Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
Continua após publicidade

O dia que poderia ter mudado a nossa sorte na pandemia

A racionalidade acontece muito raramente no governo Bolsonaro, mas nunca dura mais que 24 horas

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 jan 2021, 19h07 - Publicado em 17 jan 2021, 18h58

O dia D foi neste domingo, 17 de janeiro. A Anvisa aprovou o uso emergencial das duas vacinas – tanto a da Coronavac, do Instituto Butantan, quanto a da Astrazeneca, da Fiocruz – e o governador João Dória fez a foto da primeira pessoa vacinada. Mesmo após a histórica aplicação, a briga entre o Ministério da Saúde e o governo de São Paulo continuou. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, insinuou que pode até entrar na Justiça contra o governo paulista. Mas houve um momento em que todo esse estresse dos últimos dias poderia ter sido superado.

Era 20 de outubro de 2020, ou seja, três meses atrás, quando o Ministério da Saúde, comandado pelo soldado Pazuello, anunciou a intenção de comprar 46 milhões de doses da vacina Coronavac. O momento transmitia rara racionalidade do governo Jair Bolsonaro, gerando elogios efusivos de governadores.

“Hoje assinamos com o Butantan. (Está) assinado. Menos de 24h depois da medida provisória, nós assinamos um contrato para entrega das primeiras 46 milhões de doses até abril e de mais 54 milhões no decorrer do ano, indo a 100 milhões de doses”, afirmou Pazuello, após tratar o imunizante do laboratório chinês como a “vacina brasileira”. O ministro da Saúde ainda disse que o governo pretendia comprar o imunizante da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.

Sim, era uma esperança e tanto. Parecia até que havia baixado um pouco de sanidade e responsabilidade no governo de extremistas. Se tivesse prosseguido com o plano, o país teria apressado o processo para ter mais vacinas no Brasil, gerado mais recursos para o Instituto Butantan, com o aumento da produção. Hoje, estamos atrás de mais de 50 países que já começaram a aplicar os vacinas na população.

Continua após a publicidade

É que no dia seguinte desse acordo, em 21 de outubro, a esperança acabou. A alegria durou pouco, como de costume neste governo. O presidente Bolsonaro teve mais um daqueles surtos e disse que a “vacina chinesa de João Doria” não seria comprada pelo governo. Como um menino que perde uma queda de braço, escreveu no twitter com palavras em caixa alta: “O povo brasileiro NÃO SERÁ COBAIA DE NINGUÉM”.

Era, na verdade, um ataque à saúde pública. Bolsonaro continuou. “Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”. Depois, ao responder um internauta que dizia ter 17 anos, e que buscava “um futuro sem interferência da ditadura chinesa”, o presidente respondeu: “Não será comprada”.

A cereja do bolo veio numa vídeo gravado com o próprio Pazuello, no qual o soldadinho abaixou a cabeça após Bolsonaro desautoriza-lo publicamente. “É simples assim: um manda e o outro obedece”, disse o ministro da Saúde.

Continua após a publicidade

Bolsonaro finalmente gostou, abriu um sorriso e disse que estava “pintando um clima”. Pazuello errou ao não enfrentar o chefe quando o interesse do país era óbvio. Errou como agente público, que deve, em primeiro lugar, pensar na sociedade. Mas, como sempre lembra Bolsonaro, quem escala o time e tem a responsabilidade maior, é ele. O resto da história a gente já sabe, não é?

Na última semana, com medo da queda da sua popularidade, o presidente correu para todos os lados atrás de imunizantes, seja aparecendo de novo na porta do Butantan, e exigindo todas as vacinas por lá produzidas, seja na Índia, que negou a entrega de um lote de vacinas contra a Covid-19 da Oxford/Astrazeneca ao Brasil.

Se as horas seguintes após o anúncio daquele 20 de outubro fossem diferentes, o país não viveria essa terra de ninguém que vemos hoje. Sem vacina, sem esperança e com medo do que ocorrerá em 2021. Estaríamos, talvez, envolvidos em discussões de caráter meramente operacional. Como levar essas 46 milhões de vacinas para todos os estados brasileiros. Mais uma vez, a radicalização ideológica e personalidade perturbadora de Bolsonaro atrapalharam o país.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.