O alerta americano para as manifestações de 7 de setembro
Invasão do Congresso nos Estados Unidos serve de alerta para quem flerta com violência contra as instituições no Brasil
Há alguns dias, amigos de outros Estados me perguntam “como está o clima” em Brasília às vésperas do 7 de Setembro, data para a qual o presidente da República, Jair Bolsonaro, sugere que tentará um levante contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Pouca coisa mudou em relação à semana ou ao mês passado. Desde que Bolsonaro ganhou relevância eleitoral, é comum vermos os mais diversos absurdos escritos em faixas por aí. Um rápido giro pelo centro da cidade nesta segunda-feira, 6, mostrava que vendedores ambulantes estão bem-organizados para que cada semáforo tenha um ponto de venda de bandeiras do Brasil. Alguns vendem também bandeiras de Israel. Por algum motivo, seguidores de Bolsonaro ignoram que Israel é um dos principais críticos das falas e atitudes antissemitas do presidente brasileiro.
Diversas pick-ups com placas de outros Estados circulam na região da Esplanada dos Ministérios. uma delas com um grande adesivo do cantor Sérgio Reis, que diz ter ficado doente e arrependido depois de endossar e incentivar a invasão violenta do prédio do Supremo Tribunal Federal (STF). A Esplanada já está interditada e, assim, as pessoas podem caminhar por ela sem se preocupar com o tráfego de carros. Quem circulava via várias famílias passeando juntas, sempre vestindo ou portando pelo menos uma peça verde e amarela ou com a estampa da figura do presidente.
É impossível olhar a cena e não lembrar da invasão do Congresso dos Estados Unidos, em janeiro deste ano. Há poucos dias, em 3 de setembro, um dos mais emblemáticos manifestantes que invadiram o prédio à força se declarou culpado para poder fazer um acordo em que ficará preso “só” de 41 a 51 meses. Trata-se do rapaz de 34 anos que se fantasiou de viking naquele dia. Nos EUA, ele ficou conhecido como o “Shaman QAnon”, em referência a uma teoria da conspiração comungada pela extrema direita. No mundo todo, no entanto, ele é motivo de piada.
Fora a chacota e a prisão, há um outro final possível para a massa de manobra de líderes autoritários e violentos, como é o caso de Trump e de Bolsonaro. Esse final, infelizmente, é a morte. Foi esse o caso de quatro apoiadores de Donald Trump que tentaram invadir o Congresso americano, e de um dos policiais que trabalhava para conter a invasão.
Um dia antes do chamado golpista de Bolsonaro, seus apoiadores deveriam colocar a mão na consciência e decidir se é isso mesmo que querem para si e para o país. Provavelmente não o fizeram.