O jogo duplo de Hamilton Mourão
Vice-presidente tenta não se indispor com Bolsonaro, mas é clara sua discordância
O vice-presidente do país, Hamilton Mourão, está numa situação delicada. Em meio aos discursos e ao radicalismo do presidente Jair Bolsonaro, o general sempre tenta encontrar um caminho paralelo, mas sem se afastar totalmente. No dia 7 de setembro, não foi diferente.
Embora Mourão tenha aparecido ao lado de Bolsonaro no palanque da cerimônia da independência, no Twitter o general fez questão de celebrar o dia sem citar as manifestações a favor do governo.
“Em 7 Set 1822, o Brasil declarou sua Independência e cresce a cada dia, cuidando do seu bem maior: o brasileiro. Somos um país jovem e uma democracia plena, fruto das lutas dos nossos antepassados. Sigamos em frente, honrando o legado de liberdade e respeitando nosso povo”, escreveu.
Durante todo o processo de preparação das manifestações, Mourão se manteve distante. Não convocou e não deu seu apoio explícito aos atos. A participação dele no evento de ontem tem mais a ver com o seu respeito ao país e à história do que com uma validação ao comportamento de Bolsonaro.
Nesta quarta, 8, antes de embarcar para a Amazônia, o general se limitou a dizer que a manifestação foi expressiva, não quis comentar os discursos por uma “questão ética”, mas admitiu que há uma tensão entre o Executivo e o Legislativo.
“Manifestação expressiva, deixo de comentar discursos que foram feitos, porque é uma questão ética do vice-presidente. Na minha visão, existe um tensionamento entre o judiciário e o executivo”, afirmou.
Ao dizer que não vai comentar os discursos do presidente, Mourão quer evitar confrontos diretos. Nos bastidores, é nítido que o vice-presidente não concorda com a forma como Bolsonaro conduz as questões políticas e gostaria de um caminho mais moderado para resolver os atritos.
O presidente continua afastando aqueles que são de sua confiança em nome de uma guerra que ele mesmo criou. Resta saber até quando Mourão vai aguentar o jogo duplo sem se posicionar contra Bolsonaro.