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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Guedes: a crônica de uma queda anunciada

Fritura do chefe da Economia segue o mesmo roteiro de muitas saídas de ministros. Com a aliança entre militares e o Centrão, o liberal está ficando sozinho

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 ago 2020, 20h16 - Publicado em 13 ago 2020, 19h17

Os acontecimentos dos últimos dias, a sequência de declarações, as divergências governamentais, as decisões que contrariam a autoridade em questão e as especulações sobre substitutos fomentadas por assessores presidenciais fazem parte de um enredo muito conhecido dos velhos observadores da vida política nacional.

Com licença de Gabriel Garcia Marques, não passa de mais uma crônica da morte anunciada. A morte, no caso, é a provável queda do ministro Paulo Guedes. O fecho final do enredo tão conhecido de Brasília é a encenação, pouco criativa, de apoio feita pelo presidente Jair Bolsonaro à austeridade fiscal.

As movimentações recentes na equipe econômica do governo podem indicar mais do que um desconforto dos integrantes com a forma como a agenda econômica tem sido tratada.

As saídas de importantes aliados do ministro Paulo Guedes mostram um desgaste na pauta liberal amplamente defendida por Guedes antes da eleição de Bolsonaro, e podem terminar com a queda de um dos principais pilares de sustentação do governo.

A estratégia usada pelo presidente de fazer um pronunciamento nesta quarta-feira, 12, para reafirmar seu compromisso com as reformas, com as privatizações e com a responsabilidade fiscal no país, já foi utilizada no passado para tentar acalmar os ânimos e passar uma imagem positiva a respeito das iniciativas do governo.

No mesmo dia, antes do pronunciamento do presidente, o mercado financeiro reagiu à “debandada”, como Guedes chamou a saída de Salim Mattar e Paulo Uebel, e o dólar subiu, forçando o Banco Central a intervir para segurar a alta da moeda.

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Ao aparecer ao lado de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre após a saída de dois importantes secretários do Ministério da Economia, Bolsonaro falou em teto fiscal, reformas e privatizações, assuntos que teriam sido determinantes para os últimos pedidos de demissão.

Apesar da tentativa de Bolsonaro, nos bastidores a percepção é de que o ministro Paulo Guedes está enfraquecido e vê sua agenda ficando de lado. Esses acontecimentos lembram um passado não muito distante, no qual importantes ministros da Fazenda se cansaram das “frituras” e das derrotas e deixaram seus cargos.

Em 2015, por exemplo, Joaquim Levy deixou o posto de ministro da Fazenda depois de ocupá-lo por 11 meses no governo Dilma Rousseff. Na época, Levy sofreu derrotas seguidas em sua tentativa de promover um ajuste fiscal e acabou deixando o cargo. Um dos momentos determinantes para a saída o ministro foi a decisão de Dilma de reduzir a meta do superávit primário para 0,5% do PIB em 2016, contrariando abertamente a orientação de Levy.

Da mesma forma, Paulo Guedes já viu ideias importantes de sua gestão serem contrariadas pelo presidente Jair Bolsonaro, a exemplo de privatizações que não aconteceram até o momento e que são defendidas abertamente pelo ministro da Economia. Em outro exemplo, Bolsonaro contrariou abertamente Guedes ao negar a possibilidade de criar o chamado “imposto do pecado” sobre bebidas açucaradas, álcool e cigarro.

A “debandada” anunciada pelo ministro da Economia nesta semana começou, na verdade, há alguns meses, com a saída de nomes importantes da equipe econômica. Em setembro do ano passado, Marcos Cintra deixou o cargo de secretário especial da Receita Federal. Alguns meses depois, em entrevista à VEJA, Cintra criticou a postura de Bolsonaro em relação à criação de uma “nova CPMF”.

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Antes, a equipe teve uma saída relevante: Joaquim Levy, o ministro fritado por Dilma, anunciou que deixaria o posto de presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Recentemente, Mansueto Almeida deixou o cargo de Secretário do Tesouro Nacional.

Em julho, mais duas baixas importantes: Rubem Novaes, então presidente do Banco do Brasil, entregou carta de renúncia, e Caio Megale, diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda também anunciou sua saída.

Por fim, nesta semana, Salim Mattar pediu demissão do cargo de secretário especial de Desestatização e Privatização e Paulo Uebel anunciou que deixaria o posto de secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital.

É muito provável que mais dia menos dia o ministro Paulo Guedes se canse. As tramas vão continuar, volta e meia um fogo amigo vai acontecer. Chama a atenção as manobras dos ministros militares contra o ministro da Economia e a favor da reeleição de Bolsonaro. 

Os que conhecem Paulo Guedes dizem que ele parece ter pavio curto. Por ter enorme admiração pelo presidente, contudo, costuma explicar aos seus assessores, quando reclamam dos sapos que ele engole, que Bolsonaro é que tem os votos. Portanto, ele é quem decide. 

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Guedes sempre teve o sonho de estar no cargo em que está. Com tudo isso, sua paciência não é infinita. Para o mercado financeiro e uma parte do mundo econômico, o ministro da Economia hoje encarna, digamos, a defesa do bem contra os gastadores do mal. Em breve ele entenderá que a nova fase da gestão Bolsonaro, que uniu os militares e o Centrão, não o quer mais. Poderá ser a hora de jogar a toalha.

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