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Gilmar Mendes e o poeta maldito

Ministro do STF ostentou erudição -- e escárnio -- ao se despedir do procurador Rodrigo Janot citando Bocage

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 ago 2018, 15h19 - Publicado em 14 set 2017, 18h27

Políticos adoram dar provas de erudição para seduzir seu eleitorado. Gilmar Mendes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) que acredita ter sido gravado por Joesley Batista na desastrada operação de delação organizada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmou sua vocação para a política — e para o escárnio — nesta quinta-feira, ao sacar um verso do português setecentista Bocage para se despedir de maneira imaginária do procurador. O mandato de Janot termina no próximo domingo, dia 17, e já na segunda-feira ele será substituído por Raquel Dodge, indicada ao cargo por Michel Temer (PMDB).

“Diria em relação ao procurador-geral Janot uma frase de Bocage: ‘Que saiba morrer quem viver não soube’”, disse Mendes ao ser questionado por jornalistas sobre como reagiria ao adeus de Janot no STF, horas antes do início da sessão em que ele era aguardado. Gilmar Mendes citou o verso final do poema “Meu ser evaporei na lida insana”, na verdade um texto escrito em primeira pessoa, em que o eu lírico (o personagem que fala, no caso) lamenta ter desperdiçado a vida arrastado por um “tropel de paixões” e “prazeres tiranos”, por culpa de sua “alma sedenta que em si não coube”.

O último verso, no entanto, é redigido em terceira pessoa e pode ser lançado como petardo, como fez Gilmar Mendes, contra um desafeto.

Meu ser evaporei na lida insana

Meu ser evaporei na lida insana
do tropel das paixões que me arrastava;
ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
em mim quase imortal a essência humana!

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De que inúmeros sóis a mente ufana
existência falaz me não dourava!
Mais eis sucumbe a natureza escrava
ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos,
esta alma, que sedenta em si não coube,
no abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus! ó Deus! quando a morte a luz me roube,
ganhe um momento o que perderam anos.
Saiba morrer o que viver não soube.

Bocage

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Considerado o maior poeta português do século XVIII e um dos principais sonetistas da literatura portuguesa, ao lado de Camões e de Antero de QuentalManuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) era um poeta neoclássico que, para alguns especialistas, antecipou o romantismo justamente por ter uma poesia de tom pessoal e individualista.

Foi também conhecido pela ousadia. Cronista satírico do clero e da nobreza, chegou a ser processado e preso pela Inquisição, o que o levou à clausura em mosteiros e à dedicação a traduções como meio de subsistência, antes de se lançar sobre textos de teor pornográfico, o que certamente não amenizou a sua fama. De lírica forte e intensa, foi também um dos grandes poetas malditos da literatura de língua portuguesa.

 

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