O que pode pensar o pai de uma adolescente vacinada?
Um dia depois da alegria de ver a filha vacinada preciso explicar para ela que não confie no Ministério da Saúde
Tivemos na última quarta-feira, 15, um dia de muita alegria na minha família. Minha filha mais velha, de 15 anos, foi vacinada, algo muito esperado por ela. A menina contava os dias, tentou em várias tardes ir atrás daquela sobra da vacina. Mas, finalmente, chegou o dia dos adolescentes de 15 anos. Compenetrada, ela ficou na fila com sua carteirinha de vacinação toda preenchida. A mesma que ela tem desde que nasceu. Recebeu os parabéns do resto da família, comemorou nas redes sociais.
Na quinta,16, o Ministério da Saúde surpreendeu todos nós dizendo, em nota técnica, que não recomenda a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos. E o pior, afirmou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) também não indica a cobertura vacinal desse grupo. Falou de eventos adversos.
Minha filha teve apenas muito sono, coisa normal em qualquer adolescente. Mas ficou confusa com aquelas notícias. Afinal o Ministério da Saúde mudou de ideia em apenas duas semanas a respeito da vacinação de jovens da sua idade.
Não é verdade que a OMS não indica vacina. A organização apenas defende que a vacina nessa faixa etária não é uma prioridade mundial, já que no mundo há muitos do grupo de risco que ainda não estão vacinados.
O Ministério da Saúde faz confusão deliberada. Tanto que mais tarde se corrigiu, e passou a citar a NHS, o respeitado serviço de saúde inglês. Ao longo do dia, e das entrevistas, foi ficando claro que o médico Marcelo Queiroga estava seguindo a prescrição do capitão Jair Bolsonaro.
Diante dessa informação confusa, o que pode pensar um pai de adolescente? Muitos outros pais estavam na quarta felizes com a proteção aos seu filhos, e alguns deles estão hoje intranquilos. Significa que os que tomaram vacina com essa idade podem ter algum problema?
Eu vivo no meio da comunicação e sei que não, mas outros pais, com pouco acesso à informação, podem estar nesse momento aflitos. E os jovens que aguardaram naquela imensa fila que minha filha enfrentou, de que forma estão se sentindo agora?
A live do ministro da Saúde à noite com o presidente Bolsonaro foi o horror de sempre, com mais demonstração de subserviência do ministro da Saúde ao presidente. Durante o dia, Queiroga mesmo admitira que tomara a decisão depois de cobrado pelo presidente especificamente sobre os adolescentes. Os conselhos de secretários de saúde de estados e de municípios soltaram nota conjunta criticando a decisão “unilateral e sem respaldo técnico”.
A alegria que sentia toda a família com a vacinação da nossa adolescente foi substituída ontem pela explicação dos pais e dos avós a ela sobre toda a confusão criada pelo próprio Ministério da Saúde. É uma geração que tem enfrentado cedo demais essa enorme distopia.