Teich precisa revelar o que tentou fazer para preservar biografia
Na reunião ministerial de 22 de abril, médico ouviu calado afirmações de Bolsonaro sobre a Covid-19. Sua saída silenciosa deixa governo na zona de conforto
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich ainda tem uma dívida com a sociedade brasileira. E também deveria fazer um movimento para defender sua trajetória na medicina. Publicamente, o oncologista apenas calou e consentiu em relação aos desmandos do governo Jair Bolsonaro sobre a pandemia da Covid-19.
Seu pedido de demissão indicou que ele discorda, como médico, do fim do isolamento social e do uso indiscriminado da cloroquina, mas isso são suposições justamente porque ele permaneceu em silêncio.
Nelson Teich deixou o governo na zona de conforto a ponto de dois ministros, Braga Netto e Luiz Ramos, terem dito que ele saiu “por decisão de foro íntimo”. Um médico não deixa o paciente sem uma informação clara de que ele pode estar correndo risco se escolher uma terapia anticientífica.
Na reunião ministerial de 22 de abril, por exemplo, Teich também ouviu em silêncio todas as intervenções de Bolsonaro, dos ministros Abraham Weintraub e Paulo Guedes, e do presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Eles fizeram afirmações relacionadas à pandemia. Teich apenas escutou.
No encontro, apurou a coluna, Teich se limitou a registrar que era sua primeira reunião ministerial e a agradecer por ocupar o cargo de ministro. Ele ouviu calado a afirmação de Bolsonaro, revelada pela coluna, de que o prefeito de Manaus seria “vagabundo” por abrir covas coletivas com o intuito de “aumentar o índice da Covid”.
Não se esperava que ele confrontasse o presidente, mas que minimamente marcasse o terreno da saúde. O silêncio dele – inclusive após a saída – só ajuda o governo e desinforma a população em meio à atual crise sanitária. É o velho princípio popular de que quem cala consente.