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A nova literatura brasileira desembarca no exterior

Entre best-sellers, autores iniciantes e outros já consagrados, literatura brasileira chega a mais de 17 países

Por Carol Carvalho
5 jun 2011, 11h41

Nem só de Jorge Amado e Paulo Coelho vive o Brasil no mercado editorial estrangeiro. Apesar dos percalços para fazer nome lá fora, que vão da barreira do idioma às diferenças culturais, a literatura brasileira dispõe hoje de nomes promissores e outros em vias de consolidação em mais de 17 países. Um número bom, dadas as dificuldades da tradução.

Há até quem possa ser considerado bem sucedido sem ter vendido sequer um exemplar lá fora. É o caso do jornalista Edney Silvestre. Ele está de contrato firmado para publicar, a partir de outubro, o seu primeiro romance, Se Eu Fechar os Olhos Agora (Record), em seis países, e em negociação para editar em outros dois. Façanha impensável para a maioria dos autores brasileiros – ainda mais em se tratando de romancistas estreantes.

Somam-se ao romancista, na linha dos novatos em mercado estrangeiro, o autor de ficção fantástica Eduardo Spohr, 34, da Record, e o ficcionista Daniel Galera, 31, da Companhia das Letras, editora que detém os direitos sobre a obra de Jorge Amado, que era o brasileiro mais publicado e vendido lá fora até a chegada do “mago” Coelho. Ambos já são vendidos em quatro países e tidos como apostas de sucesso das editoras, cada um no seu estilo.

Ao chegar ao exterior, esses calouros encontram veteranos de história recente. Para citar alguns: o escritor Bernardo Carvalho lançou Nove Noites (Companhia das Letras) em 11 países, a escritora Patrícia Melo obteve marca semelhante com Elogio da Mentira (Rocco, detentora da obra de Clarice Lispector, já presente em ao menos 20 países) e o amazonense Milton Haltoum (Companhia das Letras) já foi traduzido para 17 idiomas – ele expõe orgulhosamente na página inicial do seu site as capas dos livros tal qual foram lançadas lá fora.

Todos eles se mantêm ativos no mercado internacional por no mínimo dez anos. E têm tudo para continuar assim. Não chegam aos pés do polêmico Paulo Coelho, que entrou para o Guinness Book com O Alquimista (Planeta do Brasil), o livro mais traduzido do mundo – vertido para 69 idiomas, entre eles, os indígenas aimará e quíchua. Mas representam um avanço significativo da valorização do mercado literário brasileiro, principalmente de outros gêneros.

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Prateleira virtual de Milton Hatoum: obras traduzidas para 17 idiomas
Prateleira virtual de Milton Hatoum: obras traduzidas para 17 idiomas (VEJA)

Sem fronteira – O acolhimento em terras para além-mar chega a surpreender os próprios autores. Edney Silvestre foi um deles. Em 2009, conseguiu se livrar de um “fantasma” ao publicar o livro cujo esboço se desenhava na sua cabeça há duas décadas. Um ano depois, veio o reconhecimento com o Prêmio SP de Literatura na categoria estreante e de o Jabuti de melhor romance. Este ano, o romance já contabiliza 25.000 exemplares vendidos. “Escrevo para o leitor brasileiro, construo minha narrativa apoiado nos fatos históricos que nos formaram (e deformaram). Nunca imaginaria que editores da Sérvia ou da Holanda se interessariam.”

Aclamado por sua habilidade narrativa, o gaúcho Daniel Galera ganha espaço também no segmento das graphic novels. Além do romance Mãos de Cavalo chegar às prateleiras de quatro países europeus, seu livro em quadrinhos Cachalote, feito em parceria com Rafael Coutinho e lançado por aqui em 2010, tem contrato com a editora francesa Cambourakis.

Spohr, por sua vez, atua em um segmento distinto de todos os demais. E que só faz crescer, para a sua sorte. Embalado pela explosão recente do gênero da fantasia, devido ao sucesso de sagas como Guerra dos Tronos, do americano George R. R. Martin, o carioca sai em busca de sua fatia no mercado estrangeiro. Estreante na literatura com A Batalha do Apocalipse (Verus), que por aqui vendeu quase 1 milhão de livros, ele já ganhou espaço na Alemanha, Portugal, Turquia e Holanda, ao menos por enquanto.

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Pedras no caminho – Publicar um livro no exterior requer muito mais que talento. É necessário preencher requisitos de exigência bestial. E, mais do que isso, é preciso determinação incansável, seja por parte do agente literário ou da editora brasileira que queira promovê-lo. “Traduzimos um capítulo por nossa conta e selecionamos algumas editoras que possam estar interessadas em receber”, explica Sérgio Machado, editor da Record. Os experientes na área, como Machado, já sabem onde apostar. Os países europeus costumam ser mais receptivos – a França, principalmente, pela proximidade da língua. Mas o vasto e lucrativo mercado americano se encontra de portas fechadas, e não só para o Brasil. Poucos estrangeiros conseguem cruzar a fronteira, à exceção dos ganhadores do prêmio Nobel de Literatura – Günter Grass, José Saramago, Imre Kertész -, entre outros seletíssimos.

O caso tem uma explicação, embora controversa. “Mesmo que um editor americano esteja interessado e por dentro de determinada cultura estrangeira, outras pessoas participarão da escolha dos livros, como o diretor de vendas, o de marketing e o de publicidade, gente que provavelmente não fala uma palavra de outro idioma. Eles não vão apoiar um projeto que torne o trabalho deles mais difícil”, diz, com muita sinceridade, a alemã Agnes Krup, diretora da agência literária Sanford J. Greenburger Associates, a mais antiga empresa do ramo em Nova York, no mercado há mais de 70 anos.

Em entrevista ao site de VEJA, ela se diz perplexa ao perceber que existem pouquíssimos livros de brasileiros publicados nos Estados Unidos. Mas procura explicar a situação. “Um autor que não está por perto para participar de talk shows não consegue empolgar os vendedores de livros”, afirma. “Há muitos escritores talentosos nos EUA, e os editores preferem não correr o risco de publicar uma obra estrangeira, que, naturalmente, ainda envolve o custo da tradução.”

A tradução pode contar contra o autor também quando prejudica o seu texto. “Há muitos casos de traduções questionáveis ou inadequadas, sobretudo no passado. Minha impressão é que a qualidade está melhorando, mas há casos, como Machado de Assis, Clarice Lispector e Guimarães Rosa, em que traduções inadequadas impediram, e até hoje impedem o acesso do estrangeiro aos seus textos”, conta John Gledson, tradutor de português para inglês que tem no currículo obras de Machado de Assis, diz que alguns profissionais depõem contra os autores, principalmente os grandes clássicos brasileiros. Outro tradutor americano, Cliff Landers, é da mesma opinião.

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Oportunidade – Há uma luz no fim de 2013. Daqui a dois anos, o Brasil será destaque da Feira de Frankfurt, o maior evento internacional de livros do mundo, que acontece todo os anos em outubro. A última vez que o país esteve nesse posto privilegiado foi em 1994. Diversas editoras europeias estarão à procura de autores brasileiros para concedê-los boas oportunidades, especialmente da Alemanha, onde a feira é realizada. Talvez essa seja a grande chance de abrir uma frestinha na endinheirada porta americana.

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