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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Wizard e a instrumentalização da fé

Teólogo Rodolfo Capler lembra que expor a fé com intenções escusas para tratar de questões de interesse público pode ser opressivo

Por Rodolfo Capler
Atualizado em 1 jul 2021, 11h10 - Publicado em 1 jul 2021, 11h01

Quarta-feira, 30 de junho. O depoente bolsonarista Carlos Wizard chega ao Senado para depor ostentando uma pequena placa com a inscrição “Isaías 41:10”, que diz “Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; eu o segurarei com a minha mão direita vitoriosa”. 

O objetivo do depoimento de Wizard era esclarecer se o suposto “gabinete paralelo”, que funcionava no Palácio do Planalto em contraposição ao Ministério da Saúde, era financiado pela iniciativa privada. Porém, ele decide ficar calado e intenta deixar o trecho bíblico falar por si…

Todavia, o tiro saiu pela culatra, pois o empresário bolsonarista, ao contrário do que afirma a passagem bíblica de Isaías, “temeu” tanto que partiu para os Estados Unidos, ao tomar ciência de que além do pedido de condução coercitiva autorizado pelo STF, acionaram a Interpol (Organização Criminal de Polícia Criminal), para achá-lo.

A atitude de Wizard não foi mera exposição de fé pública de um cidadão, mas a tentativa de manipulação de um símbolo religioso para fins políticos. Wizard jogou com os afetos religiosos da população, que é hegemonicamente cristã e que tem acompanhado a CPI como se acompanhasse o Big Brother Brasil. Verdade seja dita, Wizard reproduziu o modus operandi do bolsonarismo, que a torto e a direito, utiliza-se de emblemas que acenam para a fé cristã – como o principal lema do governo “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” -, além de citações de versículos bíblicos e uso de símbolos e ritos da fé cristã, como quando Bolsonaro foi batizado em 2016, no Rio Jordão, em Israel.

O ocorrido da última quarta-feira vai além de uma situação pontual, pois mais outros dois senadores citaram passagens bíblicas e em resposta à atitude de Wizard, alguns parlamentares o rebateram citando outras passagens do livro bíblico do profeta Isaías – como foram os casos dos senadores Randolfe Rodrigues e Eliziane Gama. 

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Categoricamente, esse evento expôs não apenas a utilização da Bíblia Sagrada e de seus mais variados sentidos interpretativos no centro do debate político da nação, mas o processo de instrumentalização da fé cristã que vem ocorrendo no Brasil há algumas décadas e com maior intensidade e inescrupulosidade pelo movimento bolsonarista. 

A instrumentalização da fé cristã, conforme afirma o teólogo croata Miroslav Volf é o processo de “coerção da fé”. Embora expor a fé em arena pública não seja atitude opressora, utilizá-la com intenções escusas para tratar de questões de interesse público pode ser, e muitas vezes é, opressor. Isso foi que Wizard fez e é o que Bolsonaro e seus seguidores vêm fazendo no Brasil.

Rodolfo Capler é pesquisador, teólogo e escritor

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