Nossos mortos lotam o Maracanã
O Brasil procura medidas para dar a dimensão da tragédia que, em menos de quatro meses, ceifou mais de 70 mil vidas
Você já foi ao Maracanã? Eu já fui muitas vezes. Ele merece a aura que o cerca desde a sua inauguração há 70 anos. Como meu coração pertence ao time com a maior torcida do mundo, já presenciei muitas vezes os meus iguais se levantarem em alegria, ao mesmo tempo, para comemorar um gol, uma vitória. E senti pelo estádio inteiro, ou quase todo, a força do mesmo grito. Ja ouvi também pesados silêncios.
Com a última reforma, cabem pouco mais de 70 mil pessoas no estádio. O Brasil vem contando seus mortos desde o dia 17 de março. Oficialmente, amanheceu neste sábado, 11 de julho, com 70.524 vidas perdidas para a Covid-19. O jornalismo tem procurado comparações, mas está ficando sem medidas para dar a dimensão da tragédia.
Quando as mortes chegaram a 200 por dia, alguém disse que era como se fosse um avião caindo diariamente. Agora, são cinco aviões por dia. Quando as mortes ultrapassaram o trágico número de 61 mil, o jornal Estado de Minas comparou com o Mineirão lotado.
Se no começo de março, todos os que perdemos nesses quatro meses entrassem no estádio Mário Filho, eles lotariam seus lugares disponíveis. Frequentador assíduo do Maracanã, tento imaginar o estádio inteiro de vidas perdidas. É uma tragédia sem tamanho. E não sabemos ainda quantas vítimas serão ao fim desse doloroso tempo.