferença. Temos assistido à crise dos refugiados na Europa, em que pessoas aparentemente decentes surtam diante da chegada de imigrantes, que fogem da guerra e da tortura. São forasteiros reais, humanos. Imagine o que aconteceria se uma entidade sobrenatural invadisse a sua cidade… as pessoas se transformariam em animais. Nós não mudamos muito nesse aspecto desde o século XVII. Este é o ponto que o livro tenta defender.

Na sua opinião, por que as pessoas gostam de ler histórias de terror? Existe algum prazer em sentir medo? As pessoas contam histórias de terror desde o começo dos tempos, isso serve a um propósito. Por que andamos de montanha russa, ou assistimos a filmes de terror? Porque, assim, podemos liberar nossos medos sem sair da zona de segurança. A realidade é assustadora, nos deixa ansiosos. Essa descarga promovida pelas histórias de terror acaba, então, fazendo bem para a nossa mente, é saudável senti-la de vez em quando. Além disso, é divertido. A primeira coisa que você ouve após uma cena de terror nos cinemas é uma risada de alívio, porque sabemos que estamos seguros, apesar do susto. Claro, como escritor, eu tento corromper essa sensação de segurança, e deixar os leitores com medo a ponto de dormirem com as luzes acesas.

Você teve alguma experiência pessoal com bruxaria? Eu, na verdade, sou bastante cético. Não acredito nas coisas sobrenaturais sobre as quais escrevo. Nunca vi uma pessoa morta voltar à vida, e odeio relatos pessoais sobre fantasmas. Se eu não estava lá, como vou saber se não foi um truque de luz, uma sombra ou uma ilusão da mente da pessoa? Por isso, fico reticente em escrever minhas experiências com o sobrenatural. Uma vez, eu realmente vi algo que não consegui explicar. Só uma vez. Mas, como você não estava lá, como vai saber que não foi um truque de luz ou uma sombra?

HEX vai ser adaptado para a televisão. O que não pode faltar para a série se manter fiel ao livro? Eu sou um dos consultores da série, mas a parte mais importante é confiar naqueles que estão adaptando o roteiro. São todos grandes nomes do terror de Hollywood — por exemplo, Gary Dauberman, o roteirista, escreveu também os roteiros de Annabelle e It: A Coisa, com base no livro de Stephen King. Então, eu confio que eles vão fazer justiça ao livro.

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Pequenos detalhes definem o que é normal na rotina dos cidadãos de Black Spring e o que não é. Como você pretende levar esses pormenores para a TV sem aborrecer os espectadores? O jeito mundano, prático com que os cidadãos de Black Spring lidam com o sobrenatural é exatamente a força do romance — e o que torna essa história tão perfeita para a televisão. Quando a bruxa surge no meio da sala de estar, os personagens, ao invés de sair correndo, colocam uma toalha sobre o rosto e leem o jornal. A justaposição da rotina dos moradores, seus medos e superstições costuram a trama. Há um mundo de personagens maravilhosos para explorar, como Grim, o cara que lidera a organização responsável por monitorar a bruxa com o HEX-App, ou o Griselada, o açougueiro que oferece um prato de patê caseiro para a bruxa todas as tardes de quarta-feira para ficar “de bem” com ela. Acho que a série, se der certo, pode ser ao mesmo tempo engraçada e muito, muito assustadora.

Você acredita que a indústria do entretenimento está mais aberta a produções não-americanas? Com certeza. Basta olhar para alguns dos recentes sucessos da Netflix, as séries Dark e The Rain, que são respectivamente da Alemanha e Dinamarca. Existem muitos exemplos de filmes e séries não-americanos que fazem sucesso mundo afora. É ótimo. HEX, no entanto, vai ser uma história bem americana, apesar do comportamento tipicamente holandês da cidade diante do sobrenatural.

Você lê algum autor brasileiro? Além de Paulo Coelho, nenhum. Sempre que estou em turnê por um país específico, procuro aprender sobre sua literatura e seus autores, e também os mitos e lendas do lugar. Fico feliz por existir a tradução, e sermos capazes de ler histórias de outras culturas.

Quais são seus próximos projetos? Eu ainda estou no meio da turnê mundial de HEX — é incrível como esse livro tem vida longa. Para promovê-lo fora do meu país natal, a Holanda, já visitei os Estados Unidos, o Reino Unido, o Brasil, a Ucrânia, a Polônia e a França, e ainda vou para a China e a República Tcheca. Eu também estou terminando meu próximo romance, que, adianto, vai tratar de possessão. Muito já foi falado sobre o tema, há sempre um demônio ou um espírito maligno que se apossa de uma pessoa, que vem a ser exorcizada por um padre. Já na minha trama, um alpinista sofrerá um acidente horrível e descerá possuído pelo espírito da montanha. Eu não sou uma pessoa religiosa, mas, sempre que estou nas montanhas, sinto que elas são como seres vivos, têm alma. Não seria ótimo ter uma força da natureza furiosa dentro de si?

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