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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O culto à ignorância

Davi Lago afirma que o Brasil conseguiu uma proeza: perder investimentos multibilionários na questão ambiental mesmo sendo o país com a maior biodiversidade

Por Davi Lago
2 jul 2021, 08h57

A história revela que a exaltação do anti-intelectualismo é uma marca habitual de governos populistas, autoritários, incapazes de gerar consensos. A “Revolução Cultural” chinesa perseguiu intelectuais, os nazistas queimaram livros de ciência, teologia e filosofia na Praça da Ópera em Berlim, a ditadura comunista Khmer Vermelho transformou teatros, museus e bibliotecas em chiqueiros no Camboja. No fascismo italiano, o desprezo e a desconsideração a qualquer forma de manifestação cultural elaborada correspondiam também à própria formação dos líderes fascistas, que eram pouco instruídos e aversos ao estudo.  O teórico da comunicação Ciro Marcondes Filho afirma que em vista da incapacidade de compreender os fenômenos políticos e culturais da época, os fascistas apresentaram explicações simplistas, apelaram para as emoções das multidões, censuraram opositores e definiram o que eles consideravam “saudável” para a população.

Não é difícil entender o pragmatismo político deste culto à ignorância: quanto mais a população é desinformada, mal-informada e impossibilitada de compreender a realidade, mais fácil é manipulá-la e dominá-la. A estratégia para “fomentar a ignorância” também é conhecida: minar o discurso público atacando e desvalorizando a educação, a especialização e a linguagem. Jason Stanley explica: “é impossível haver um debate inteligente sem uma educação que dê acesso a diferentes perspectivas, sem respeito pela especialização quando se esgota o próprio conhecimento e sem uma linguagem rica o suficiente para descrever com precisão a realidade. Quando a educação, a especialização e as distinções linguísticas são solapadas, restam somente poder e identidade tribal”. O uso destes expedientes e a exaltação da truculência invariavelmente desembocam na mesquinharia do autoritarismo.

Especialmente no período contemporâneo, louvar a estultícia é temerário. Isto porque estamos entre as primeiras gerações a habitarem uma Terra com arsenais termonucleares que podem erradicar a civilização. A escala e a densidade dos problemas de um planeta com cerca de 7,6 bilhões de habitantes são maiores e mais preocupantes. O governo de sociedades complexas é incompatível com o culto à ignorância. Um exemplo disto é o analfabetismo ambiental disseminado pelo governo federal em todos os níveis. O Brasil conseguiu uma proeza: perder credibilidade política internacional e investimentos multibilionários na questão ambiental mesmo sendo o país com a maior biodiversidade do mundo. As nações socialmente mais desenvolvidas debatem exaustivamente estratégias para a economia verde, descarbonizada, desmaterializada, voltada para reduzir a quantidade necessária de materiais e energia para gerar um produto e eliminar a toxicidade dos bens de consumo. Enquanto isso, no Brasil, tínhamos até semana passada um ministro do Meio Ambiente cuja gestão permitiu o avanço do garimpo em áreas protegidas e unidades de conservação.

* Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo

 

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