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Juíza diz que MP não aprovada no Congresso foi inserida em outro projeto

O Contrato Verde e Amarelo, revogado por não ter apoio no parlamento, teve trechos transplantados em Medida Provisória, que está para ser votada

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 Maio 2020, 18h30 - Publicado em 27 Maio 2020, 17h56

Manobras políticas usadas por parlamentares para aprovar textos em votações apressadas durante a pandemia podem representar um risco aos direitos dos trabalhadores brasileiros. É o que alerta a juíza Noemia Aparecida Garcia Porto, presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra). A magistrada chama a atenção para uma modificação feita na Medida Provisória (MP) 927/2020, que pode ser votada nesta semana pela Câmara dos Deputados.

Segundo Noemia Porto, o deputado Celso Maldaner (PMDB-SC), relator da MP 927, que cria um marco regulatório para o mercado de trabalho no período da pandemia, inseriu no texto trechos da Medida Provisória 905/2020, que instituía o Contrato Verde e Amarelo. A manobra aconteceu nesta terça-feira, 26, e mostra o interesse de Celso Maldaner, empresário e apoiador do governo, em modificar algumas regras trabalhistas.

O assim chamado Contrato Verde e Amarelo reduzia encargos trabalhistas e direitos dos trabalhadores. Por exemplo, o empregador recolheria menos para a previdência e para o FGTS do que nos contratos vigentes atualmente.  A proposta passou na Câmara, mas acabou revogada pelo presidente Jair Bolsonaro em abril, tendo em vista a clara intenção do Senado em não aprovar a MP, já que não a colocou em apreciação.

Os trechos da MP do Contrato Verde e Amarelo que foram inseridos na MP 927 oferecem riscos aos direitos dos trabalhadores, segundo alerta a juíza. A MP foi cercada de polêmicas e ficou marcada como a medida que recebeu o maior número de emendas da história. Depois aprovada na Câmara, o Senado decidiu não votar a proposta, que acabou finalmente revogada por Bolsonaro.

Em conversa com a coluna, a juíza Noemia explica que o relator Celso Maldaner introduziu algumas partes existentes na MP do Contrato Verde e Amarelo, com o objetivo de “tentar passar” o tema dentro de outra proposta. “No finalzinho do relatório ele fez um ‘copia e cola’, enxertou toda a parte rejeitada da MP 905 no final. Fez um enxerto, uma reciclagem com assuntos que não têm nada absolutamente nada a ver com pandemia”, afirma a juíza.

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Segundo a magistrada, a atitude é inconstitucional e seria uma estratégia para aprovar às cegas pontos rejeitados pelos parlamentares e que fizeram o Contrato Verde e Amarelo ser revogado. 

A juíza alerta para a aproximação entre os partidos do Centrão e o governo e aponta que, se o Centrão decidir aprovar tudo o que o governo propõe, são grandes as chances de a MP alterada passar na íntegra, inclusive com os trechos colados pelo relator.

“O nosso risco é que se o Centrão, que até então tinha adotado uma postura crítica contra alguns pontos do Contrato Verde e Amarelo, fechar questão de que qualquer coisa do governo passa. Inclusive, diminuindo e alterando os poderes da fiscalização da auditoria fiscal do trabalho no Brasil”, alerta a magistrada.

Um dos trechos inseridos na MP 927 pelo relator afirma que “além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a habitação, o vestuário ou outras prestações in natura que a empresa, por força do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado, e, em nenhuma hipótese, será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas”. O trecho está escrito exatamente como na MP 905/2020.

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Para a juíza, aprovações de projetos e MPs neste estilo vão contribuindo para a judicialização das decisões do Congresso, já que questionamentos sobre a constitucionalidade chegam ao Supremo Tribunal Federal (STF). Neste caso específico, isso fragiliza ainda mais o trabalhador, que normalmente tem pouco acesso à Justiça.

“Mas eles [parlamentares] apostam um pouco nesse caos. Você vai aprovando essas coisas e depois vai debatendo no Judiciário e no Supremo. Então é um caos da insegurança jurídica que desfavorece quem tem menos condição, que são os trabalhadores com dificuldade de acesso à justiça, os próprios sindicatos que estão enfraquecidos, favorecendo evidentemente os setores econômicos que têm mais poder de discussão judicial. Eles têm mais fôlego pra isso”.

Procurado pela coluna, o deputado Celso Maldaner, afirmou que irá rever todas as alterações que realizou no relatório e que vai retirar do texto o trecho que afirma que está inserido “no salário, para todos os efeitos legais, a habitação, o vestuário”. Destacou também que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou nesta quarta-feira, 27, que não aceitará mais matérias estranhas em medidas provisórias, isto é, textos que fogem do cerne principal tratado pela proposta legislativa.

O relator disse ainda que todos os direitos dos trabalhadores estão assegurados pela Constituição. “O direitos dos trabalhadores estão assegurados pela Constituição Federal e medida provisória não pode mexer em direitos trabalhistas que estão assegurados na Constituição Federal. Nenhum direito de trabalhador está sendo tirado”, destacou.

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