Advogado não se matou no Congresso em protesto contra Temer
Notícia falsa diz que Adriano Navas, de 42 anos, protestava contra o presidente e a reforma da Previdência ao se jogar do 19º andar de prédio da Câmara
Os criadores de notícias falsas que circulam no submundo da internet nutrem o abominável costume de usar mortes como motes para suas lorotas. Foi assim quando a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva morreu, por exemplo, e assim tem sido nos últimos dias, após a morte do advogado Adriano de Rezende Naves, de 42 anos.
Naves morreu na sexta-feira passada, depois de cair do 19º andar do prédio da Câmara no Congresso Nacional, em Brasília. O trágico caso – que, ao que tudo indica, foi suicídio, de acordo com a Polícia Civil – motivou a manchete “Advogado se suicida no Congresso Nacional em protesto contra Temer”, propagada por sites como o Saúde Vida e Família, notório pela falta de credibilidade, e o Blasting News.
Depois de ponderar cinicamente que “preferimos não mencionar o nome em respeito a um pedido da família”, o texto inventa sem pudores:
“A polícia não disse se o advogado teria mesmo pulado ou se foi assassinado. No entanto, segundo relatos de testemunhas, que fizeram vídeos nas redes sociais, o homem teria feito um protesto contra o atual presidente da república, Michel Temer, do PMDB, além da reforma da previdência”.
As “testemunhas” citadas pela notícia falsa, contudo, foram inventadas. O delegado Rogério Rezende, da Polícia Civil do Distrito Federal, responsável pela investigação da morte de Naves, disse ao blog que “não existe testemunha de fato algum, as únicas testemunhas são as que acharam o corpo caído no espelho d’água [do Congresso]”.
“O que pode, talvez, ter um pouco de fundo político, é que ele estava desacreditado do país. Ele era inteligente, advogado de alto nível e estava triste com a situação econômica. Mas nada de Michel Temer, nem Dilma, nem nada”, relata o delegado.
De acordo com Rezende, a tese mais provável é mesmo a de que o advogado se suicidou, versão que poderá ser confirmada nos próximos dias, quando o Instituto de Criminalística emitir um laudo.
“Já ouvimos familiares, que disseram que ele apresentava quadro depressivo. Tomava remédios controlados e tinha suspendido a medicação por conta própria”, diz.
A Câmara dos Deputados afirma que Adriano de Rezende Naves não era funcionário da Casa e estava lá como visitante.
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