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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O recado de Tiradentes para o Brasil atual

Historiadora Heloisa Starling recupera as mensagens da conjuração mineira para 2021: liberdade, soberania, felicidade e República 

Por Heloisa Starling
Atualizado em 21 abr 2021, 11h39 - Publicado em 21 abr 2021, 11h22

Tiradentes era o “Corta-Vento”, dizia dele o poeta Cláudio Manuel da Costa. Vivia se movendo de um lado para o outro, conhecia os caminhos e os atalhos que recortavam o território das Minas, e não se deixava pegar com facilidade pelas autoridades portuguesas.  Ele foi o mais ativo propagandista das ideias de liberdade e república que sustentaram o projeto político da Conjuração Mineira e o grande responsável por colocá-las em circulação no interior de uma rede formada pelo entrecruzamento de diferentes grupos sociais. 

O Brasil de hoje vive uma crise sem precedentes na sua história. O presente se afigura sombrio e existe o risco real de a Democracia entrar em colapso em nosso país. Pode ser um bom momento de nos dirigirmos ao passado para compreender a nós mesmos. E então, se nos aventurarmos fundo o bastante sem que acabemos nos perdendo em alguns dos recantos mais tumultuados ou exóticos das Minas do século XVIII, quem sabe a história não esteja de todo esquecida e a voz irreprimível de Tiradentes ainda tenha algo a dizer aos brasileiros? Um punhado de palavras – liberdade, soberania, felicidade, república – desejosas de se fazerem compreender em qualquer tempo?

Quiçá o Alferes recomende aos brasileiros retomarem o passo do ponto onde a Conjuração Mineira parou – afinal, foi essa a herança que nos deixou. Só se conjura, explica Tiradentes, para tomar de volta a liberdade perdida de uma República. Decerto vai insistir: A liberdade além de um atributo do pensamento e da vontade também se manifesta no âmbito público, no espaço da palavra e da ação. Praticar a liberdade, ele talvez nos diga, significa que podemos experimentar a oportunidade de discutir uns com os outros a nossa existência pública e decidirmos o que vamos fazer em comum para o nosso bem. Por exemplo: buscar a felicidade, assegurar o valor da igualdade como direito de todos, mitigar a dor. 

Mas Tiradentes vai confirmar aquilo que já deveríamos saber por força de tudo o que estamos vivendo nos dias que correm. Sem a identificação com o outro a sociedade se degrada, perde a noção de responsabilidade mútua, o fato de que compartilhamos de um destino único. República não é só um modo de governo onde se pratica a boa gestão da coisa pública; é também um modo de vida em uma sociedade que se orienta por um conjunto de valores praticados cotidianamente pelos cidadãos: solidariedade, tolerância, compaixão. Sem isso, resta medo e tirania. Uma sociedade onde não há espaço para os valores do mundo público é apenas um aglomerado de homens e mulheres vorazes, violentos, solitários, egoístas e ressentidos. 

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Ele sabia, certamente, o que queria dizer. A dois séculos de distancia, recordar o que já foi ouvido nesses ares de Minas significa tomar posição a favor da liberdade. Tiradentes infundiu muita energia no poder e na força de algumas palavras. Nós podemos refletir sobre essas palavras, questionar e recordar – para pensar sobre o que estamos fazendo hoje. Conhecer um pouco do que foi posto pelo passado em nosso caminho significa encontrar o legado possível para um futuro ainda em aberto. E refletir sobre o brasileiro que queremos ser. 

* Historiadora e cientista política, Heloisa Starling é professora titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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