Foi resolvido o embate entre o ilustrador gaúcho José Luiz Benicio e o músico alemão Morlockk Dilemma, que fez uso de uma pintura do brasileiro em um disco seu. “Ele foi muito cara-de-pau, mudou apenas o rosto do Eramos”, diz Benicio, que teve o trabalho realizado para o álbum Amar pra Viver ou Morrer de Amor, do tremendão Erasmo Carlos, transplantado para a capa de Circus Maximus, de Dilemma. Apesar da evidência do plágio, e de a gravadora reconhecer o delito, a questão foi solucionada de maneira simples, com a saída da capa infratora de circulação.
“Eu poderia também ter pedido uma indenização, mas a gravadora é pequena e, apesar de eu ter tudo para ganhar a causa, achei que não valeria a pena contratar um advogado e desperdiçar tempo com isso”, afirma o ilustrador, que nunca havia enfrentado um caso de apropriação indébita de seu trabalho em 58 anos de carreira. “Se fosse uma companhia de primeira linha, eu iria em frente.”
Considerado um dos maiores ilustradores do país, Benicio, 74, é o nome por trás de 3.000 capas da editora Monterrey – de alguns dos melhores títulos da pulp fiction nacional – e dos cartazes de filmes da pornochanchada e dos Trapalhões, além de clássicos como Dona Flor e seus Dois Maridos. Uma seleção da sua obra foi publicada recentemente no livro Sex & Crime – The Book Cover Art of Benicio, da recém-criada Reference Press, editora que tem a proposta de publicar livros de arte e divulgar artistas brasileiros no exterior.
“Esta obra já me era cobrada há muito tempo. Acredito que tudo tem sua hora certa para acontecer. A minha foi agora”, diz Benicio. Segundo o ilustrador, a Reference Press possui também o plano de lançar uma seleta de seus cartazes de filme, com venda pela internet.
Em ambos os casos, cartazes de cinema e capas de livro, Benicio faz uso de fotos como referência para os desenhos – ter uma modelo em pessoa é fato raro e ele nunca conheceu, por exemplo, Sonia Braga, a Dona Flor dos cinemas – e de guache como tinta.